Violência

Pistoleiros expulsam Sem-Terra de fazenda do ex-deputado Janene

200 famílias foram obrigadas a deixar acampamento sob tiros. MST suspeita do envolvimento do ex-deputado na ação. Um trabalhador está desaparecido
Natália Suzuki
 16/01/2007

Na madrugada desta terça-feira (16), cerca de 40 pistoleiros armados e encapuzados invadiram um acampamento do MST na Fazenda 3 Jota, em Guaravera, distrito de Londrina (PR), e expulsaram as 200 famílias acampadas no local desde setembro do ano passado. A fazenda de 144 hectares pertence ao ex-deputado federal José Mohamed Janene (PP-PR).

De acordo com os sem-terra, os pistoleiros entraram na fazenda atirando. As famílias foram impedidas de retirar os seus pertences e foram levadas pelos próprios pistoleiros para o município paranaense de Tamarana. Segundo a assessoria do MST, as famílias estão abrigadas num espaço onde funciona uma cooperativa do movimento.

Um dos membros do movimento, o professor de educação João Batista, está desaparecido, no mais não há registro de feridos. As famílias suspeitam que Janene seja mandante do crime. Elas acusam o pistoleiro “Jairzão” de comandar a operação. Jairzão seria empregado e pistoleiro contratado pelo ex-deputado.

A reportagem da Carta Maior procurou Janene, mas foi informada pelo seu assessor de imprensa, Roberto Brasiliano da Silva, que ele está viajando. O assessor nega que pistoleiros tenham agido na fazenda 3 Jota. Segundo ele, as famílias haviam desocupado a propriedade nesta manhã, mas não se sabia a razão.

Reincidência
A ação dos pistoleiros não é inédita. Nos últimos quatro meses, as famílias acampadas sofreram perseguições, ameaças e atentados. Em decorrência desses acontecimentos, a organização não-governamental Terra de Direitos enviou um ofício, em outubro de 2006, à Ouvidoria Agrária Nacional e à Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp), denunciando a presença de milícia armada na região e as agressões sofridas pelos sem-terra por parte dos pistoleiros. Na época, a Sesp realizara uma diligência na fazenda, mas não foi constatada a presença de milícia.

De acordo com a assessora jurídica da Terra de Direito, Gisele Cassano, a ONG e o MST vão fazer uma nova denúncia nas duas instituições, relatando o despejo e a existência de milícia armada. “O objetivo é reiterar as denúncias anteriores, providenciar o mais rápido possível a investigação do trabalhador desaparecido, identificar e responsabilizar os pistoleiros da ação, além de investigar a origem das armas usadas no evento e responsabilizar o próprio deputado Janene”, explica Cassano. Segundo a assessora jurídica, dois pistoleiros já haviam sido presos pela polícia do Paraná hoje. A Relatoria de Despejos Forçados da ONU também será comunicada do acontecimento.

O acampamento do MST chegou a denunciar o desvio de dinheiro público para o acúmulo de patrimônio e especulação imobiliária do deputado. Janene foi acusado de ser beneficiário de R$ 4,1 milhões do suposto esquema do "mensalão" e também é réu em 13 ações civis públicas na Justiça paranaense. Em dezembro de 2006, o plenário da Câmara dos Deputados absolveu o deputado da cassação.

Diante da situação, os Sem-Terra exigem que as fazendas do deputado, que possam ter sido adquiridas com recursos de práticas de corrupção, sejam destinadas à Reforma Agrária e que o dinheiro desviado seja devolvido aos cofres públicos.

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