Em barracos de lona preta, sustentados por arbustos, o grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego encontrou no último sábado (20) 16 trabalhadores em condições análogas à de escravo. Eles trabalhavam no desmatamento de 144 hectares de floresta para uma propriedade conhecida na região como Gleba Maguari, de Djalma Nogueira dos Anjos, localizada no município de São Félix do Xingu (PA). Entre as pessoas resgatadas estavam três mulheres e um jovem de 17 anos. A fiscalização levou mais tempo para realizar a libertação devido à dificuldade de acesso ao local.
Segundo o coordenador da ação, o auditor fiscal Dercides Pires da Silva, os trabalhadores começaram o serviço em março deste ano. Eles foram aliciados em regiões próximas e receberam adiantamentos antes de enfrentar 10 horas de barco até chegar à área de desmate, à beira do rio Xingu. "O trabalhador combinava um preço e quando chegava lá o salário era muito inferior. Mas não podia ir embora porque já estava devendo", conta o auditor.
A fazenda também usava sua cantina para endividar os trabalhadores, Lá eram vendidos alimentos e outros produtos acima do preço de mercado, o que criava uma dívida fraudulenta, além de ferramentas de trabalho e equipamentos de proteção individual – que deveriam ser fornecidos gratuitamente pelo empregador. "A botina custava entre 30 e 35 reais, sendo que no comércio o preço era de 14 reais", detalha Dercides.
Na madrugada anterior à fiscalização, os administradores da fazenda ficaram sabendo da chegada do grupo móvel e tentaram retirar os trabalhadores do local. Ninguém sabe como a informação chegou a eles, já que as operações são envoltas em sigilo. Quando os auditores chegaram, parte das pessoas já havia sido removida para o município de Tucumã (PA), a cerca de 180 km da sede de São Félix do Xingu.
O total de encargos trabalhistas a serem pagos soma aproximadamente R$ 33 mil. Ninguém foi preso na operação.