O cerco aos escravocratas está apertando. Em sua quinta edição, a lista suja do trabalho escravo, divulgada na semana passada pelo Ministério do Trabalho, traz mais de 150 nomes de fazendeiros flagrados explorando seus empregados de maneira degradante. Um dos mais ilustres integrantes da lista é Beto Mansur, que era prefeito da cidade de Santos quando teve 46 de seus funcionários libertados de suas terras no interior de Goiás. Os bóias-frias dormiam no chão, pagavam por sua comida e pelas ferramentas de trabalho e adoeciam sem receber cuidados médicos. Em represália a práticas como a escravidão por dívida, adotada na fazenda do político, nenhum dos nomes "sujos" poderá receber crédito de instituições públicas nos próximos dois anos. Só o Banco do Brasil já virou as costas para mais de 60 pedidos de integrantes da lista, além dos apelos negados pelo BNDES, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia.
Além do cerco pelo crédito, a cadeia produtiva do trabalho escravo serve para ajudar, desde maio, empresas e instituições a identificar os fornecedores escravocratas – e bani-los. Desde que os produtos dessas fazendas tiveram seu caminho até o consumidor mapeado, cada vez mais empresários como Mansur dão de cara com portas fechadas. "Grupos como o Pão de Açúcar e Coteminas se comprometeram a adotar restrições comerciais aos fornecedores. Quem tem o nome na lista já sente prejuízo", diz Leonardo Sakamoto, da ONG Repórter Brasil.
Mesmo estando na mira, muitos fazendeiros persistem no regime escravocrata. Dias antes da data em que sairia da lista, a fazenda da família do empresário Sebastião Douglas Xavier foi flagrada pela terceira vez com mão-de-obra em condições degradantes. A propriedade de Xavier – dono do grupo de frigoríficos Quatro Marcos, que exporta para Europa, América, África e Ásia – ficará fichada pelos próximos dois anos.
Para casos como o da Quatro Marcos, porém, só pressões externas parecem surtir efeito. E elas estão a caminho. Já há empresas e bancos europeus consultando a lista suja antes de liberar crédito e fechar negócios com o Brasil. Um exemplo é a resposta de entidades européias à postura assumida pela exportadora de soja Amaggi. Alvo de ONGs nacionais por expandir suas plantações em solo amazônico, a imagem da empresa que tem como sócio o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, pode se complicar ainda mais no plano internacional. No início do mês de novembro, a International Finance Corporation, braço do Banco Mundial, recebeu documento de ONGs européias com o pedido de suspensão de financiamentos à empresa brasileira. Um dos argumentos é que a exportadora admitiu ter, entre seus fornecedores, duas fazendas das quais haviam sido libertados 84 escravos.