O editor-assistente de Época, Ricardo Mendonça, e a repórter Ana Aranha ganharam o Prêmio Ethos de Jornalismo 2006 na categoria Revista pela série de matérias sobre trabalho escravo, publicada entre dezembro de 2004 e dezembro de 2005.
Na primeira reportagem da série, a repórter Ana Aranha acompanhou o grupo de fiscalização do ministério do Trabalho quando foram libertados 46 trabalhadores mantidos em regime análogo à escravidão em duas fazendas em Goiás. As propriedades pertenciam ao ex-prefeito de Santos, Beto Mansur, do PP, que lá cultivava soja, arroz e feijão e criava gado. Além de dormirem em um barracão de lona e palha sob o chão de terra, os trabalhadores tinham os valores das ferramentas descontados diretamente de seus salários, o que caracteriza escravidão por dívida.
Na matéria Novos Abolicionistas, Mendonça mostrou quais eram as matérias-primas prodizidas em fazendas denunciadas por exploração de mão de obra escrava e como esses produtos circulavam no mercado formal até chegar na ponta da cadeia produtiva. A matéria, baseada em um estudo feito pela ONG Repórter Brasil, provou que algumas das maiores e mais importantes empresas do país, como Shell, Ipiranga, BR, Pão de Açúcar, Carrefour e Coteminas, entre outras, estavam comercializando produtos que tinham na sua origem o trabalho escravo. Logo em seguida, essas empresas assinaram um documento em que se comprometeram a romper o vínculo com fornecedores flagrados nessa prática criminosa.
O júri especial da sexta edição do prêmio Ethos, entregue na noite do dia 21, era composto por Beth Carmona, Caio Túlio Costa, Carlos Eduardo Lins e Silva, Miguel Jorge, Ricardo Noblat e Sinval Medina. Além da revista Época, esse júri premiou a agência Envolverde na categoria Mídia Digital, a Eldorado AM na categoria Rádio, a TV Salvador na categoria Televisão e o Valor Econômico na categoria jornal. O prêmio Destaque foi entregue à TV Cultura. Os prêmios do juri virtual, votação dos associados do Ethos feita pela internet, estão no site da entidade: www.ethos.org.br
Confira abaixo as sete reportagens da série:
– Escravos nas terras do prefeito (Edição 343 – 13.dez.04)
Fiscais do Ministério do Trabalho flagram 46 homens em condições degradantes catando
raízes nas fazendas do prefeito de Santos
– O calvário de Mansur (Edição 344 – 20.dez.04)
Flagrante de trabalho escravo contra prefeito de Santos deve gerar três ações na Justiça
– Novos abolicionistas (Edição 367 – 30.maio.2005)
Ação conjunta entre governo e ONGs coloca algumas das maiores empresas do país contra
as fazendas que exploram o trabalho escravo
– O lobby escravocrata (Edição 368 – 06.jun.2005)
Severino Cavalcanti pressiona Ipiranga, BR e sindicato para comprar álcool da destilaria
Gameleira, fazenda autuada por usar mão-de-obra escrava
– Insistência na escravidão (Edição 370 – 16.jun.2005)
Fazenda defendida por Severino Cavalcanti é flagrada pela quarta vez com trabalhadores
escravos. Agora foram 1.200 libertações, um recorde
– Escravos para exportação (Edição 375 – 25.jul.2005)
Lista suja do trabalho escravo confirma que a atividade envolve empresas grandes, influentes
e até produtoras de matéria-prima para o exterior
– Exploração na mira (Edição 394 – 01.dez.2005)
Bancos brasileiros e internacionais iniciam represálias a empresas ligadas ao trabalho
escravo