Morre, aos 93 anos, Apolônio de Carvalho, o herói das três pátrias

Militante de esquerda e combatente internacionalista, Apolônio de Carvalho morreu nesta sexta (23), aos 93 anos, vítima de insuficiência respiratória. Lutou na Guerra Civil Espanhola, na Resistência Francesa, enfrentou ditaduras no Brasil e ajudou a fundar o PT
Por Marcel Gomes
 23/09/2005

A esquerda brasileira está de luto. Apolonio de Carvalho morreu às 18h30 desta sexta-feira (23), no Rio de Janeiro, vítima de insuficiência respiratória provocada por uma infecção respiratória. Um dos mais importantes militantes da esquerda no Brasil, Apolônio estava internado desde a tarde do dia 21 na Unidade de Tratamento Semi-Intensivo do Hospital Casa de Portugal, no Rio Comprido. Segundo informações do hospital, ele permaneceu lúcido praticamente até o fim, após ter uma nova crise respiratória por volta das 17 horas. Estava acompanhado da família: sua mulher Renée e os filhos René-Louis e Raul.

Tentar resumir a vida política de Apolônio em poucas linhas é simplesmente impossível. O máximo que se pode conseguir é um índice sobre ela. Comunista, Apolônio de Carvalho lutou na Guerra Civil Espanhola e na Resistência francesa contra a ocupação nazista. No Brasil, lutou contra as ditaduras de Getúlio Vargas (1937-1945) e a dos militares (1964-1984). Preso e enviado ao exílio em 1970, em troca da libertação do embaixador alemão, que havia sido seqüestrado por guerrilheiros, voltou com a Anistia e ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT).

Uma vida em luta
Apolônio atravessou o século XX lutando pelas idéias que acreditava. E foi um exemplo de militante internacionalista. Em 1935, foi preso como membro da Aliança Nacional Libertadora (ANL), vivendo, com centenas de outros presos políticos, o drama retratado por Graciliano Ramos, no livro “Memórias do Cárcere”. Expulso do Exército pela ditadura Vargas, foi voluntário das Brigadas Internacionais que lutaram ao lado dos republicanos contra os fascistas na Guerra Civil espanhola. Depois foi combater na Resistência Francesa. Em dezembro de 1946, de volta ao Brasil, participou ativamente da vida política do País.

Preso e torturado pelo Regime Militar de 1970, foi banido em junho do mesmo ano, juntamente com outros presos políticos, em decorrência do seqüestro do embaixador da Alemanha. Em outubro de 1979 retornou ao Brasil, sob a proteção da Lei de Anistia daquele ano. Em fevereiro de 1980 participou da fundação do PT.

Há 50 anos, sua bravura foi reconhecida pela França, onde é considerado herói nacional. Apolônio foi chamado pelo escritor Jorge Amado de “um herói de três pátrias”. Foi casado mais de 50 anos com a francesa Reneè France e teve dois filhos, René Louis e Raul, que permaneceram com ele até seu último suspiro.

O filho mais velho de Apolonio de Carvalho, René de Carvalho, disse que o pai será cremado no Crematório do Caju no domingo. Disse também que o velório deverá ser realizado na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.

Um “otimista incorrigível”
Em nota divulgada pelo Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que recebeu com “enorme tristeza a notícia da morte do “querido amigo e companheiro Apolônio de Carvalho”. Lula diz que a vida de Apolônio mostrou que vale a pena enfrentar a batalha pela igualdade e pela justiça social “em qualquer tempo e em qualquer lugar do mundo”.

O presidente acrescenta que Apolônio era uma “otimista irreversível” e que lhe ensinou que “a perseverança e a honestidade de propósito serão sempre recompensadas”. Na nota, Lula classifica Apolônio como um dos maiores exemplos de bravura, coragem e coerência da história brasileira.

Da Agência Carta Maior

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