A Vara do Trabalho de São Félix do Araguaia, município na região Nordeste do Mato Grosso, condenou o fazendeiro Gilberto Resende a pagar R$ 1 milhão ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), a título de danos morais coletivos, por manter trabalhadores em condições análogas à escravidão. A decisão é de primeira instância e foi tomada em 16 de dezembro pelo juiz do Trabalho João Humberto Cesário. "Gilbertão", como é conhecido, pode recorrer da decisão.
No final de 1999, três trabalhadores conseguiram fugir da fazenda Inajá, de propriedade de Resende, localizada em São José do Xingu (MT). Eles acusaram o fazendeiro de utilizar capangas armados para vigiar 16 trabalhadores, que chegavam a ser espancados com golpes de corrente e levar pontapés.
Em um exame de corpo de delito realizado em uma das pessoas que fugiu, foram encontradas 29 escoriações nas costas e pescoço, entre outros ferimentos. Segundo a sentença de Cesário, os machucados "possuíam evolução compatível com a narrativa dos fatos e com o tempo decorrido entre a agressão e a realização do exame".
Além das ameaças e maus-tratos, o juiz afirma, em sua sentença, que os trabalhadores não recebiam salário, não eram registrados, trabalhavam sob jornada exaustiva e não utilizavam equipamentos de proteção individual (EPIs).
A Inajá chegou a ser fiscalizada após as denúncias, mas os outros trabalhadores já haviam deixado o local, e parte da propriedade havia sido vendida.
O julgamento aconteceu à revelia, pois o réu não apresentou defesa. Como a condenação é restrita à área trabalhista, Resende não pode ser preso. O fazendeiro também responde a um processo criminal e a dez processos por disputas de terra no Mato Grosso.
Procurado pela reportagem, o advogado constituído pelo fazendeiro no caso, Ildo Roque Guareschi, afirmou desconhecer o processo e não quis dar declarações.