Rodolfo Tavares, presidente da Comissão Nacional de Relações do Trabalho e Previdência Social da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), está na Destilaria Gameleira, em Confresa (MT), contestando a libertação de mais de 1.200 trabalhadores (leia matéria "1.200 escravos são libertados em usina no Mato Grosso"). O grupo móvel de fiscalização, composto por auditores do Ministério do Trabalho e Emprego, procuradores do Trabalho e policiais federais está há mais de duas semanas na usina, negociando com os proprietários para possibilitar a saída dessas pessoas com o devido pagamento. Cerca de cinco ônibus transportando trabalhadores já saíram da fazenda. Tavares, que também é representante da CNA na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), afirma não ter encontrado indícios de escravidão no local.
Ele não é o primeiro a fazer lobby em prol dessa empresa, que já teve Severino Cavalcanti (PP-PE) entre os ilustres defensores (leia matéria "Severino faz lobby por empresa flagrada com escravos"). Segundo o presidente da Câmara dos Deputados, ele teria isso a pedido de outros deputados federais. Cavalcanti é conterrâneo do dono da Gameleira, Eduardo de Queiroz Monteiro – irmão de Armando de Queiroz Monteiro, deputado federal pelo PTB-PE e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A nova libertação na Gameleira trouxe também a demissão do jornalista Cícero Belmar, até então editor-executivo do Jornal do Commercio, de Recife, cujo proprietário seria amigo de Eduardo de Queiroz Monteiro. Na última sexta-feira (01), entidades da sociedade civil protestaram contra este ato, pedindo liberdade de imprensa (leia matérias "Jornalista é demitido por matéria sobre trabalho escravo" e "Jornalistas protestam contra demissão em jornal de PE").
Entidades de trabalhadores na agricultura foram informadas da presença da CNA na Destilaria Gameleira e pretendem também enviar um representante para acompanhar a situação. Fontes informaram à Agência Carta Maior que o representante da CNA, em uma tentativa de intimidação do grupo móvel de fiscalização, estaria incitando a população da cidade contra o governo e a favor da Gameleira. A reportagem da Agência Carta Maior entrou em contato com a CNA nesta terça-feira, mas não obteve nenhum retorno da Confederação até a edição desta matéria.
Inocêncio Oliveira
Está na pauta desta quarta-feira (05) do Tribunal Regional do Trabalho do Maranhão o julgamento de um recurso do deputado federal Inocêncio Oliveira contra uma condenação por trabalho escravo. O deputado já foi condenado em primeira instância em uma ação civil coletiva (cujo recurso também está tramitando no TRT-MA) e pela ação civil pública que será julgada nesta quarta.
Em março de 2002, 54 trabalhadores foram resgatados da fazenda Caraíbas, de Inocêncio (ex-PFL, hoje PMDB-PE), localizada em Gonçalves Dias, no Maranhão. Na ação, a propriedade pagou R$ 30.586,47 de direitos devidos aos trabalhadores. Meses depois, ele vendeu a propriedade, mas isso não o livrou de constar na “lista suja” do trabalho escravo. Com isso, está impedido de receber créditos rurais dos fundos constitucionais do governo e financiamento do Banco do Brasil.
Espera também a decisão sobre a abertura de um inquérito contra ele no Supremo Tribunal Federal, pela mesma razão. O pedido foi feito pelo ex-procurador geral da República, Cláudio Fonteles.