Economia solidária

Projeto para prevenção ao trabalho escravo é premiado no MA

Com a proposta de criar cooperativas de papel reciclável e produtos de limpeza, o Projeto Reciclar a Cidadania - um dos vencedores do concurso Petrobrás Fome Zero - tem como público-alvo pessoas em risco de se tornarem escravas
Por Beatriz Camargo
 11/10/2006
 
 Além de aulas práticas para a produção, os selecionados terão cursos de cooperativismo e gestão (Fotos: CDVDH)

A geração de renda é uma importante aliada na luta pela erradicação do trabalho escravo. Se há oportunidades econômicas em sua cidade, o trabalhador rural não será obrigado a se afastar da família para buscar um destino incerto em fazendas distantes, correndo risco de ser atraído por propostas enganosas de trabalho. É esse o principal objetivo do Projeto Reciclar a Cidadania, elaborado pelo Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia (CDVDH), no sul do Maranhão, um dos 76 ganhadores do Concurso Petrobrás Fome Zero. Focado no desenvolvimento com cidadania, o concurso da estatal de petróleo prioriza ações educativas e de geração de emprego e renda existe desde 2004. Nessa edição, distribuiu um montante de R$ 20 milhões entre os selecionados.

Entre os projetos que venceram a competição e conseguiram recursos para se desenvolver, o Reciclar a Cidadania é dedicado integralmente à prevenção do trabalho escravo. Para selecionar os integrantes do projeto, a CDVDH deu prioridade aos interessados com mais dificuldades econômicas e que, portanto, correriam mais risco de serem vítimas da escravidão. A grande maioria dos 40 participantes mora na periferia de Açailândia.

Serão formadas duas cooperativas: uma para a reciclagem de papel e outra para fabricação de produtos de limpeza. Esta última já iniciou suas atividades e produz sabão em pedra, sabão líquido, água sanitária, detergente e amaciante. "O grupo já está produzindo tudo de limpeza para o Centro, só compramos a matéria-prima", comemora Carmen Bascarán, presidente do CDVDH. O prêmio Petrobrás Fome Zero repassará cerca de R$ 200 mil para serem aplicados durante um ano na formação dessas cooperativas.

 
 As coperativas de fabricação de brinquedos e produção de "carvão ecológico" também trabalham com a idéia de aproveitamento de materiais

O projeto tem várias etapas e inclui cursos de formação sobre cooperativismo e gestão de negócios – fase que já acompanha a produção e a comercialização das mercadorias. Ao mesmo tempo, o CDVDH também vai oferecer aulas de alfabetização aos participantes.

Os cursos de formação terão início em fevereiro de 2007 e, cerca de seis meses depois, os participantes deverão receber os primeiros ganhos com o projeto – em torno de um salário mínimo. Os próprios integrantes decidem o quanto irão produzir e por que preço venderão suas mercadorias. "Não há uma programação prévia, que nós impomos. Eles mesmos vão colocando suas metas e aos poucos vão se apropriando da cooperativa", esclarece Bascarán.

Reaproveitamento
A cooperativa de produtos de limpeza surgiu por meio de parceria do Centro com o centro de Capacitação Tecnológica do Maranhão (Cetecma), que ofereceu a capacitação e deu apoio à criação do núcleo.

Já o curso de papel reciclado é uma proposta que o CDVDH desenvolve há três anos com ações que associam geração de renda e desenvolvimento sustentável. Atualmente, o Centro possui dois núcleos de reaproveitamento de resíduos que produzem o "carvão ecológico" (feito a partir do pó de carvão não utilizado pelas siderúrgicas) e brinquedos fabricados com restos de madeira.

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