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Soja no Mato Grosso do Sul: agronegócio avança na trilha do desmatamento e dos conflitos no campo (Fotos: Leonardo Sakamoto) |
Na raiz da desigualdade social está a concentração de terras rurais nas mãos de poucas famílias ou empresas. Cerca de 3% do total das propriedades rurais do país são latifúndios, ou seja, tem mais de mil hectares e ocupam 56,7% das terras agriculturáveis – de acordo com o Atlas Fundiário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em outras palavras, a área ocupada pelos estados de São Paulo e Paraná juntos está nas mãos dos 300 maiores proprietários rurais, enquanto 4,8 milhões de famílias estão à espera de chão para plantar. Um dos exemplos do grau de concentração de terras em nosso país é a área de 4,5 milhões de hectares, localizada na Terra do Meio, coração do Pará, que o grupo CR Almeida, do empresário Cecilio do Rego Almeida, reivindica para si. Segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, esse é o maior latifúndio do mundo.
Apoiados, entretanto, nos números da produção agrícola e nas divisas geradas pela exportação de suas mercadorias, os ruralistas tentam justificar a existência dessas grandes propriedades, inserindo-as no agronegócio. Em defesa do latifúndio, dizem que não há mais terras improdutivas, desconsideram a participação das pequenas propriedades na produção agrícola e afirmam que a reforma agrária já não é mais necessária. Contudo, um olhar atento sobre os números da economia agrícola, as mortes de trabalhadores por conflitos agrários e dados alarmantes sobre o desmatamento nas regiões Amazônica e no Cerrado, põem em xeque os argumentos que sustentam os latifúndios no país.
Para ajudar a entender essa figura tradicional do meio agrário, a Repórter Brasil dá início à publicação de uma série de matérias sobre a grande propriedade rural, abordando aspectos econômicos, sociais e ambientais. A primeira reportagem trata dos argumentos ecônomicos em que se apóia o agronegócio para explicar a manutenção das grandes propriedades no país.
A origem do latifúndio está ligada ao processo de ocupação do Brasil após a chegada dos portugueses. Em 1536, Lisboa decidiu dividir o território brasileiro em grandes faixas de terras que iam do litoral até a linha imaginária determinada pelo Tratado de Tordesilhas. As chamadas Capitanias Hereditárias foram doadas a representantes da nobreza e aos militares. Os donatários tinham o poder de doar lotes (sesmarias) sob a condição de que fossem explorados economicamente. A área de uma sesmaria é uma légua quadrada, ou 4356 hectares.
A Lei das Sesmarias foi revogada no mesmo ano da Independência, em 1822, e quase 30 anos depois criou-se a Lei de Terras, que viria a orientar até hoje a estrutura fundiária do país. Ela determinou que quem quisesse ter o direito à terra deveria pagar por ela – o que excluiu a grande parte da população brasileira, que não tinha recursos. Enquanto o trabalho era cativo, escravo, com a mão-de-obra fixada em um determinado lugar para servir aos interesse da produção, a terra podia ser livre. Porém, quando o fim da propriedade legal de uma pessoa sobre outra foi avistada no horizonte, preventivamente a terra se tornou cativa. Afinal, o que garantiria que houvesse mão-de-obra para os latifúndios com trabalhadores desfrutando de liberdade para tentar vida nova em um terreno só seu?
Desde a Colônia, as “plantations” (latifúndios monocultores com a produção voltada à exportação) se expandiram e lucraram com a exploração da mão-de-obra escrava. “O latifúndio, mais do que uma extensão de terra, era um sistema de dominação que estava na base do poder dos proprietários, como um mecanismo de controle social, principalmente sobre aqueles que se encontravam no interior dos grandes domínios”, explica Marcelo Grynspan, pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da FGV-RJ.
Nossa própria história está dividida de acordo com os ciclos de desenvolvimento de mercadoria que as “plantations” ofereciam ao exterior. Nas escolas, é ensinado que vivemos o ciclo da cana-de-açúcar, do ouro, do algodão, do café… No plano das mudanças políticas, vivemos a proclamação da República, a era Vargas, o golpe militar de 64, mas a estrutura fundiária do país permaneceu intocada. Trocaram-se os rótulos, mas as garrafas permaneceram as mesmas.
Conquista da Amazônia
A luta pela terra esteve sempre presente na história do Brasil, mas foi a partir da década de 40 que ganharam força os debates que ligavam os problemas sociais do país à existência do latifúndio e a necessidade de realizar a reforma agrária para superar os conflitos no campo. Nos anos 60, floresceram as ligas camponesas no Nordeste e a organização dos trabalhadores rurais com o objetivo de reivindicar a distribuição mais equitativa da terra – o que aumentou a pressão pela realização da reforma agrária durante o governo do presidente João Goulart.
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Área desmatada próxima à Corumbiara (RO). Ocupação das fronteiras agrícolas beneficiou os grandes proprietários rurais |
Porém, com o golpe militar de 1964, instalou-se uma ditadura a serviço do capital monopolista, subordinando a ele a agricultura. Não havia, nesse contexto, espaço para uma reforma agrária que diminuísse a desigualdade social. Na maioria dos casos, o que se viu foi a criação de assentamentos para fixar mão-de-obra barata perto de fazendas. Incentivos fiscais e empréstimos facilitados para a ocupação das chamadas fronteiras agrícolas beneficiaram principalmente o estabelecimento das grandes propriedades para agricultura ou pecuária.
Carregando sob o braço o discurso de quem era necessário povoar regiões “sem habitantes”, o Estado investiu grandes somas de recursos públicos para criar infra-estrutura, como estradas e hidrelétricas. Ignorando as comunidades tradicionais, indígenas e os posseiros que já moravam nesses locais, o governo possibilitou o desmatamento da Amazônia e uma farra financeira sem igual. Grandes empresas passaram a ser proprietárias de terra na fronteira agrícola, como a montadora Volkswagen e o banco Bradesco.
Com a redemocratização, o vetor de desenvolvimento da Amazônia não sofreu grandes alterações. Uma delas, foi a mudança de nome: o latifúndio passou a ser chamado de agronegócio.
Nas palavras de Bernardo Mançano, professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a imagem do agronegócio foi construída para renovar a da agricultura capitalista, para ‘modernizá-la’. “É uma tentativa de ocultar o caráter concentrador, predador, expropriatório e excludente para dar relevância somente ao caráter produtivista, destacando o aumento da produção, da riqueza e das novas tecnologias.” Com o novo conceito, os proprietários de grandes extensões rurais tentam vincular sua imagem a de modernas empresas agrícolas, cujos lucros impulsionam o bom desempenho da balança comercial brasileira.
“A história do Brasil é baseada na concentração da propriedade, várias delas originadas da ocupação de terras públicas inclusive. No início identificou-se no latifúndio a origem de boa parte das nossas mazelas sociais. Já, hoje, há a visão de que a grande propriedade é a base do agronegócio, que é o sustentáculo da nossa economia”, analisa Grynspan.
Os números da agricultura brasileira, porém, desmentem a afirmação de que a grande propriedade é a único responsável pela produção agrícola nacional. O Brasil tem 388 milhões de hectares de terras agriculturáveis com pequenas, médias e grandes propriedades. A empresarial controla 70% dessa área e as pequenas 30%. Mas a propriedade familiar fica com 10% dos créditos dados pelo governo e produz 50% da safra anual. Enquanto a empresarial fica com 70% desses créditos e também produz 50%. “Esse é um modelo de concentração de terras”, afirma Bernardo Mançano.
Contatada, a diretoria da Confederação Nacional doa Agricultura e Pecuária (CNA) não se manifestou sobre o tema até o fechamento desta matéria.
Quem produz mais recebe menos
Na história do Brasil, os governos têm financiado continuamente a produção agropecuária e a divisão desses recursos sempre favoreceu os grandes proprietários de terras. Por exemplo, neste ano, ao apresentar o Plano de Safra 2006/2007, o governo federal afirmou que o campo tem o desafio de “voltar a ser a locomotiva da economia e grande gerador de empregos, manter os expressivos saldos na balança comercial e continuar promovendo a interiorização do desenvolvimento e a inclusão social”. E 50 bilhões de reais em créditos foram liberados aos grandes proprietários rurais e 20% disso (10 bilhões) para a agricultura familiar.
Apesar de ficar com a menor fatia do bolo, são as pequenas unidades as que produzem a grande maioria dos produtos do campo, como apontam os dados do último Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1996. Analisando esses números, Ariovaldo de Oliveira, do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), destaca que as lavouras temporárias e permanentes ocupam 50,1 milhões de hectares e 53% delas estão em pequenas propriedades, 34,5% nas médias e apenas 12,5% em grandes extensões de terras.
Também em relação à pecuária, a proporção se mantém: as pastagens ocupam 177,7 milhões de hectares e 34,9% ficam em pequenas unidades, 40,5% nas médias, enquanto 24,6% estão nas grandes propriedades.
Levantamento feito pelo Incra e pela FAO, órgão das Nações Unidas responsável pela agricultura e alimentação, indica que as pequenas propriedades representam 85,5% dos estabelecimentos do campo, apesar de ocuparem 30,5% das terras agriculturáveis. E destaca que entre os dez principais produtos da agricultura familiar estão: leite, milho, feijão, café, mandioca e até mesmo a soja. Ou seja, a base alimentar do país.
Mas são os números das exportações brasileiras que os ruralistas utilizam para se fortalecer politicamente. No início deste ano, sob tratoraços e rodovias bloqueadas, os grandes proprietários de terra pressionaram o governo federal com o intuito de obter mais prazo para pagar dívidas com os cofres públicos, mais créditos para quitar dívidas privadas e garantias de aumento do financiamento público para as próximas safras. Tudo para resolver uma situação de confiança cega no mercado internacional de mercadorias agrícolas e de má administração dos negócios que eles mesmos criaram.
Obtiveram conquistas. Até porque o governo criou uma situação em que se tornou refém do superávit comercial proporcionado pelas commodities como a soja – que tem revezado com os produtos do setor automotivo o primeiro lugar em montante de recursos advindos de vendas para o exterior.
Segundo dados divulgados pelo Ministério da Agricultura, o agronegócio foi responsável por 36,85% das exportações brasileiras em 2005, faturando 46 milhões de dólares do total de 118,3 milhões de dólares. O professor Ariovaldo de Oliveira rebate esse argumento e afirma que o setor manipula os números para superestimar sua importância econômica. “Estudiosos da agropecuária consideram o valor do produto agrícola beneficiado ou industrializado como um ganho do agronegócio. Quer dizer, incorporaram a atividade industrial e, com isso, supervalorizam a produção agrícola. Para fazer o cálculo das exportações de soja, por exemplo, além do grão de soja exportado, também se consideram as vendas de farelo e óleo, que são produtos industrializados. O mesmo ocorre com o suco de laranja e o açúcar”, explica.
O setor também não é o maior responsável pela geração de empregos no campo. Oliveira destaca que dos 17,9 milhões de brasileiros empregados no campo, 87,3% trabalhavam em pequenas propriedades, 10,2% em médias e 2,5% em grandes áreas. “Do ponto de vista da produtividade, a pequena alcança os mesmos patamares que a grande propriedade. A produtividade da lavoura de soja no Paraná, cultivada em pequenas e médias unidades, é igual a do Mato Grosso, onde ela é produzida em médias e grandes. Qual a diferença? O Paraná usa mão-de-obra e o Mato Grosso usa máquinas. A questão é que a exploração na grande propriedade é poupadora da mão-de-obra”, afirma Oliveira. “Há um certo endeusamento do agronegócio e a razão é ideológica, para fazer frente aos movimentos sociais”, complementa. E eles têm força para isso.
“Hoje a concentração de terras no Brasil é sustentada pelos que defendem os interesses e os privilégios dessa parcela da população que controla as terras, as políticas públicas e o governo”, critica Bernardo Mançano.
A bancada ruralista no Congresso Nacional é um dos principais eixos políticos em que se apóia o agronegócio. Estudo feito pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) analisa a atuação desse grupo de parlamentares na história política recente do país. Segundo o levantamento, o número de parlamentares da bancada ruralista cresceu desde a legislatura de 1985, atingindo seu auge em 1994 quando alcançou 117 integrantes. “Na atual Legislatura (2003/2006), o número caiu para 73 – mas isso não quer dizer perda de força porque a bancada tem capacidade de mobilizar os outros setores do Congresso em prol dos seus interesses”, diz o estudo.
A organização cita como exemplo um episódio ocorrido ainda no início do governo Lula. “Os ruralistas exigiram do governo que mantivesse intacta a medida provisória que suspende as vistorias nas áreas ocupadas pelos movimentos sociais e que penaliza os agricultores sem-terra que participam das ocupações. Diante das ameaças de retaliação nas votações do Parlamento, o ministro José Dirceu, da Casa Civil, declarou que o governo tinha desistido de promover a revisão da MP. Mas o Incra ainda defende a alteração.”
Especulações
O outro nó econômico da questão fundiária no país é a improdutividade das terras. A Comissão Pastoral da Terra – entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – considera que 62,4% da área do total dos imóveis rurais no país é improdutiva. Isso acontece porque a terra tem importância por seu valor de mercado. Ganha-se produzindo em uma propriedade rural, mas também ganha-se deixando-a parada, esperando a especulação imobiliária cumprir seu papel aumentando o valor do hectare. O que pode vir a ocorrer com a instalação de infra-estrutura pelo governo ou mesmo da expansão da frente agrícola.
A Constituição de 1988 determina, entretanto, que todas as propriedades rurais devem cumprir sua função social e para isso devem produzir, respeitar o meio ambiente e os direitos trabalhistas de seus empregados. Embora esteja garantida por lei, a desapropriação das terras que não cumprem todos esses requisitos permanece entre as principais reivindicações dos movimentos sociais do campo.
“A terra no país é vista como reserva de patrimônio. Não se precisa da grande propriedade para usá-la economicamente, é sim para servir de garantia ao sistema financeiro para as outras atividades econômicas. Ou para receber incentivos fiscais do governo”, aponta Ariovaldo.
Na sanha por adquirir mais terras, falsificam-se documentos de propriedade (prática conhecida pelo nome de grilagem) e expulsam-se antigos moradores. Há terra que foi cercada sem que os proprietários tivessem documentos para provar que poderiam cercá-la. São quase 170 milhões de hectares de terras devolutas (públicas) cercadas. O dia que o governo federal cumprir a lei do novo cadastro fundiário e fizer a medição por georeferenciamento, vai saltar aos olhos o excesso de terra pública grilada. Hoje, no Brasil, nenhum órgão público é capaz de dizer quem é proprietário do quê. Mesmo o Incra tem grandes dificuldades para analisar as cadeias dominiais das fazendas.
Os discursos que utilizam os bons números da produção agrícola nacional em favor apenas do agronegócio e difundem a imagem de latifúndios modernos e lucrativos tentam esconder o altíssimo grau de concentração fundiária em nosso país. Também tentam omitir que a existência do latifúndio não permite a redução das desigualdades sociais porque expulsa o homem do campo e mantém a concentração de oportunidades de geração de renda nas mãos de poucos.
Para além da questão econômica, a superexploração do meio ambiente e o acirramento dos conflitos no campo também são parte dessa história em que o latifúndio é protagonista há mais de 500 anos. Eles serão os temas abordados nas próximas reportagens.
Outras matérias do Especial Latifúndio:
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A economia da escravidão
Boa matéria! Quero ver agora a parte de meio ambiente. O Brasil está sendo destruído pela ganância dos mais ricos e nada é feito.
Boa matéria! Quero ver agora a parte de meio ambiente. O Brasil está sendo destruído pela ganância dos mais ricos e nada é feito.
Nosso imenso território é utilizado de maneira vil. Sabemos nós que a Amazonia há muito tempo é explorada pelos norte-americanos. Isso é mau? Depende, pois se eles não exploram, todo aquele teritório cai no abandono. E não é só na Amazônia, nosso país é utilizado de maneira catastrófica. O pior é que nada podemos fazer, a não ser comentar. Que Pena!!!
Nosso imenso território é utilizado de maneira vil. Sabemos nós que a Amazonia há muito tempo é explorada pelos norte-americanos. Isso é mau? Depende, pois se eles não exploram, todo aquele teritório cai no abandono. E não é só na Amazônia, nosso país é utilizado de maneira catastrófica. O pior é que nada podemos fazer, a não ser comentar. Que Pena!!!
Parabéns! Muito boa a matéria. Estimularei a sua leitura entre os formandos de jornalismo da Universidade Federal de MS. No entanto, senti falta de falas de pequenos e médios produtores rurais e/ou de dirigentes de suas entidades representativas. Outra coisa, que tal se se acrescentasse informações macro por região política: Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste, Sul, Norte e Nordeste?
Parabéns! Muito boa a matéria. Estimularei a sua leitura entre os formandos de jornalismo da Universidade Federal de MS. No entanto, senti falta de falas de pequenos e médios produtores rurais e/ou de dirigentes de suas entidades representativas. Outra coisa, que tal se se acrescentasse informações macro por região política: Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste, Sul, Norte e Nordeste?
Excelente a matéria que aborda o problema agrário do nosso país. Espero pela próxima matéria sobre o meio ambiente.
Excelente a matéria que aborda o problema agrário do nosso país. Espero pela próxima matéria sobre o meio ambiente.
Adorei a reportagem! Muito esclarecedora. Vou continuar acompanhando!
Adorei a reportagem! Muito esclarecedora. Vou continuar acompanhando!
Ótimo. Aí está caracterizada a situação que vivemos no nosso Brasil.
não só esclarecedora, como estarrecedora. No Brasil o latifúndio passa incólume pela história e só aprofunda os graves problemas sociais.
puxa adorei a materia queri q outras pessoas pensassem como vc se puder me manter informada eu agradeco
olha eu achei o site muito bom por que fala muito bem sobre os latifundiários. esse é meu comentáriu!!
Gostei! Muito boa a matéria!!
Parabéns! A Materia ficou excelente, quero poder ler outras com o significado parecido, lavarei esta materia na próxima semana para sala de aula, vou poder apresentar para mues colegas e claro comentar.
Adorei seu trabalho parabéns!
adorei seu trabalho, me ajudou muito
gostei mt mas pro meu tipo de trabalho nao me ajudou mt mas foi util.parabens!!!!!!!
Parabéns pela matéria, me ajudou muito na apresentaçao de um seminário.
adorei o site…ele me ajudou um a apresentar um atrabalho e acho que vcs estao de parabens..
Eu dou os meus parabéns e digo que tudo isso me ajudou bastante…………………….. por isso eu estou deixando o meu comentário e espero que anlise tudo que vc viu…………………………. ( TCHUUUUUUUU )
Pra mim essa é um grande injustiça. Acho que o governo tem que agir para dar condições de milhares de brasileiros trabalarem. Afinal o Brasil é ou não um pais de todos?!
A INJUSTIÇA PRATICADA PELOS GRANDES LATIFUNDIÁRIOS E A INCOPETÊNCIA DO GOVERNO SÃO ATITUDES QUE PARECEM NÃO TER SOLUÇÃO. ESSA SITUAÇÃO SÓ SERÁ RESOLVIDA QUANDO A POPULAÇÃO TIVER A CONSCIÊNCIA SULFICIENTE PARA SABER ESCOLHER SEUS GOVERNANTES.
nossa o trabalho de vcs é ótimo
o trabalho de vcs é perfeito .
eu adorei o trabalho de voces émuito bakana parabéns
O trabalho de vcs é excepcional!
Que a luta diária seja a marca eterna do grupo.
ótimos textos. muito exclarecedores dos problemas que estamos vivendo no país; pena que nunca serão foco de comentários nas novelas e telejornais de grande audiência nacional. ( claro, os meios de comunicação também sao dirigidos para a massificação e dominação ideológica do trabalhador brasileiro e dos menos exclarecidos, ou seja, a maioria do país.)
caramba, que derrapão, mas ainda em tempo. esclarecimento. ah, agora sim, está melhor….
muito bom o comentário hein…. gostei muito, ele me ajudou a fazer um trabalho !!!!!! valeu
não gostei pur quee euu naum achei uh ki euu keriiaa!! =(
mto grande e é sem nexo.
eu ameiiii Muitooo Massa Caracaaa!!!!
eu estudeiii por aiii para a minha prova de História e fecheiii entaum eu
achu que eh otimaaa caramba!!!
=D
heeeeeeeeeeeeee
Fecheiii a provaa
recomendooOoOOoOooOoOoOoOo!!!
GENTEM ESTUDEM PA FECHAR A PROVA COMUUU EUUU!!!!!
ta massa am,eiiiiiiiiii
eu gostei da materia na verdade eu amei falo!PARABENS pra quem fez ela tá
Eu gostei dessa materia mas meus amigos não espero que eles aprendão a gostar de materias boas como essa ok?Valeu REPORTER BARSIL por causa dessa materia eu tirei nota maxim no meu trabalho de historia
eu gostei mas não consegui identificar a parte que fala da concentração fundiária que era o que eu estava querendo achar para um trabalho escolar.
eu também gostaria que neste mesmo site tivesse a questão do que é desenvolvimemento sustentável
desde já agradeço
hellen
Não gostei por que não tem o que eu ato precisando=(
ops!!!!quero dizer…
nao tem o que eu tava procurando…
haha
=(
Oii. gente eu só passeii aqui porque eu tenho q fazer um trabalho para mminha professora de Geografia Nezía . E o tema é “A concentração de terras e os conflitos no campo” maiiis eu vou fazer ele com está pagina
nao gostei
é mto grande e tenho certeza q ninguem parou pra ler isso
eu procurei uma coisa e veio coisas q nao tem nada a ve com q eu pesquisei!!
NAO GOSTEI!!!!!
Nao gostei muito grande
sem graça
ninguem vai ler tudo isso
NAO GOSTEI
ñ gostei do trabalho de vcs
prefiro por no
nao gostei porque
eu gostei por que tinha oque eu estava procurando.
nauum gosteii pur quee nauum teem ooq eu preecisoooo!!
e eeh sobre o MST . . . ;(
Excelente matéria! Abordou de maneira direta uma realidade que ainda hoje muitos vivem; pessoas que fazem efetivamente parte do contexto da desigualdade social. É lamentável que as políticas agrárias e a Carta Magna, apesar do texto legal, não sejam aplicadas de forma justa e igual neste vasto país.
Eu achei a materia muito boa, mas ela infelizmente aborda a realidade, porém ela nao serviu muito para mim =/
GOSTEI DA MATERIA POIS FALA DE UM ASSUNTO QUE ATE HOJE E DE FATO O QUE MUITAS PESSOAS VIVEM HOJE.
E TAMBEM E O ASSUNTO DO TRABALHO QUE EU ESTOU PESQUISANDO PARA UM TRABALHO SOBRE CONCENTRAÇÃO DE TERRA.
gostei muito por que eu gasto de falar sobre coisas que envolve geografia
Muito Edificante ! Parabéns ! Continue assim !
gostei muito!!
ele me ajudou a montar um trabalho.
mas acho que podiam resumir mais, assim ficou muito grande dificil de copiar.
me ajudou e tanto para fazer um trabalho!!!
parabéns
é uma coisa muito chaaaaaaaaaata e graaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaande
Excelente abordagem, é exatamente esse o problema no qual estamos iinseridos á decadas.
Quem não achou o assunto interessante demonstra, cristalino, que é ignorante no assunto.
Posso finalizar dizendo, que essa questão agrária é uma das mais importantes questões, principalmente no Brasil.
adorei a materia
adorei,me ajudou bastante no meu trabalho de geografia.
valeeeeeu!!
oi tb gosto dessa materia
ADOREI!!!!!!!!! {muito bom}
*-*
adrorei!!!!resolvi até comentar dinovuu
O TRABALHO DE VCS É MUITO LEGAL E ME AJUDOU MUITO A FAZER O TRABALHO DE GEOGRAFIA QUE EU TINHA QUE FAZER!!!!!!!!!!!!
BJS
*-*
Gostei muuitoo do texto. Me ajudou muito a fazer um trabalho de história pq compara desde a colonização aos dias atuais!! Parabéns!
Nossa adorei a reportagem do repórter Brasil, me ajudou muito a entender melhor a materia de geografia na minha escola e tambem a me mostrar as condicoes a que muitas pessoas ainda vivem infelizmente, devido a concentracao fundiaria e aos conflitos gerados por esta.
Gostei! Mas nao me ajudou pois estou fazendo um trabalho onde sou a favor dos latifunfiarios! =(
Gostei! Me ajudou muito no trabalho 🙂
eol odiei…pois é a matéria + ruim da minha escola…
muito ruim mais me ajudou na materia de historia…..
adoreiii…..
pq ganhei nota de graça….
kkkkk
A MATERIA É SIMPLISMENTE CHATA FIQUEI ABSMADA COM A CHATISSE DA MATERIA MAS ME AJUDOU COM A NOTA GRATISSSSSS
fiquei rosa chiclete…. adoreeeiii a materia…bjsss
gostei do assunto pois me trosse mais conhecimento sob latifundio e minifundio
gostei do assunto pois me trosse mais conhecimento sob latifundio e minifundio
adorei o assunto pois o prof pela primeira vez n falo de indio
EU NÃO GOSTEI DO ASSUNTO MAS AO MENOS O PROFESSOR NÃO FALOU SO0BRE INDIOS OU NEGROS.
materia super chata….*-*
quem não gostou é porque são um bando de burrrrrrrrrrrrros…..é por causa de vcs que as universidades tabajaras estão lotadas.
A matéria é boa e tem um excelente conteúdo é grande, não nego mas,trás aspectos muito importantes.
naum consigui copiar a matéria …
Eu achei bem estimulante, interessante. Concegui achar tudo o que queria.
Achei interesante, e bem bacana. Espero que meu profº fique bem satisfeito.
Fiquei rosa chiclete, passada e de chapinha. Adorei, mas é muito grande, não tive pacienciencia pra ler naum. Só recortei, colei, resumi no word, imprimi e tô esperando a nota vir.
Fico abismado com os comentários de alguns estudantes que estão preocupados em angariar uma notinha na disciplina x. Infelizmente não conseguimos formar cidadãos, apenas uma leva de alienados, que conseguem fazer comentários ridículos diante de uma matéria tão esclarecedora como esta. Assim o Brasil continuará como está por mais 500 anos. Que tristeza, educação falida, mentes levianas.
Infelismente, em meio a tanta desigualdade social encontramos pessoas que ao invés de ajudarem e acelerar o processo e reforma agrária, abrem a boca para falarem merda. Li esses dia em uma revista X, sobre um escritor que é totalemte contra a reforma agrária. ele dizia o seguinte em um dos trechos que li: É melhor ter um salário por minimo que seje, do que não ter nada. Praticamente ele afirma que é melhor deixar do jeito que está. Ele acha que não há como deixar nosso agronegócio na mão de quem não sabe se quer planta, ele afirma que compensa mais deixar os grandes proprietários cuidando disso, do que investir em qualificação e mão de obra para os SEM TERRA.
Achei uma bosta mais consegui fazer o meu trabalho!!
este site ate que é bom entendiii mais como a josi disse vcs naum falam sobre os negros em geral e tem que colocar mais coisas pois naum tem muita informação
nossa e grande mas é muito
bom vlw!!!!
naaum acheei oqe eeu kria . maais teenho ceerteza q tava nesse text o , só q é dificio teer paciência di leer td isso 😡 maais se foossi trabalho inprimia tudoõ e qm saabi eeu tirariia uma naatinha booa 😀 e.e
Bem sei nao ein! esse texto mto grande!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Sou totalmente contra o MST (falando em reforma agrária).
Como se explica a invasão de terras produtivas da Cutrale, com a destruição de mais de 20000 (vinte mil) pés de laranja? Com a destruição de dezenas de tratores (colocaram terra nos motores ligados)?
Eles não querem terras. Eles querem DETERMINADAS terras, já cultivadas, produtivas, a 1000 por hora. E querem para vender, não para cultivar…
Depois, permanecem nos projetos e recebem outras terras e assim vão fazendo pequenas fortunas as custas de propriedades alheias.
A REFORMA AGRÁRIA É ALGO PERIGOSO, QUE DEVE SER FEITO RESPEITANDO-SE A PROPRIEDADE PRODUTIVA ALHEIA E SOB RIGOROSA FISCALIZAÇÃO.
Abaixo o MST!
Gostei da matéria, e esse assunto é importantissimo. Mas seria melhor se fosse um pouco mais sintetizada, pra não cansar a leitura. De quem está interessado a ler é claro, que tem uma visão aberta do mundo e não se importa só em tirar notas boas, bando de alienados que só fizeram o sacrifício de ler pra colocar em trabalhos e não dão a mínima.
a cultrale é grileira!! isso significa que eles ROUBARAM as terras que pertence a todos nós brasileiros, já que as terras, as quais vc diz que são produtivas, na verdade são de propriedade da União, ou seja do Estado Brasileiro.
O INCRA está brigando na justiça contra a empresa para recuperar as terras griladas.
Excelente trabalho,o que mais me indigna são os comentários ridículos de pessoas tão vazias.
achei muito interesante, consegui absorver muitas informações para o meu trabalho, aproposito acho que as pessoas que acharam chato são pessoas que não tem conhecimento e interese algum sobre os problemas do país se n~~ao se interesam por um assunto tão presente assim porque não vai arrumar outra coisa para fazer, isso se chama ignorancia.
Adorei o assunto
gostei muito do assunto
Sou professora e nao gostei disso, nao tem nada a ver com o que pede
aff esse professor não entende nada mesmo
A origem do latifundio está no processo de ocupação? Se os indios habitavam a terra, foi ocupação ou invasão? Hoje quem é proprietário de terra tem poder e domina a república.
achei uma grande merda!!!
vao apreende a responde as perguntas da gente pooohhh… num tem nada que pede essa merda….
sou advogado e sou muito rico… voceis sao uns pobres…intaum vao aprende trabalha..seus xinelos
Achei o texto muito interessante. mais interessante ainda é que a verdade doí naqueles que são bitolados pelo Agronegócio.
mt legal 🙂
muito bom
ESSA MATERIA PODERIA SER ENSSINADA NAS ESCOLAS PUBLICAS DO BRASIL.
Considero que o autor da matéria se considera conhecedor do assunto…..entretanto percebo que não …..ele comete erros gravíssimos…por ex. ao comparar a produtividade do Paraná (pequenas propriedades) com a produtividade do Mato Grosso …..ele dá a nítida impressão de que as terras brasileiras são iguais em todo o território…..ele desconsiderou a diversidade de tipos de solos, de climas e de regiões…..e isto é fundamental,para se entender as pequenas, médias e grandes propriedades…..ele, o autor, me pareceu um sujeito sentado em um escritório, que devaneia sobre o assunto….faltou a ele , antes de escrever sobre este assunto, ter morrido antes no cabo da enxada……lamento por ele….
Na raiz da desigualdade social está a concentração de terras rurais nas mãos de poucas famílias ou empresas. Cerca de 3% do total das propriedades rurais do país são latifúndios, ou seja, tem mais de mil hectares e ocupam 56,7% das terras agriculturáveis – de acordo com o Atlas Fundiário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em outras palavras, a área ocupada pelos estados de São Paulo e Paraná juntos está nas mãos dos 300 maiores proprietários rurais, enquanto 4,8 milhões de famílias estão à espera de chão para plantar. Um dos exemplos do grau de concentração de terras em nosso país é a área de 4,5 milhões de hectares, localizada na Terra do Meio, coração do Pará, que o grupo CR Almeida, do empresário Cecilio do Rego Almeida, reivindica para si. Segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, esse é o maior latifúndio do mundo.
Apoiados, entretanto, nos números da produção agrícola e nas divisas geradas pela exportação de suas mercadorias, os ruralistas tentam justificar a existência dessas grandes propriedades, inserindo-as no agronegócio. Em defesa do latifúndio, dizem que não há mais terras improdutivas, desconsideram a participação das pequenas propriedades na produção agrícola e afirmam que a reforma agrária já não é mais necessária. Contudo, um olhar atento sobre os números da economia agrícola, as mortes de trabalhadores por conflitos agrários e dados alarmantes sobre o desmatamento nas regiões Amazônica e no Cerrado, põem em xeque os argumentos que sustentam os latifúndios no país.
Para ajudar a entender essa figura tradicional do meio agrário, a Repórter Brasil dá início à publicação de uma série de matérias sobre a grande propriedade rural, abordando aspectos econômicos, sociais e ambientais. A primeira reportagem trata dos argumentos ecônomicos em que se apóia o agronegócio para explicar a manutenção das grandes propriedades no país.
A origem do latifúndio está ligada ao processo de ocupação do Brasil após a chegada dos portugueses. Em 1536, Lisboa decidiu dividir o território brasileiro em grandes faixas de terras que iam do litoral até a linha imaginária determinada pelo Tratado de Tordesilhas. As chamadas Capitanias Hereditárias foram doadas a representantes da nobreza e aos militares. Os donatários tinham o poder de doar lotes (sesmarias) sob a condição de que fossem explorados economicamente. A área de uma sesmaria é uma légua quadrada, ou 4356 hectares.
A Lei das Sesmarias foi revogada no mesmo ano da Independência, em 1822, e quase 30 anos depois criou-se a Lei de Terras, que viria a orientar até hoje a estrutura fundiária do país. Ela determinou que quem quisesse ter o direito à terra deveria pagar por ela – o que excluiu a grande parte da população brasileira, que não tinha recursos. Enquanto o trabalho era cativo, escravo, com a mão-de-obra fixada em um determinado lugar para servir aos interesse da produção, a terra podia ser livre. Porém, quando o fim da propriedade legal de uma pessoa sobre outra foi avistada no horizonte, preventivamente a terra se tornou cativa. Afinal, o que garantiria que houvesse mão-de-obra para os latifúndios com trabalhadores desfrutando de liberdade para tentar vida nova em um terreno só seu?
Desde a Colônia, as “plantations” (latifúndios monocultores com a produção voltada à exportação) se expandiram e lucraram com a exploração da mão-de-obra escrava. “O latifúndio, mais do que uma extensão de terra, era um sistema de dominação que estava na base do poder dos proprietários, como um mecanismo de controle social, principalmente sobre aqueles que se encontravam no interior dos grandes domínios”, explica Marcelo Grynspan, pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da FGV-RJ.
Nossa própria história está dividida de acordo com os ciclos de desenvolvimento de mercadoria que as “plantations” ofereciam ao exterior. Nas escolas, é ensinado que vivemos o ciclo da cana-de-açúcar, do ouro, do algodão, do café… No plano das mudanças políticas, vivemos a proclamação da República, a era Vargas, o golpe militar de 64, mas a estrutura fundiária do país permaneceu intocada. Trocaram-se os rótulos, mas as garrafas permaneceram as mesmas.
Conquista da Amazônia
A luta pela terra esteve sempre presente na história do Brasil, mas foi a partir da década de 40 que ganharam força os debates que ligavam os problemas sociais do país à existência do latifúndio e a necessidade de realizar a reforma agrária para superar os conflitos no campo. Nos anos 60, floresceram as ligas camponesas no Nordeste e a organização dos trabalhadores rurais com o objetivo de reivindicar a distribuição mais equitativa da terra – o que aumentou a pressão pela realização da reforma agrária durante o governo do presidente João Goulart.
Área desmatada próxima à Corumbiara (RO). Ocupação das fronteiras agrícolas beneficiou os grandes proprietários rurais
Porém, com o golpe militar de 1964, instalou-se uma ditadura a serviço do capital monopolista, subordinando a ele a agricultura. Não havia, nesse contexto, espaço para uma reforma agrária que diminuísse a desigualdade social. Na maioria dos casos, o que se viu foi a criação de assentamentos para fixar mão-de-obra barata perto de fazendas. Incentivos fiscais e empréstimos facilitados para a ocupação das chamadas fronteiras agrícolas beneficiaram principalmente o estabelecimento das grandes propriedades para agricultura ou pecuária.
Carregando sob o braço o discurso de quem era necessário povoar regiões “sem habitantes”, o Estado investiu grandes somas de recursos públicos para criar infra-estrutura, como estradas e hidrelétricas. Ignorando as comunidades tradicionais, indígenas e os posseiros que já moravam nesses locais, o governo possibilitou o desmatamento da Amazônia e uma farra financeira sem igual. Grandes empresas passaram a ser proprietárias de terra na fronteira agrícola, como a montadora Volkswagen e o banco Bradesco.
Com a redemocratização, o vetor de desenvolvimento da Amazônia não sofreu grandes alterações. Uma delas, foi a mudança de nome: o latifúndio passou a ser chamado de agronegócio.
Nas palavras de Bernardo Mançano, professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a imagem do agronegócio foi construída para renovar a da agricultura capitalista, para ‘modernizá-la’. “É uma tentativa de ocultar o caráter concentrador, predador, expropriatório e excludente para dar relevância somente ao caráter produtivista, destacando o aumento da produção, da riqueza e das novas tecnologias.” Com o novo conceito, os proprietários de grandes extensões rurais tentam vincular sua imagem a de modernas empresas agrícolas, cujos lucros impulsionam o bom desempenho da balança comercial brasileira.
“A história do Brasil é baseada na concentração da propriedade, várias delas originadas da ocupação de terras públicas inclusive. No início identificou-se no latifúndio a origem de boa parte das nossas mazelas sociais. Já, hoje, há a visão de que a grande propriedade é a base do agronegócio, que é o sustentáculo da nossa economia”, analisa Grynspan.
Os números da agricultura brasileira, porém, desmentem a afirmação de que a grande propriedade é a único responsável pela produção agrícola nacional. O Brasil tem 388 milhões de hectares de terras agriculturáveis com pequenas, médias e grandes propriedades. A empresarial controla 70% dessa área e as pequenas 30%. Mas a propriedade familiar fica com 10% dos créditos dados pelo governo e produz 50% da safra anual. Enquanto a empresarial fica com 70% desses créditos e também produz 50%. “Esse é um modelo de concentração de terras”, afirma Bernardo Mançano.
Contatada, a diretoria da Confederação Nacional doa Agricultura e Pecuária (CNA) não se manifestou sobre o tema até o fechamento desta matéria.
Quem produz mais recebe menos
Na história do Brasil, os governos têm financiado continuamente a produção agropecuária e a divisão desses recursos sempre favoreceu os grandes proprietários de terras. Por exemplo, neste ano, ao apresentar o Plano de Safra 2006/2007, o governo federal afirmou que o campo tem o desafio de “voltar a ser a locomotiva da economia e grande gerador de empregos, manter os expressivos saldos na balança comercial e continuar promovendo a interiorização do desenvolvimento e a inclusão social”. E 50 bilhões de reais em créditos foram liberados aos grandes proprietários rurais e 20% disso (10 bilhões) para a agricultura familiar.
Apesar de ficar com a menor fatia do bolo, são as pequenas unidades as que produzem a grande maioria dos produtos do campo, como apontam os dados do último Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1996. Analisando esses números, Ariovaldo de Oliveira, do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), destaca que as lavouras temporárias e permanentes ocupam 50,1 milhões de hectares e 53% delas estão em pequenas propriedades, 34,5% nas médias e apenas 12,5% em grandes extensões de terras.
Também em relação à pecuária, a proporção se mantém: as pastagens ocupam 177,7 milhões de hectares e 34,9% ficam em pequenas unidades, 40,5% nas médias, enquanto 24,6% estão nas grandes propriedades.
Levantamento feito pelo Incra e pela FAO, órgão das Nações Unidas responsável pela agricultura e alimentação, indica que as pequenas propriedades representam 85,5% dos estabelecimentos do campo, apesar de ocuparem 30,5% das terras agriculturáveis. E destaca que entre os dez principais produtos da agricultura familiar estão: leite, milho, feijão, café, mandioca e até mesmo a soja. Ou seja, a base alimentar do país.
Mas são os números das exportações brasileiras que os ruralistas utilizam para se fortalecer politicamente. No início deste ano, sob tratoraços e rodovias bloqueadas, os grandes proprietários de terra pressionaram o governo federal com o intuito de obter mais prazo para pagar dívidas com os cofres públicos, mais créditos para quitar dívidas privadas e garantias de aumento do financiamento público para as próximas safras. Tudo para resolver uma situação de confiança cega no mercado internacional de mercadorias agrícolas e de má administração dos negócios que eles mesmos criaram.
Obtiveram conquistas. Até porque o governo criou uma situação em que se tornou refém do superávit comercial proporcionado pelas commodities como a soja – que tem revezado com os produtos do setor automotivo o primeiro lugar em montante de recursos advindos de vendas para o exterior.
Segundo dados divulgados pelo Ministério da Agricultura, o agronegócio foi responsável por 36,85% das exportações brasileiras em 2005, faturando 46 milhões de dólares do total de 118,3 milhões de dólares. O professor Ariovaldo de Oliveira rebate esse argumento e afirma que o setor manipula os números para superestimar sua importância econômica. “Estudiosos da agropecuária consideram o valor do produto agrícola beneficiado ou industrializado como um ganho do agronegócio. Quer dizer, incorporaram a atividade industrial e, com isso, supervalorizam a produção agrícola. Para fazer o cálculo das exportações de soja, por exemplo, além do grão de soja exportado, também se consideram as vendas de farelo e óleo, que são produtos industrializados. O mesmo ocorre com o suco de laranja e o açúcar”, explica.
O setor também não é o maior responsável pela geração de empregos no campo. Oliveira destaca que dos 17,9 milhões de brasileiros empregados no campo, 87,3% trabalhavam em pequenas propriedades, 10,2% em médias e 2,5% em grandes áreas. “Do ponto de vista da produtividade, a pequena alcança os mesmos patamares que a grande propriedade. A produtividade da lavoura de soja no Paraná, cultivada em pequenas e médias unidades, é igual a do Mato Grosso, onde ela é produzida em médias e grandes. Qual a diferença? O Paraná usa mão-de-obra e o Mato Grosso usa máquinas. A questão é que a exploração na grande propriedade é poupadora da mão-de-obra”, afirma Oliveira. “Há um certo endeusamento do agronegócio e a razão é ideológica, para fazer frente aos movimentos sociais”, complementa. E eles têm força para isso.
“Hoje a concentração de terras no Brasil é sustentada pelos que defendem os interesses e os privilégios dessa parcela da população que controla as terras, as políticas públicas e o governo”, critica Bernardo Mançano.
A bancada ruralista no Congresso Nacional é um dos principais eixos políticos em que se apóia o agronegócio. Estudo feito pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) analisa a atuação desse grupo de parlamentares na história política recente do país. Segundo o levantamento, o número de parlamentares da bancada ruralista cresceu desde a legislatura de 1985, atingindo seu auge em 1994 quando alcançou 117 integrantes. “Na atual Legislatura (2003/2006), o número caiu para 73 – mas isso não quer dizer perda de força porque a bancada tem capacidade de mobilizar os outros setores do Congresso em prol dos seus interesses”, diz o estudo.
A organização cita como exemplo um episódio ocorrido ainda no início do governo Lula. “Os ruralistas exigiram do governo que mantivesse intacta a medida provisória que suspende as vistorias nas áreas ocupadas pelos movimentos sociais e que penaliza os agricultores sem-terra que participam das ocupações. Diante das ameaças de retaliação nas votações do Parlamento, o ministro José Dirceu, da Casa Civil, declarou que o governo tinha desistido de promover a revisão da MP. Mas o Incra ainda defende a alteração.”
Especulações
O outro nó econômico da questão fundiária no país é a improdutividade das terras. A Comissão Pastoral da Terra – entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – considera que 62,4% da área do total dos imóveis rurais no país é improdutiva. Isso acontece porque a terra tem importância por seu valor de mercado. Ganha-se produzindo em uma propriedade rural, mas também ganha-se deixando-a parada, esperando a especulação imobiliária cumprir seu papel aumentando o valor do hectare. O que pode vir a ocorrer com a instalação de infra-estrutura pelo governo ou mesmo da expansão da frente agrícola.
A Constituição de 1988 determina, entretanto, que todas as propriedades rurais devem cumprir sua função social e para isso devem produzir, respeitar o meio ambiente e os direitos trabalhistas de seus empregados. Embora esteja garantida por lei, a desapropriação das terras que não cumprem todos esses requisitos permanece entre as principais reivindicações dos movimentos sociais do campo.
“A terra no país é vista como reserva de patrimônio. Não se precisa da grande propriedade para usá-la economicamente, é sim para servir de garantia ao sistema financeiro para as outras atividades econômicas. Ou para receber incentivos fiscais do governo”, aponta Ariovaldo.
Na sanha por adquirir mais terras, falsificam-se documentos de propriedade (prática conhecida pelo nome de grilagem) e expulsam-se antigos moradores. Há terra que foi cercada sem que os proprietários tivessem documentos para provar que poderiam cercá-la. São quase 170 milhões de hectares de terras devolutas (públicas) cercadas. O dia que o governo federal cumprir a lei do novo cadastro fundiário e fizer a medição por georeferenciamento, vai saltar aos olhos o excesso de terra pública grilada. Hoje, no Brasil, nenhum órgão público é capaz de dizer quem é proprietário do quê. Mesmo o Incra tem grandes dificuldades para analisar as cadeias dominiais das fazendas.
Os discursos que utilizam os bons números da produção agrícola nacional em favor apenas do agronegócio e difundem a imagem de latifúndios modernos e lucrativos tentam esconder o altíssimo grau de concentração fundiária em nosso país. Também tentam omitir que a existência do latifúndio não permite a redução das desigualdades sociais porque expulsa o homem do campo e mantém a concentração de oportunidades de geração de renda nas mãos de poucos.
Para além da questão econômica, a superexploração do meio ambiente e o acirramento dos conflitos no campo também são parte dessa história em que o latifúndio é protagonista há mais de 500 anos. Eles serão os temas abordados nas próximas reportagens.
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