O perigo da contaminação por agrotóxicos

 20/07/2006

O uso intensivo de agrotóxicos é uma das facetas mais preocupantes da expansão do agronegócio no país. "Vários parques nacionais, áreas de conservação e áreas indígenas são ameaçados por agroquímicos, em função de atividades agrícolas em suas vizinhanças", alerta o diretor de Qualidade Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Marcio Rodrigues de Freitas.

O Brasil é o terceiro país que mais consome agrotóxicos no mundo. O Ibama calcula que no ano passado utilizou-se 208 mil toneladas de produtos químicos, sendo que quase a metade foi consumida apenas em São Paulo (lar da indústria ligada à agricultura) e Mato Grosso (ponta-de-lança do agronegócio). O país não possui, entretanto, dados nacionais que informem o grau de contaminação dos solos e rios. De acordo com o diretor do Ibama, o Conselho Nacional de Meio Ambiente tem discutido a criação desses índices. Hoje, antes de autorizar o uso de um agrotóxico na lavoura, o instituto estuda o impacto do produto sobre o meio ambiente. Mas são os órgãos estaduais de meio ambiente os responsáveis por fiscalizar a aplicação das substâncias ou acrescentar restrições aos produtos levando em conta as particularidades da região.

Apesar de não haver um levantamento nacional, é possível saber que a contaminação dos solos por uso de fertilizantes ou agrotóxicos atinge número expressivo de cidades brasileiras. Segundo pesquisa do Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE) realizada em todo o país, 20,7% das cidades (1.152) indicaram casos de contaminação por agrotóxicos ou fertilizantes. Entre os estados, a maior proporção de municípios com contaminação foi verificada em Santa Catarina (56%) e, no outro extremo, Amapá e o Piauí registraram as menores proporções do país, ambos com 2%.

Ainda de acordo com o relatório, a poluição das águas provocada por agrotóxicos ou fertilizantes é um problema para 16,2% (901) dos municípios brasileiros. Na Bacia Costeira do Sul, 31% dos municípios registraram poluição da água por agrotóxicos, e nas bacias do Rio da Prata e Costeira do Sudeste, a proporção foi de 19%.

Os produtos químicos também ameaçam o maior reservatório de água doce subterrânea do mundo, o Aqüífero Guarani – que alcança oito estados brasileiros e parte da Argentina, Paraguai e Uruguai. "Por enquanto, devemos falar somente em risco potencial de contaminação, uma vez que os produtos identificados ainda estão em concentrações muito baixas", afirma Marco Antonio Ferreira Gomes, geólogo e pesquisador da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa).

A pesquisa coordenada por Gomes concluiu que algumas áreas do Aqüífero, como Ribeirão Preto, nascentes do Rio Araguaia, em Goiás e Mato Grosso, e no Rio Grande do Sul, estão bastantes vulneráveis à contaminação. "Normalmente, as atividades de agricultura de grãos, como soja, milho e cana-de-açúcar, são as que utilizam grande quantidade de agrotóxicos, principalmente herbicidas que oferecem maior risco para a água porque são aplicados no solo, muitas vezes, antes da germinação da erva-daninha."

O professor explica que o principal objetivo de sua pesquisa é propor o uso agrícola sustentável, com baixo uso de produtos químicos. "As concentrações encontradas não caracterizam contaminação, mas os resíduos tóxicos encontrados estão limitados às regiões de atividade agrícola intensiva." Mais do que pelos agrotóxicos, segundo o pesquisador, o Aqüífero é ameaçado pelos depósitos de lixo urbano e pelos resíduos industriais.

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