Jair Rattner, de Lisboa
A maior parte das mulheres que são levadas para Portugal vítimas do tráfico para a prostituição é formada por brasileiras. Este é um dos resultados preliminares de um estudo sobre o tráfico humano para exploração sexual que está sendo realizado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Segundo a pesquisadora Madalena Duarte, que apresentou nesta semana os resultados parciais do estudo, ainda não é possível determinar uma percentagem definitiva das brasileiras no total das vítimas.
"Ainda estamos computando os dados, que foram fornecidos pela Polícia Judiciária, pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e por organizações não-governamentais", afirma. "Mas todas essas entidades falam que cerca de 80% das vítimas de tráfico para a prostituição são brasileiras."
O estudo, coordenado pelo professor Boaventura Sousa Santos, de Coimbra, começou em fevereiro deste ano e vai terminar em junho de 2007. Estudos semelhantes estão sendo realizados em vários países europeus.
Dois grupos
Na pesquisa, foram identificados dois tipos de grupos que realizam o tráfico: o que trabalha com mulheres do Leste Europeu e outro que trabalha com brasileiras.
"Os grupos da Europa Oriental são mais organizados e, com eles, isso está normalmente associado a outros tipos de crimes como o tráfico de droga, o tráfico de armas, de mão-de-obra e a lavagem de dinheiro", afirma Madalena.
"O tráfico de mulheres é um negócio atrativo por ter baixo risco e lucro máximo. Além disso, as mulheres pagam para vir", acrescenta.
Uma das características do tráfico, de acordo com o estudo, é o regime de endividamento, que leva à escravidão, o que ocorre tanto com brasileiras como com gente do Leste Europeu.
"Eles retiram os passaportes e os vistos e ameaçam entregar à polícia, que iria repatriá-las. Elas vão acumulando dívidas, o que gera uma situação de escravidão", descreve a pesquisadora da Universidade de Coimbra.
Madalena Duarte conta ainda que não há uma região portuguesa com maior incidência de tráfico de mulheres.
"Esse fenômeno está espalhado por todo o país. Não se confina aos centros urbanos", avalia. "No entanto, as zonas de maior impacto são Lisboa, o norte de Portugal e o Algarve."
Estereótipo
Para evitar que sejam criados laços, que poderiam romper com a situação de escravidão, as mulheres nunca passam muito tempo em um local.
Mesmo nos itinerários para chegar ao país, as redes de tráfico procuram evitar o contato com as autoridades.
"Segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, as mulheres que vêm do Brasil, por falarem a mesma língua, poderiam ser interrogadas e revelar a rede", diz a pesquisadora. "Normalmente, elas entram por Paris, Madri ou outros países europeus."
Madalena afirma que não são só as vítimas de tráfico que sofrem, mas todas as brasileiras, já que o tráfico "criou um estereótipo em relação às brasileiras".
Como resultado do estudo, um Observatório do Tráfico de Mulheres e uma casa-abrigo para as vítimas serão criados após junho de 2007.