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Fiscalização flagra trabalho escravo em terras de reitor

Fazenda de Marcelo Palmério, reitor da Universidade de Uberaba (Uniube), é flagrada com 164 trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão em Catalão (GO). Eles participavam da derrubada de árvores para a venda da madeira

A fazenda produz madeira, mas os empregados são alojados em casas de tábua podre e chão batido, com paredes cheias de frestas por onde entram ratos e chuva. Endividados, os trabalhadores eram obrigados a pagar pela comida e pelas ferramentas de trabalho. Foi nessas condições que o grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) encontrou na última terça-feira (17) os 164 trabalhadores da Fazenda Batalha dos Nunes, no município de Catalão (GO). A escritura da terra indica que a propriedade pertence a Marcelo Palmério, reitor da Universidade de Uberaba (Uniube), e a sua esposa, Vera Maria Marquez Palmério.

As informações sobre o flagrante são do auditor fiscal do trabalho e coordenador da ação, Humberto Célio Pereira. De acordo com ele, as condições de trabalho dos libertados eram péssimas. As mulheres e filhos dos trabalhadores também viviam nos alojamentos precários, em meio ao mau cheiro e sem banheiro ou energia elétrica. Além disso, os empregados eram transportados em caminhões antigos utilizados para carregar madeira. A comida era preparada nas casas pela manhã e alojada em recipientes inadequados. Quando chegava a hora do almoço, as refeições muitas vezes já estavam impróprias para consumo. "Eles se alimentavam ao relento, na chuva no sol…", conta.

Os dados apurados pelo auditor apontam ainda para uma tentativa de burlar a legislação trabalhista com a utilização de empresas terceirizadas. A Vale do Rio Grande Reflorestamento Ltda, companhia responsável pelo corte do pinus, também de propriedade de Marcos Palmério, terceirizava seus serviços para pequenas empresas cujos donos eram os trabalhadores da própria fazenda. Esses, por sua vez, contratavam outros peões para a derrubada das árvores. "A empresa quer se eximir de sua responsabilidade, além de terceirizar a atividade-fim da empresa, o que é ilegal. Esses outros pseudo-empregadores moram nas mesmas situações dos outros trabalhadores. Nenhum deles tem capacidade financeira para manter um negócio", declara Humberto.

A fazenda também possuía um mercado e um posto de gasolina, onde os trabalhadores compravam comida, equipamentos de proteção e até mesmo corrente ou combustível para as motosserras. As dívidas eram anotadas em cadernos e eram descontadas do salário dos empregados no final do mês. "Os preços praticados eram acima do mercado, e o trabalhador não tinha controle de suas dívidas", afirma o auditor fiscal, que apreendeu 31 blocos com anotações de compras feitas pelos trabalhadores.

O gerente de reflorestamento da fazenda contou à fiscalização que, entre os compradores do pinus produzido na área, estavam as empresas Eucatex, Cagill e Ultrafértil.

Ainda não foram calculadas as multas e encargos trabalhistas, mas Humberto estima que o valor a ser desembolsado passará de R$ 200 mil.

Cidadão ilustre
Marcelo Palmério é figura conhecida no triângulo mineiro. Seu pai, o escritor Mário Palmério, foi deputado federal, embaixador do Brasil no Paraguai e membro da Academia Brasileira de Letras. Em 1947, Mário fundou a Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, que mais tarde deu origem à Uniube, da qual hoje Marcelo é reitor.

A reportagem tentou entrar em contato com Palmério, mas até o fechamento desta matéria não houve resposta.


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14 Comentários

  1. ronaldo da silva

    Fala o que de um cidadão desse nível, um reitor, pessoa ilustre na cidade, e ter uma atitude desta, essa pessoa só merece desprezo, nem para dar aula deveria se mais permitido, deveria apodrecer em um tronco, como nos temos da escravidão. Será que a Universidade ainda o terá como reitor, porque se permanecer, serão todos farinha do mesmo saco.

  2. MARCIA HELENA ELERATE

    Que vergonha! Um homem intelectual, reitor, era para ser exemplo para os alunos, e náo fazer uma barbaridade como essa!!! Isso é inadmissível. Temos que dar um basta nos medíocres.

  3. dalberto

    marcelo alem de ser sem vergonha e ladrão, cuidado pro seu filho não ir pro mesmo caminho vc pensa so porque é reitor da PIOR universidade, se é que se pode chamar aquilo de universidade, sua pena vai dar em pizza, esta enganado DR. MARCELO a rede globo esta de olhol VOCE VERA O QUE É BOM TER UM NOME IMUNDO , PORQUE SUJO O SEU JA É

  4. CARMEM LUCIA

    MARCELO ESTA PAGANDO CARO POR TUDO QUE ELE JA FEZ OS ALUNOS PASSAREM, NO ENTANTO A UNIUB É CHAMADA DE UNICLUB. MARCELO , QUEM PLANTA CHUVA COLHE TEMPESTADE VIU.

  5. SILVIA

    MARCELO, FELIZMENTE FOI DESCOBERTA A SUA FRAUDE ALÉM DE COBRAR MENSALIDADE EXORBITANTE, TEM AINDA AS FRAUDES DENTRO DA PROPRIA UNIUB ALIAS TODOS DISSEM UNICLUB

  6. Juliana

    Quanta injustiça! Uma familia que trouxe o progresso para uma cidade e região. A UNIUBE é a maior empregadora da cidade, atrás apenas da Prefeitura. Que criou um programa de ingresso para estudantes da escola pública antes mesmo de existir o PROUNI – que hoje é a estrela do LULA. Acho que antes de escreverem o que querem devem verificar os fatos. Nesta fazenda tem uma escola com a qualidade de uma escola particular. Ouçam seus funcionários e verifiquem a opinião deles a respeito seu patrão.

  7. Raphael Ilidio Arduini

    Que pouca vergonha, eu fico enojado com toda essa lambança, infelizmente Marcelo Palmério, envergonha todos nos alunos da Universidade de Uberaba, em especial os de Jornalismo como eu, por ter que ver uma matéria como essa estampada em todos os jornais da região, aonde irá para em Magnífico Reitor Escravocrata!

  8. Ex Funcionário da Uniube

    A Uniube também não fica atrás das empresas de propriedade do Reitor Marcelo Palmério. As decisões são pautadas por atos não éticos oriundos de profissionais sem qualificação para dirigir uma Instituição com mais de 19.000 alunos. Nos bastidores da Instituição pairam perseguições a funcionários, falta de engajamento profissional, ética, imparcialidade e competência para oferecer um ensino de qualidade, tanto no nível acadêmico quanto no nível administrativo. O que se na realidade é uma instituição de ensino que muito se fala em responsabilidade social e pouco se faz.

  9. Marcos Paulo

    Triste notícia. Mas não podemos deixar que um fato como esse respingue na imagem da UNIUBE. Existem muitas pessoas sérias e competentes na universidade e que, com certeza, estão chocadas e decepcionadas com essas informações. Quem conhece a UNIUBE sabe que seus professores e diretores são sérios e estão comprometidos com a qualidade do ensino, diferentemente de centenas de outras instituições espalhadas pelo país. O erros de um de seus funcionários, mesmo que este seja o reitor, não podem ser atribuídos a toda a instituição e comprometer o futuro de alunos, professores e colaboradores. Espero que os reponsáveis por esse crime sejam exemplarmente punidos.

  10. Samsara

    Como em qualquer outra situação, independente de quem quer que seja o acusado, é preciso apurar! Se for o caso, se for a verdade… a justiça deve cumprir ao q se presta e julgar devidamente a situação.

  11. Carlos Roberto

    Acho um absurdo em pleno século XXI, o trabalho escravo e o pior o homem escravizando a sua própria espécie. Agora, em relação a matéria divulgada no Jornal: REPORTER BRASIL dia 19/10/2006, é um abuso da liberdade de expressão. Acredito o que foi divulgado na imprensa, considero um grande furo de reportagem. Agora, o que esta acontecendo com a imprensa do nosso Brasil?

  12. Thaisy Perotto

    Como assim? Reitor escravizando? Não, não pode ser… Deve haver algum equívoco. Não condiz com a cultura e educação de um culto cidadão, portador de tal cargo, cometer, em nome do lucro, tamanho atentado à dignidade humana. Lamentável! E a PEC 438/01 repousa em berço esplêndido no Congresso. Até quanto???

  13. Silvano Lima Rezende

    É inacreditável que uma pessoa possa ter a coragem de ser tão desumano a tal ponto de escravisar pessoas inocentes, ainda mais aproveitando da situação de miséria…

  14. Famscrow

    Pronto, pra quem duvidou ele foi condenado.

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