Em menos de três meses a polícia federal prende quatro fugitivos acusados de assassinatos no campo no estado do Pará
Cansados do desinteresse e despreparo da Polícia Civil do Pará, os representantes dos movimentos sociais e das entidades de direitos humanos, recorreram ao Ministro da Justiça para exigir que a Polícia Federal assumisse a responsabilidade de capturar fazendeiros e pistoleiros acusados de crimes contra trabalhadores rurais no Estado, que estão com prisão decretada e foragidos. Uma relação de 30(trinta) mandados de prisão foi entregue ao Ministro Márcio Tomás Bastos no ano passado, e ele se comprometeu a colocar a Polícia Federal no caso. Somou-se à pressão das entidades e dos movimentos, o empenho do predidente do Tribunal de Justiça do Pará, desembargador Milton Nobre, e dos novos juízes que assumiram os processos, dentre eles, Ricardo Felício Skaff e Líbio Moura da comarca de Marabá.
Esta mesma articulação foi feita com Ministros da Justiça dos governos anteriores, mas sem muito sucesso, apenas o fazendeiro Jerônimo Alves de Amorim foi capturado em novembro de 1999, em Cancum no México, em função de fortes pressões internacionais.
Em menos de três meses, o resultado da ação da PF foi impressionante conseguindo prender quatro fugitivos acusados de crimes bárbaros na região.
1 – Marlon Lopes Pidde, fazendeiro, acusado de ter coordenado a chacina de 5(cinco) trabalhadores rurais na fazenda Princesa, município de Marabá, em setembro de 1985. Os trabalhadores foram atraídos para a sede da fazenda com a falsa notícia de que uma juíza os aguardava para fazer um acordo com o fazendeiro. Na sede da fazenda os trabalhadores foram humilhados, torturados, assassinados e jogados no rio Itacaiúnas amarrados uns aos outros, com pesadas pedras nas pontas das cordas para que afundassem. Dias após, os corpos foram localizados. O fazendeiro Marlon coordenou toda a ação criminosa atuando junto com vários pistoleiros. A chacina teve grande repercussão. Em outubro do mesmo ano a prisão do fazendeiro foi decretada, mas ele nunca foi preso. No dia 14/03/2006, 21(vinte e um) anos após o crime, a PF o prendeu em São Paulo. Marlon foi interrogado no último dia 02 de maio, pelo Dr. Ricardo Scaff, juiz da 4ª Vara penal da Comarca de Marabá, em Santa Izabel do Pará, onde se encontra preso.
2 – Manoel Cardoso, fazendeiro acusado de ser o mandante do assassinato do advogado Gabriel Sales Pimenta, crime ocorrido em Marabá, em 1982. Nelito é irmão do ex-governador de Minas Gerais, Newton Cardoso. À época do crime Nelito tentava se apropriar das terras do Castanhal Pau Seco, no município de Marabá, ocupado por mais de 100(cem) famílias. O fazendeiro conseguiu um mandado liminar e a Polícia Militar despejou todas as famílias. Inconformado com a ilegalidade da decisão, Gabriel Pimenta ingressou com um Mandado de Segurança no Tribunal de Justiça do Estado do Pará e conseguiu cassar a decisão da juíza. O mesmo batalhão da Polícia Militar que expulsou as famílias teve que recolocá-las no mesmo local. Uma vitória inédita, mas que custou a vida de Gabriel. Em 18/07/1982 ele foi assassinado no centro de Marabá. Nelito chegou a ser preso mas foi posto em liberdade imediatamente. Após longos anos na gaveta de sucessivos juízes, o júri foi marcado para 23/05/2002, mas o fazendeiro não compareceu. Sua prisão foi então decretada naquela ocasião. Novo júri foi marcado para 15/02/2006, e mais uma vez não ocorreu por ausência do réu. No dia 02/04/2006, 23(vinte e três) anos após o crime, a Polícia Federal (PF) o prendeu na fazenda de seu irmão Newton Cardoso, no interior de Minas Gerais. Nelito encontra-se preso em uma penitenciária em Belém, aguardando nova data para ser levado a júri.
3 – Domício de Sousa, o Raul – acusado de ser um dos intermediários do assassinato do Sindicalista José Dutra da Costa, o Dezinho. Crime ocorrido em Rondon do Pará, em 21 de novembro de 2000. Além da acusação de ter intermediado o crime, Raul era o proprietário da arma utilizada pelo pistoleiro para assassinar o sindicalista. Estava foragido desde a época do crime. Foi preso pela PF em meados de abril de 2006, no estado de Sergipe. Encontra-se preso na penitenciária de Santa Isabel, aguardando ser interrogado pelo Juiz de Rondon do Pará.
4 – José Serafim, pistoleiro condenado a 25(vinte e cinco) anos de prisão por ter assassinado, em 02 de fevereiro de 1991, o sindicalista Expedito Ribeiro de Souza em Rio Maria. Barrerito cumpriu 08 (oito) anos da pena e, na véspera do julgamento do fazendeiro Jerônimo Alves de Amorim, mandante do crime, teve sua fuga facilitada da penitenciária Mariano Antunes, em Marabá. Desde março de 2000, Barreirito encontrava-se foragido. Foi preso pela INTERPOL, em 25 de abril de 2006 na cidade de Boston, nos Estados Unidos, para onde tinha imigrado ilegalmente. Já foi transferido para o Brasil onde será
novamente recolhido à prisão.
Consideramos a ação da Polícia Federal um passo importante no combate à impunidade que há décadas tem prevalecido em relação aos crimes praticados no campo paraense. Esperamos que a operação de captura de foragidos da justiça seja continuada e que todos os mandados de prisão contra mandantes e pistoleiros sejam cumpridos, especialmente e com urgência aqueles contra Adilson Laranjeira Carvalho e Vantuir Gonçalves de Paula, mandantes do assassinato do sindicalista de Rio Maria, João Canuto de Oliveira, condenados, cada um, a 19 (dezenove) anos e 6 (seis) meses de reclusão e do pistoleiro Ubiratan Ubirajara, condenado a 50 (cinqüenta) anos de prisão pelo assassinato de dois filhos de João Canuto.
Marabá, 03 de maio de 2006.
Comissão Pastoral da Terra – CPT Marabá/Xinguara.
Comitê Rio Maria.
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos.
Sales, o Barreirito – Neto, o Nelito