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Municípios mais violentos coincidem com os campeões em trabalho escravo

Relatório mostra que arco do desmatamento na Amazônia concentra municípios com maior índice de homicídios por habitante; região também é o maior foco de trabalho escravo

A Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) divulgou, nesta terça-feira (27), um relatório que ranqueou os municípios brasileiros pela incidência de homicídios em relação ao número de habitantes. Sua primeira grande constatação foi que a violência têm se espalhado pelo interior do país. Mais do que isso, ela se concentra especialmente nos municípios localizados sob o arco do desflorestamento amazônico e em áreas de expansão agrícola, no Norte do Mato Grosso e no Sul e Sudeste do Pará – justamente as áreas campeãs em casos de trabalho escravo.

A grande mancha de violência que se espalha pelas bordas da Amazônia Legal (veja mapa abaixo) abarca os dois estados que historicamente mais concentram casos de mão-de-obra análoga à escravidão. De 1995 a 2006, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), foram libertadas 4.553 pessoas no Mato Grosso e 8.177 no Pará, o que representa 56,8% dos casos brasileiros. Apenas em 2006, 444 pessoas ganharam a liberdade no Mato Grosso, enquanto no Pará foram 1.180 trabalhadores.

Regiões brasileiras com maior taxa de homicídos
(número de homicídios a cada 100 mil habitantes entre 2002 e 2004)

Fonte: Organização dos Estados Ibero-Americanos

A grilagem de terras, o desmatamento ilegal e a pressão do agronegócio por mais terras somados à fraca atuação do Estado são geralmente apontados como os principais ingredientes para que a violência prolifere na região.

Mesmo analisando separadamente os municípios mais violentos constata-se coincidência com os casos de escravidão. Entre os cem mais violentos do Brasil, em pelo menos 15 já foi encontrado trabalho escravo. Essas cidades estão concentradas em quatro estados: Mato Grosso, Pará, Roraima e São Paulo.

Municípios que estão entre os 100 mais violentos do Brasil nos quais já foi encontrado trabalho escravo
(Colocação entre os municípios mais violentos do país e índice de homicídos a cada 100 mil habitantes entre 2002 e 2004)

Colocação Município
Taxa de homicídios

Tailândia (PA)
104,9
38º Chupinguaia (RO)
72,4
39º Marabá (PA)
71,0
42º Iaras (SP)
70,0
44º Sapucaia (PA)
69,4
55º São Francisco do Guaporé (RO)
66,6
56º Nova Ubiratã (MT)
66,4
58º Nova Bandeirantes (MT)
65,5
59º Novo Mundo (MT)
65,2
63º Tapurah (MT)
64,8
65º Brejo Grande do Araguaia (PA)
64,2
66º Brasnorte (MT)
64,1
72º Rondon do Pará (PA)
62,7
78º Parauapebas (PA)

61,8

79º

Novo Repartimento (PA)
61,7
107º Rio de Janeiro (RJ) *
57,2
182º São Paulo (SP) *
48,2

* São Paulo e Rio de Janeiro constam na lista para efeitos de comparação. Fonte: Organização dos Estados Ibero-Americanos (índice de homicídios) e Ministério do Trabalho e Emprego (municípios onde houve libertações)

O relatório da OEI revela que a taxa de homicídios por habitantes dessas 15 cidades ultrapassa a de grandes metrópoles brasileiras. Marabá, no Sudeste do Pará, é uma das campeãs brasileiras de trabalhadores libertados, com 60 casos de trabalho escravo e 363 libertados entre 1969 e 2005, também segundo a CPT. Ao mesmo tempo, a cidade é uma das mais perigosas do país, registrando 71 homicídios a cada 100 mil habitantes no período medido pela OEI. Cidades conhecidas mundialmente por seus casos de violência, como São Paulo e Rio de Janeiro, registraram 48,2 e 57,2 homicídios, respectivamente.

A pesquisa da OEI foi realizada com base nos registros de óbitos do Ministério da Saúde. O cálculo da média de homicídios considera as mortes ocorridas entre 2002 e 2004, e a população dos municípios nessa época.

Leia o artigo de Leonardo Sakamoto sobre a violência na Amazônia

Leia a íntegra do relatório da Organização dos Estados Ibero-Americanos


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11 Comentários

  1. Julio Jacobo Waiselfisz

    Estimado Iberê Thenório: Achei de extremo interesse sua materia, que nos ajuda, e muito, a explicar essa manchas de horror nesse oeste do Brasi. Parabens pelo seu trabalho. Julio Jacobo Waiselfisz.

  2. Vilma Sousa Santana

    Infelizmente muitas dessas mortes violentas ocorrem no trabalho (na luta pelo uso da terra) e não são computadas como acidentes ocupacionais, ficando fora das estatísticas que poderiam comprovar esta faceta desse importante problema de saúde pública. Importante acrescentar também que a reforma agrária precisa ser considerada nesse contexto, tanto para a redução das mortes dos trabalhadores quanto também por potencialmente poder reduzir o trabalho escravo. Parabéns pela matéria e trazer conhecimento sobre um tão pouco estudado tema social e de saúde.

  3. paulo santana

    muito interessante, parebéns pela pesquisa e fornecimento de informação, mas qua tal colocar um mapa onde esteja representado os maiores indices de trabalho escravo do Brasil???

    muito obrigado pela atenção.

  4.  José Barbosa

    Rondon do Pará, é uma vergonha sem fim, é um cemitério vivo existente de forma vergonhosa no país. Um município sem governo, sem administrfação, é um fim de mundo, é uma coisa desastrosa. O governo deveria agir, mas não sei oque de melhor em troca ganha com o crime, trabalho escravo, e tudo que não presta está em Rondon do Pará-PA

  5. José Bento

    Aqui em Marabá os bandidos dominam a cidade, toda semana morre uma média de dez pessoas assassinadas.
    Assaltos são rotina. E quando Vc vai dar queixa na delegacia ainda passa humilhação, pois a falta de escrivão é constante. E quando tem escrivão na delegacia se forma uma fila sem fim . Já passei umas 4 horas de espera tentando registrar uma queixa !
    A policia até mostra boa vontade, desde que Vc dê combustivel para a viatura fazer diligência. Vivemos um caos aqui nesse lugar esquecido !

  6. fernando cl

    por quer? não se cria os conselhos de segurança publica municipal,uma vez estalado conselho, o povo tinha como cobrar do prefeito.porque o estado se mostrou até agora ineficiente no quesito segurança publica.

  7. Adão Costa Silva

    Até quando Brasil? Até onde Amazônia? A corda está esticada demais!! Ao estudar a capacidade de gestão de um conjunto de municípios dos Estados do Acre e Rondônia, constatei que os gestores públicos, no caso, municipais, não são portadores de habilidades e competências para planejar e desenvolver os municípios com equidade… Daí que no RJ, SP ou na Amazônia, a barbari corre solta. Como me disse uma Professora da Amazônia: ” Aqui a barbari anda despida a luz do dia, ninguém percebe, ninguém enxerga, ninguém faz nada…”. Chega!! Basta!!

  8. wilson  dos  santos

    na minha opiniao, por o governo federal nao manda reforco de segu rança para estas cidades campea em homicidios? ass. wilson de sao paulo

  9. marcia

    mais que judiaçao!!!!!!!!!!!!!!

  10. luis miguel

    coitado des pobres trabalhadores

  11. airton

    Dá para dizer que duas cidades disputam esse título infeliz: a pequena Juruena, no Mato Grosso, e Serra, um dos maiores municípios do Espírito Santo. Na estatística pura e simples, Juruena seria a mais violenta: ela tem um índice de 139,7 pessoas assassinadas por ano para cada 100 mil habitantes. O problema dessa estatística é que o número-base de 100 mil habitantes (usado em pesquisas mundiais) pode gerar distorções em municípios como Juruena, que tem apenas 6 mil moradores. "Essa taxa de mortes por 100 mil habitantes não funciona muito bem em cidades pequenas. Um município com 10 mil pessoas pode ter tido uma chacina de 10 indivíduos em um ano e não ter nenhum assassinato no outro", diz o economista Daniel Cerqueira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), órgão que produziu o estudo com esses dados sobre a violência no país. É por isso que os especialistas preferem considerar nesse ranking as cidades com mais de 300 mil habitantes. E, dentro desse grupo de municípios de médio a grande porte, Serra, na região metropolitana de Vitória (ES), é o campeão de violência, com 97,62 assassinatos por ano para cada 100 mil habitantes. As maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, têm muitas mortes em números absolutos, mas proporcionalmente não são tão violentas assim – as duas não ficam nem entre as 20 cidades mais perigosas do país entre aquelas com mais de 300 mil habitantes.