JOÂO CARLOS MAGALHÃES
THIAGO REIS
da Agência Folha
Quatro empresas que constam da nova "lista suja" do trabalho escravo ajudaram a eleger o governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), e o senador José Sarney (PMDB-AP), além de cinco deputados federais.
Ao todo, os vitoriosos receberam R$ 182 mil das empresas Simasa (Siderúrgica do Maranhão), Siderúrgica Gusa Nordeste, Pinesso Agropecuarista e Jorge Mutran Exportações e Importações, autuadas por manter funcionários em situação análoga à escravidão, segundo o Ministério do Trabalho.
A nova lista, atualizada semestralmente, foi divulgada há 15 dias pelo ministério.
A campanha de Déda recebeu R$ 50 mil da Simasa, que afirma ser signatária do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. Em duas unidades de responsabilidade da siderúrgica, do grupo Queiroz Galvão, no entanto, foram libertados 57 trabalhadores –45 no Pará e 12 no Tocantins. Ela está desde julho deste ano na lista.
Já a campanha de Sarney foi agraciada com R$ 50 mil da Gusa Nordeste. A siderúrgica é uma das novatas do documento. Sua inclusão deve-se à libertação de 18 trabalhadores em Açailândia (MA).
Entre os deputados eleitos está um ex-ministro do governo Lula: Eunício de Oliveira (PMDB-CE), que esteve à frente da pasta de Comunicações e foi o segundo mais votado do Estado nestas eleições. A Simasa doou a ele R$ 25 mil.
Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é outro que teve a campanha financiada pela Simasa e que ficou como o segundo melhor colocado no Estado. Ele também ganhou R$ 25 mil da empresa.
Um dos líderes da bancada ruralista, o deputado reeleito Abelardo Lupion (PFL-PR), recebeu R$ 2 mil da Jorge Mutran Exportações e Importações, que já foi autuada três vezes pelo grupo móvel do Ministério do Trabalho. Somadas essas três operações, foram libertados 101 trabalhadores da Fazenda e Castanhal Cabeceiras, no Pará.
Fogo
Dagoberto Nogueira Filho (PDT-MS), eleito deputado federal, recebeu R$ 5 mil da Pinesso, na lista desde 2004. De uma fazenda da empresa, em Dom Aquino (MT), foram libertados 52 funcionários.
Nogueira Filho foi quem propôs, na Assembléia Legislativa, a alteração de uma lei para permitir a ampliação de usinas de álcool na região do Pantanal.
A proposta gerou protestos, como o do ambientalista Francisco Anselmo Gomes de Barros, que morreu após atear fogo a seu corpo, em 2005.
Já José Mendonça Bezerra (PFL), pai do ex-governador de Pernambuco, recebeu R$ 25 mil da Simasa.
Derrotados
O senador Garibaldi Alves (PMDB), que foi derrotado na disputa ao governo do Rio Grande do Norte, e outros dois deputados que não venceram também receberam doações das empresas. Alves, que tem mandato até 2011, recebeu a maior doação da Simasa: R$ 60 mil.
A "lista suja" contém 169 empregadores flagrados explorando funcionários. Eles não podem mais recorrer no MTE.
Apesar de não ter valor jurídico, o documento pode impedir o acesso dos empregadores a créditos de bancos públicos e de algumas instituições privadas. Os incluídos também perdem clientes, já que há empresas que se negam a adquirir mercadorias das fazendas.
A retirada definitiva dos nomes pode ocorrer se, no prazo de dois anos, os problemas encontrados pela fiscalização forem sanados.
Outro lado 1
O governador Marcelo Déda (PT-SE) afirmou que não sabia do envolvimento da Simasa com trabalho escravo, segundo Clóvis Barbosa, do comitê financeiro de sua campanha.
O senador José Sarney (PMDB), reeleito no Amapá, disse, por meio de sua assessoria, que "se abstém de fazer comentários" acerca da doação recebida pela Gusa.
O coordenador de campanha do deputado Eunício de Oliveira (PMDB-CE), César Pinheiro, afirmou que o dinheiro foi dado pelo grupo Queiroz Galvão, proprietário da Simasa, e que desconhece essa empresa. "Eles é que a usaram para fazer a doação."
A assessoria do deputado Dagoberto Nogueira Filho (PDT-MS) disse que ele não sabia que a Pinesso constava da lista. Se soubesse, não teria recebido o dinheiro. "Foi uma surpresa."
A assessoria do deputado José Mendonça Bezerra (PMDB-PE) disse que entraria em contato com o parlamentar. Não houve retorno.
A assessoria do deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL) não ligou de volta. O deputado Abelardo Lupion (PFL-PR) não foi localizado.
O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), por meio da assessoria, disse que sabia da doação, mas desconhecia o envolvimento da Simasa com trabalho análogo à escravidão.
Outro lado 2
O diretor da Simasa André Câncio disse que a empresa repudia o trabalho análogo à escravidão e que as autuações que fizeram que a empresa constasse da lista ocorreram em propriedades rurais de terceiros, que prestavam serviços à Simasa. Segundo ele, os contratos foram rescindidos.
Já a Pinesso negou qualquer irregularidade na doação. A reportagem não conseguiu ouvir o funcionário autorizado a falar sobre a inclusão do nome da empresa na "lista suja".
A Folha mandou um e-mail para a gerência da Gusa Nordeste. Não foi foi respondido.
A reportagem tentou falar com Evandro Mutran e deixou recado no escritório de Délio Mutran. Não houve retorno.
Colaboraram FRANCISCO FIGUEIREDO e HUDSON CORRÊA, da Agência Folha