Depois de libertar sete trabalhadores em uma fazenda no município de Pacajá, no Pará, no último dia 19, o grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) quase perdeu três de seus membros. No trajeto de 60 km de estrada de terra que separava a propriedade fiscalizada da Rodovia Transamazônica, uma das caminhonetes do grupo perdeu o controle e caiu em um barranco de cerca de 12 metros.
O carro levava um delegado, um agente da Polícia Federal e o motorista. Os auditores fiscais tentaram contato pelo rádio, mas os ocupantes do veículo não respondiam. "Demoramos uns quinze minutos para conseguir descer lá e descobrir que todos estavam bem", conta Virna Damasceno, auditora fiscal do trabalho e coordenadora da ação.
Após o resgate, as três vítimas, levemente feridas, foram levadas a um tumultuado hospital de Pacajá. A aglomeração de pessoas acontecia porque, pouco antes da queda da caminhonete, um empregado de uma serraria havia sofrido um grave acidente de trabalho. José Wilson Alves Pereira, de 28 anos, operava uma máquina chamada destopadeira. Enquanto serrava três troncos de árvores ao mesmo tempo, a serra escapou e ele foi atingido. José não resistiu aos ferimentos, e faleceu.
No dia seguinte, os auditores decidiram realizar uma inspeção na serraria. Descobriram que havia 13 trabalhadores sem registro em carteira e que a máquina destopadeira, que matara José, funcionava sem os devidos aparatos de proteção. Pela falta de segurança, os auditores interditaram o local.
Abandono
Na fazenda vistoriada pouco antes do acidente, em 19 de janeiro, o grupo móvel encontrou sete trabalhadores em condições análogas à escravidão. Eles não recebiam salário desde setembro, passavam fome e estavam abandonados à própria sorte. Entre os libertados estava um jovem de 14 anos.
Quando saíram em busca do empregador, os auditores foram informados de que o dono da fazenda também havia sofrido um acidente. Atingido pela queda de uma árvore, Ivan Rocha Medrado – conhecido como "Ivanzinho, o ruim do Arataú" – estava hospitalizado havia semanas. Os irmãos do fazendeiro foram localizados e aceitaram pagar a rescisão contratual dos trabalhadores libertados, que ficou em R$ 12 mil.