Mais rigidez

Entidades cobram na OEA a erradicação do trabalho escravo no Brasil

CPT e Cejil pedem que Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos solicite ao governo brasileiro políticas de prevenção mais fortes e o fim da impunidade ao crime. Representantes do governo mostram avanços significativos na área
Por Iberê Thenório
 23/10/2006

CPT e Cejil reconhecem avanços do governo, mas exigem erradicação definitiva do trabalho escravo (Foto: CPT/Divulgação)

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil), em reunião da Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), realizada em Washington na última quinta-feira (19), cobraram do governo brasileiro a eliminação do trabalho escravo no Brasil. O evento foi marcado a pedido das duas entidades para tratar especificamente do tema. Representando o Governo Federal, participaram da reunião membros do Itamarati, Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) e Advocacia Geral da União (AGU).

No relatório entregue à OEA, CPT e Cejil admitem que o governo brasileiro realizou um esforço significativo para combater o trabalho escravo, mas a erradicação ainda está longe de acontecer. Para as entidades, os principais entraves para que isso ocorra são as poucas condenações penais, a atuação insuficiente do Ministério Público e da Polícia Federal, a resistência do congresso em aprovar a "PEC do trabalho escravo" e políticas de prevenção – como reforma agrária e geração de renda – que não atingem todos os trabalhadores sujeitos a aliciamento para o trabalho escravo. "Voltamos a insistir que o que interessa não é somente combater, mas sim erradicar o trabalho escravo", diz o frei dominicano Xavier Plassat, representante da entidade na reunião.

Os membros do governo, em resposta, afirmaram que o Brasil é tido como referência no combate ao trabalho escravo, fato reconhecido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em seu relatório "Uma aliança global contra o trabalho forçado" , lançado em 2005. Também foi citado o crescimento do número de fiscalizações, que teriam aumentado 172,8% nos últimos três anos, enquanto o número de trabalhadores resgatados havia crescido 195,6% no mesmo período. Como uma das políticas mais eficazes de combate à escravidão, o governo mencionou a criação da "lista suja" do trabalho escravo, onde figuram empregadores que comprovadamente utilizaram esse tipo de mão-de-obra. "Avançamos muito. O Brasil tem dimensões continentais, não é simples erradicar o problema", afirma a assessora internacional da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), Cristina Timponi, uma das representantes do governo na reunião.

Acordo contra a escravidão
Em 2003, para para evitar uma condenação internacional por trabalho escravo, o Estado brasileiro assinou um acordo com a Organização dos Estados Americanos (OEA) em que assumiu vários compromissos para erradicar o problema. O processo contra o Brasil foi instaurado devido à inoperância dos governos em julgar os culpados de tentar assassinar o trabalhador Zé Pereira, baleado em setembro de 1989 ao tentar fugir de uma fazenda que o mantinha em situação análoga à escravidão no Sul do Pará.

 Relatório entregue pela CPT e Cejil à OEA

 Relatório entregue pelos órgãos do Governo Federal à OEA

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