A Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) divulgou, nesta terça-feira (27), um relatório que ranqueou os municípios brasileiros pela incidência de homicídios em relação ao número de habitantes. Sua primeira grande constatação foi que a violência têm se espalhado pelo interior do país. Mais do que isso, ela se concentra especialmente nos municípios localizados sob o arco do desflorestamento amazônico e em áreas de expansão agrícola, no Norte do Mato Grosso e no Sul e Sudeste do Pará – justamente as áreas campeãs em casos de trabalho escravo.
A grande mancha de violência que se espalha pelas bordas da Amazônia Legal (veja mapa abaixo) abarca os dois estados que historicamente mais concentram casos de mão-de-obra análoga à escravidão. De 1995 a 2006, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), foram libertadas 4.553 pessoas no Mato Grosso e 8.177 no Pará, o que representa 56,8% dos casos brasileiros. Apenas em 2006, 444 pessoas ganharam a liberdade no Mato Grosso, enquanto no Pará foram 1.180 trabalhadores.
| Regiões brasileiras com maior taxa de homicídos | 
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| Fonte: Organização dos Estados Ibero-Americanos | 
A grilagem de terras, o desmatamento ilegal e a pressão do agronegócio por mais terras somados à fraca atuação do Estado são geralmente apontados como os principais ingredientes para que a violência prolifere na região.
Mesmo analisando separadamente os municípios mais violentos constata-se coincidência com os casos de escravidão. Entre os cem mais violentos do Brasil, em pelo menos 15 já foi encontrado trabalho escravo. Essas cidades estão concentradas em quatro estados: Mato Grosso, Pará, Roraima e São Paulo.
| Municípios que estão entre os 100 mais violentos do Brasil nos quais já foi encontrado trabalho escravo  | ||
| Colocação | Município | Taxa de homicídios  | 
| 7º | Tailândia (PA) | 104,9 | 
| 38º | Chupinguaia (RO) | 72,4 | 
| 39º | Marabá (PA) | 71,0 | 
| 42º | Iaras (SP) | 70,0 | 
| 44º | Sapucaia (PA) | 69,4 | 
| 55º | São Francisco do Guaporé (RO) | 66,6 | 
| 56º | Nova Ubiratã (MT) | 66,4 | 
| 58º | Nova Bandeirantes (MT) | 65,5 | 
| 59º | Novo Mundo (MT) | 65,2 | 
| 63º | Tapurah (MT) | 64,8 | 
| 65º | Brejo Grande do Araguaia (PA) | 64,2 | 
| 66º | Brasnorte (MT) | 64,1 | 
| 72º | Rondon do Pará (PA) | 62,7 | 
| 78º | Parauapebas (PA) | 61,8 | 
| 79º | Novo Repartimento (PA) | 61,7 | 
| 107º | Rio de Janeiro (RJ) * | 57,2 | 
| 182º | São Paulo (SP) * | 48,2 | 
* São Paulo e Rio de Janeiro constam na lista para efeitos de comparação. Fonte: Organização dos Estados Ibero-Americanos (índice de homicídios) e Ministério do Trabalho e Emprego (municípios onde houve libertações)
O relatório da OEI revela que a taxa de homicídios por habitantes dessas 15 cidades ultrapassa a de grandes metrópoles brasileiras. Marabá, no Sudeste do Pará, é uma das campeãs brasileiras de trabalhadores libertados, com 60 casos de trabalho escravo e 363 libertados entre 1969 e 2005, também segundo a CPT. Ao mesmo tempo, a cidade é uma das mais perigosas do país, registrando 71 homicídios a cada 100 mil habitantes no período medido pela OEI. Cidades conhecidas mundialmente por seus casos de violência, como São Paulo e Rio de Janeiro, registraram 48,2 e 57,2 homicídios, respectivamente.
A pesquisa da OEI foi realizada com base nos registros de óbitos do Ministério da Saúde. O cálculo da média de homicídios considera as mortes ocorridas entre 2002 e 2004, e a população dos municípios nessa época.
Leia o artigo de Leonardo Sakamoto sobre a violência na Amazônia
Leia a íntegra do relatório da Organização dos Estados Ibero-Americanos
 
								 
								