Quarenta e três trabalhadores escravos são resgatados no Pará

Fazenda Mundo Verde, em Tomé-Açu, mantinha trabalhadores em condições análogas à escravidão, entre eles dois adolescentes de 15 anos. Três pessoas foram presas por porte ilegal de armas. Indenização chega a R$ 140 mil
Por Iberê Thenório
 12/05/2006

Às vésperas da Lei Áurea completar 118 anos, 43 trabalhadores que se encontravam em condições análogas à escravidão foram libertados em fiscalização da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) do Pará. Entre os resgatados nesta semana estavam dois adolescentes de 15 anos. Todos faziam serviço para a fazenda de gado Mundo Verde, localizada no município de Tomé-Açu (região Nordeste do Pará), a cerca de 90 km do centro do municípío.

A propriedade pertence a Armando Pereira de Carvalho dos Santos que, segundo a equipe de fiscalização, também é dono de frigoríficos nos municípios de Castanhal e Marabá, no Pará. Durante a ação, foram apreendidos seis rifles calibre 22 e um revólver 38 e presas três pessoas por porte ilegal de armas.

A maioria dos trabalhadores vinha do Maranhão, Tocantins e Piauí e estavam alojados precariamente em barracos de lona. "O local era de difícil acesso, a cerca de 7 km da sede da fazenda", conta auditor do trabalho e coordenador da fiscalização, Raimundo Barbosa.

Além de não receberem salário há quatro meses, eles tinham dívidas no armazém da fazenda, onde eram obrigados a comprar seus equipamentos de proteção individual (EPIs). A legislação brasileira prevê que esses equipamentos, como botas e luvas, devem ser fornecido gratuitamente pelo empregador. "A presença das armas, o endividamento, a truculência dos funcionários e a distância da cidade intimidava a saída dos trabalhadores", completa Barbosa.

De acordo com o chefe de fiscalização da DRT-PA, José Ribamar Cruz, a denúncia foi feita no dia 04 de maio por dois trabalhadores que conseguiram fugir do local. Durante a fuga, um deles teria sido alvo de tiros, mas não foi atingido. "Eles chegaram aqui apenas com a roupa do corpo", conta Cruz.

O proprietário terá que pagar aproximadamente R$ 140 mil em direitos trabalhistas, cujo pagamento está sendo negociado nesta sexta-feira (12) no fórum de Tomé Açú, para onde os trabalhadores foram encaminhados após o resgate.

O Pará é o estado campeão em libertações de trabalhadores escravos no Brasil. Desde 1995, foram resgatados 7129 trabalhadores em condições semelhantes às da fazenda Mundo Verde, de acordo com dados da Comissão Pastoal da Terra.  

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