Aliança combate trabalho escravo

 15/12/2006

PATRÍCIA AUDI, coordenadora Nacional do Projeto de Combate ao Trabalho Escravo da OIT no Brasil

O Brasil é o melhor exemplo no combate ao trabalho escravo em todo o mundo, reconhecido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em seu relatório Uma Aliança Global contra o Trabalho Forçado em 2005. O trabalho coordenado da CONATRAE, comissão responsável pela implementação dessa política, é a grande responsável por esse sucesso.

Além do trabalho incansável dessa Comissão, o Brasil vem demonstrando inovação, coragem e determinação de seu setor produtivo, ou de pelo menos parte dele, quando anunciamos as melhores práticas empresariais conhecidas internacionalmente em busca de soluções para a erradicação desse grave problema.

Baseado em estudos da cadeia produtiva do trabalho escravo, a OIT, a Ong Repórter Brasil e o Instituto Ethos coordenaram a elaboração de dois Pactos Nacionais contra o Trabalho Escravo. O primeiro, firmado pelo setor siderúrgico em agosto de 2004 e o segundo, assinado em maio de 2005 por mais de 80 grandes empresas nacionais e multinacionais que, dentre as inúmeras cláusulas, comprometem-se a não adquirir produtos oriundos de fazendas que praticam esse crime.

Queremos destacar então a exitosa experiência da Associação das Siderúrgicas de Carajás (Asica), que assinou o primeiro acordo. A Associação criou em 2004 o Instituto Carvão Cidadão (ICC), uma Ong cujo objetivo principal é erradicar o trabalho escravo em sua cadeia produtiva. Já foram realizadas 945 fiscalizações independentes nas carvoarias que alimentam os fornos das siderúrgicas e cancelados 253 contratos de fornecimento de carvão por não cumprirem as normas trabalhistas e as orientações determinadas pelo Instituto.

Não satisfeito apenas em inibir a prática criminosa no setor, o ICC ainda foi mais além: vem promovendo a integração de trabalhadores libertados pelo Grupo Móvel de Fiscalização do MTE, identificando, qualificando e estimulando que as empresas da ASICA empregassem 53 pessoas resgatadas em condições de escravos, dando-lhes, pela primeira vez, a oportunidade de uma vida digna e livre. O ICC vem dando inúmeros passos à frente como exemplo de uma política pública que deveria ser instituída nacionalmente.

Presente em Imperatriz (MA) e Marabá (PA), a Ong ainda encontra resistências internas. Não falamos que problemas não existem e que há consenso de todas as siderúrgicas quanto à importância do papel do Instituto nesse contexto. Até mesmo porque vem tratando o assunto com a transparência e o conhecimento total da CONATRAE. Ressaltamos, entretanto, que apesar das dificuldades, o ICC vem exercendo a melhor prática mundial de responsabilidade social no combate ao trabalho escravo conhecida pela OIT.

Tal exemplo deveria ser seguido por outros setores, principalmente aqueles ligados à produção agropecuária., não importa se por motivações sociais ou até mesmo comerciais. A gravidade do problema do trabalho escravo no Brasil e o descaso de poucos pode de maneira substantiva prejudicar toda uma atividade econômica do País, que emprega legalmente seus funcionários, paga impostos, gera divisas e utiliza-se de práticas leais de concorrência perante seus pares.

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