Moda engajada

 10/12/2006

Cada vez mais, estilistas, grifes e lojas se envolvem em causas sociais no Brasil e no mundo

Daniela Nahass, da equipe do Correio

Moda é uma coisa fútil. Certo? Errado. O mundo fashion alimenta-se de glamour, celebridades e luxo. Mas há alguns anos uma outra faceta da moda tem aparecido, tanto no Brasil quanto no exterior. Estilistas, empresários e marcas famosas estão se mobilizando por causas nobres como campanhas contra o câncer, o trabalho escravo, além de ajuda a comunidades carentes.

Lá fora, Marc Jacobs, estilista da Louis Vuitton, tirou a roupa de atrizes famosas para conscientizar as pessoas sobre os riscos do câncer de pele. Em uma foto, a atriz Winona Ryder aparece nua, de costas, com uma placa com o seguinte aviso: "Save your ass". Em uma tradução mais comportada: "Salve sua pele". As fotos dela e de outras celebridades, como Naomi Campbell e Julianne Moore, estão estampadas em camisetas e outdoors. A renda adquirida com a venda dos produtos será revertida para a escola de medicina da Universidade de Nova York, que estuda, combate e trata o câncer de pele.

Em Brasília, as empresárias Cláudia Galdina e Ana Cláudia Leão, proprietárias da loja de calçados Carmen Steffens, sempre vinculam o lançamento de uma coleção a uma ação voltada para o social. Elas apóiam a campanha nacional da marca "O câncer de mama no alvo da moda", feita em parceria com o Instituto Brasileiro de Controle de Câncer (IBCC). Os sapatos e as bolsas da marca trazem o famoso logo azul desenvolvido pelo estilista Ralph Lauren, e parte da renda arrecadada irá para a IBCC. "Essa é uma causa que temos orgulho em apoiar, principalmente porque diz respeito à saúde da mulher", diz Cláudia.

Para mudar
A designer de acessórios Evelena Carvalho, que vende em várias lojas de Brasília, decidiu ajudar as mulheres da Casa Abrigo do Distrito Federal. Lá, são acolhidas mulheres agredidas pelos companheiros. Em busca de segurança, elas se escondem com os filhos por tempo indeterminado. "Incentivei a inclusão social dessas mulheres introduzindo uma nova profissão: a de artesã." Evelena conta que uma vez por ano realiza um desfile em seu ateliê com as peças feitas por elas.

Outro exemplo é a já conhecida Daspu, fundada em 2005 pela ONG de prostitutas Davida, com sede no Rio, para fortalecer a luta contra a discriminação enfrentada pelas profissionais do sexo. A marca conquistou espaço na mídia com o apoio de atrizes como Betty Lago e Marisa Orth, que desfilaram ao lado das prostitutas. "Queria dar visibilidade à nossa causa e uma grife pareceu o melhor caminho", explica a criadora da Daspu, a ex-prostituta Gabriela Leite.

Trabalho escravo
A indústria na moda não está apenas preocupada com o trabalho escravo na China, que tem prejudicado a indústria têxtil brasileira por conta dos preços baixos. Por aqui, também tem gente alarmada com os brasileiros que são escravizados. A marca carioca de moda praia Zil surpreendeu ao levar esse tema para o seu último desfile no Fashion Rio. A diretora criativa da marca, Francis Petrucci, concebeu uma camiseta com um símbolo contra o trabalho escravo, que é vendida a R$ 49. O dinheiro arrecadado vai para a ONG Repórter Brasil, que faz parte da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. "Se a gente faz a moda só pela moda, chega uma hora que se pergunta: para quê?"

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