De acordo com levantamento da Organização Internacional do Trabalho, houve um aumento considerável da inserção do tema "trabalho escravo" na imprensa nos útimos anos. Em 2002, o assunto apareceu na mídia em 260 matérias. Em 2003, o número saltou para 1541 e, em 2004, 1518.
O Trabalho de Conclusão de Curso "Muito além da notícia: a influência e o papel da imprensa no combate ao trabalho escravo no Brasil contemporâneo", defendido em dezembro de 2005 e publicado nesta semana na Repórter Brasil, aponta que essa aumento não é apenas quantitativo e a mídia tem impacto direto no combate ao trabalho escravo, tanto no sentido de conscientizar para o problema quanto de defender os agentes que lutam para erradicar essa prática.
A autora do estudo, a jornalista Maria Paola Jacon de Salvo partiu de pesquisas de opinião e entrevistas com 11 instituições, entre movimentos sociais e governo, que apontaram quais matérias, colunistas, veículos e repórteres mais contribuíram para o combate ao problema. Também foi realizado um bate-papo com jornalistas e representantes de veículos que assumiram a luta contra a escravidão como bandeira.
Cinco casos emblemáticos exemplificam as possibilidades de interação entre mídia, sociedade e governo. Um deles é o da revista "Observatório Social", que em outubro de 2004 publicou uma reportagem denunciando trabalho escravo nas carvoarias do Maranhão. A reportagem repercutiu,chamando à responsabilidade as grandes siderúrgicas da região, compradoras da produção de carvão vegetal. A matéria foi o estopim para a fundação do Instituto Carvão Cidadão, que hoje é responsável por fiscalizar as próprias siderúrgicas e seus fornecedores e alertar irregularidades, fazendo um trabalho de prevenção, complementar às fiscalizações do Ministério do Trabalho e Emprego. Outro exemplo é a Rádio Nacional da Amazônia, que causou um impacto no combate ao trabalho escravo no Pará.
"A mídia é também importante para proteger fiscais e agentes da Justiça: uma matéria sobre a perseguição de juízes ameaçados levou a um aumento da proteção deles por parte do estado", lembra Paola de Salvo, formada pelo departamento de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
As conversas com representantes da mídia engajados no combate ao trabalho escravo lançam novas possibilidades e reflexões sobre o papel da imprensa em questões sociais, mostrando que o papel de comunicador pode ir além da divulgação de notícias.