Cultura da exclusão?

 19/07/2006

Repleta de colunas gregas, esculturas e outros adornos, a Vila Itororó, no distrito da Bela Vista, é composta por 42 casas que formam um conjunto arquitetônico bastante original – e que, para muitos, beira o bizarro. Foi construída na década de 1920, pelo imigrante português Francisco de Castro, e também é conhecida como "vila surrealista".

O projeto de recuperação da área, anunciado pela prefeitura em janeiro deste ano, prevê a criação de um pólo cultural e de lazer no local, hoje ocupado por dezenas de cortiços. Segundo a Associação de Moradores e Amigos da Vila Itororó (AMA-Vila), a área abriga 70 famílias, das mais variadas condições econômicas.

A proposta, que pegou de surpresa os moradores, sintetiza grande parte dos conflitos de interesse que envolvem hoje projetos de intervenção urbana no centro. De um lado, a prefeitura espera, com a criação do pólo cultural, dar visibilidade e trazer investimentos para o entorno da área. Do outro, os moradores articulam formas de barrar o projeto, que prevê sua saída da Vila Itororó.

Fundada em abril deste ano, a AMA-Vila pretende elaborar uma proposta alternativa para o local, conciliando a criação de equipamentos públicos com a permanência das residências. De acordo com Antônia Souza Cândida, coordenadora da entidade, a prefeitura ofereceu aos moradores cartas de crédito de R$ 20 mil a R$ 40 mil. "Com esse dinheiro não dá para comprar imóvel nenhum na área da Bela Vista", afirma.

Para o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil – cuja pasta é responsável pelo projeto -, conflitos de natureza econômica e ideológica fazem parte de processos de intervenção urbana. "O que não podemos é ficar parados por causa disso, nem insensíveis aos argumentos que sejam levantados."

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