O grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) libertou, nesta quarta-feira (20), 43 trabalhadores que estavam submetidos a condições análogas à escravidão nas fazendas Castanhais e Rio Fresco, ambas no município de Cumaru do Norte, no Sul do Pará. Dois adolescentes de 17 anos estavam entre os resgatados. O gerente das fazendas, Sebastião Lourenço, que se declarou responsável pelos trabalhadores, desembolsou R$ 116 mil com rescisões trabalhistas. O proprietário das terras ainda não foi identificado.
De acordo com a auditora fiscal do trabalho Virna Damasceno, coordenadora da ação, o grupo móvel saiu de Redenção (PA) e levou dois dias para percorrer 280 km em rodovias em péssimas condições de conservação. Quando a equipe chegou à fazenda Rio Fresco, os auditores perceberam uma movimentação suspeita. Para fugir da fiscalização, trabalhadores eram retirados da propriedade de caminhão. Até um avião chegou a decolar com empregados à bordo. Apenas em Redenção, quando regressou, o grupo móvel conseguiu localizar as pessoas que abandonaram o local.
Trabalhando para as duas fazendas há três meses na construção de cercas para o gado, os trabalhadores dormiam em barracos de lona plástica e não tinham carteira de trabalho assinada. Assim que foram contratados, já contraíram dívidas com o "gato"(contratador de mão-de-obra a serviço do fazendeiro), que lhes forneceu vales para comprar comida, botas e chapéu em um supermercado da região. O valor seria descontado quando recebessem o salário, que estava atrasado. "É uma condição típica de trabalho análogo à escravo. A restrição de liberdade se fazia pelo isolamento geográfico", explica Virna.
O artifício de esconder os trabalhadores com a chegada da fiscalização é uma das dificuldades mais enfrentadas pelos grupos móveis. No último dia 19, em Paranatinga, no Leste do Mato Grosso, outra ação do MTE flagrou 11 trabalhadores sendo retirados às pressas da fazenda Nossa Senhora de Aparecida, e descobriu que outros 33 já haviam deixado o local antes da chegada dos auditores.
Tristes dados
Flagrantes de trabalho escravo e degradante já estão se transformando em rotina em Cumaru do Norte, município de fronteira agrícola amazônica. No início de junho, 16 pessoas que aplicavam agrotóxicos na fazenda Terra Roxa, no mesmo município, estavam submetidas a situação degradante e foram resgatadas pelo grupo móvel. Ao mesmo tempo, na "lista suja" do trabalho escravo figuram quatro fazendas de Cumaru do Norte, totalizando 568 trabalhadores libertados.
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