Relatório aponta 113 incidentes com transgênicos em todo mundo em 10 anos

Estudo realizado pelo Greenpeace e a organização GeneWatch enumera ocorrências mundiais de contaminação, liberações ilegais e relatos negativos dos organismos geneticamente modificados na agricultura em 10 anos de plantio
Por Natália Suzuki
 13/03/2006

Desde 1996, quando os transgênicos passaram a ser cultivados em larga escala, foram registrados 88 casos de contaminação, 17 liberações ilegais e mais oito relatos de efeitos negativos dos organismos geneticamente modificados (OGMs) na agricultura. Os dados são do relatório da organização não-govenamental Greenpeace, produzido em parceira com a ONG britânica GeneWatch. O relatório foi divulgado oficialmente nesta segunda-feira (13), primeiro dia do 3º Encontro das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP-3, sigla em inglês), que acontece em Curitiba até o próximo dia 17.

Atualmente, no mundo todo, 21 países plantam transgênicos. Mas segundo o relatório, 39 nações foram afetadas por algum incidente com os OGMs, sinalizando que a contaminação avança as fronteiras geográficas e legais que cerceiam o plantio e a comercialização desses produtos.

O Estados Unidos, maior plantador de transgênicos do mundo, foi o país que mais teve problemas desse tipo, acumulando 19 ocorrências. O Reino Unido ocupa o segundo lugar, apresentando dez casos, apesar de possuir um sistema rígido de controle. Apenas em 2005, a Europa e 11 países – EUA, Austrália, Brasil, Alemanha, Nova Zelândia, Japão, Romênia, Índia, Irlanda, China e Sérvia – foram vítimas de contaminação.

Mais de 90% dos casos de contaminação descritos pelo relatório se referem aos quatro maiores cultivos transgênicos comerciais: milho, soja, canola e algodão. Estudos mostram que ela pode ocorrer em todos os estágios do desenvolvimento dos OGMs, seja na sua fase de testes laboratoriais, cultivo no campo ou no produto alimentício final. O relatório do Greenpeace aponta a má identificação, fracos controles e a ignorância dos laboratórios como responsávies por esses acidentes genéticos. As causas de contaminação transgênica foram de sementes, alimentos e ração animal. No caso dos alimentos, sete casos eram produções destinadas à ajuda humanitária na América Central e do Sul.

De acordo com Benedikt Haerlin, especilista em agricultura do Greenpeace Internacional, é muito difícil remover os transgênicos das cadeias de produção e alimentar quando eles caem ali acidentalmente. Na Tailândia, por exemplo, onde a produção de mamão estava contaminada, o problema levou um ano para ser resolvido após ser descoberto em 2004.

Diante do risco de a contaminação atravessar fronteiras, principalmente por meio da exportação agrícola, Sérgio Leitão, diretor de políticas públicas do Greenpeace, defende que a posição do governo brasileiro em assumir a defesa de rotular os produtos transgênicos como “contêm transgênico”, ao invés do “pode conter transgênicos”, é essencial. “Não é mera briga de palavras. Jogos semânticos escondem intenções. É preciso que o governo adote sem adiamento o início da rotulagem”, afirma, contrariando exemplos como o da Argentina – segundo produtor de OGMs -, que estabeleceu um período de dois anos de transição para rotular seus produtos.

Leitão ressalta que optar pelo “pode conter transgênicos” é optar pelo “não fazer nada”. Segundo o diretor do Greenpeace, é nesse contexto que o Brasil vai se posicionar se atuará em defesa da biodiversidade ou dos interesses das grandes empresas de biotecnologia.

“Quando se fala em contaminação, “algo está em algum lugar, onde não deveria estar, e os OGMs não deveriam estar na nossa comida”, afirma Haerlin.

Definições
Contaminação: descoberta de alimentos, rações animais ou de uma espécie selvagem relacionada que contenha material geneticamente modificado não-intencional de uma lavoura transgênica ou de outro organismo, confirmado por evidências e testes de laboratório de que a contaminação tenha ocorrido.

Liberações ilegais: são ocorrências de plantio não-autorizado ou outro tipo de liberação no meio ambiente ou na cadeia de alimentos, em casos em que não for reconhecido oficialmente o descumprimento das regras sobre a liberação de OGMs.

Feitos negativos na agricultura: quando houver relato na literatura científica de que OGMs foram responsáveis por problemas agrícolas.

Fonte: Relatório sobre o Registro de Contaminação Transgênica 2005

Da Agência Carta Maior

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