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Filme acompanha trabalhadores migrando do Maranhão ao Pará, em busca de sobrevivência (Fotos: Divulgação) |
O Pará é o campeão brasileiro em trabalho escravo: só em 2006, fiscalizações do governo federal libertaram no estado 1.180 trabalhadores da escravidão – desde 1995, quando elas começaram, foram 8.177 libertações ali: 36,5% do total.
O estado também está em primeiro lugar nos rankings de desmatamento ilegal e de conflitos de terra – segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), respectivamente. Estes dados ganham vida e mostram relações estreitas no longa-metragem "Nas Terras do Bem-Virá", que estréia no festival É Tudo Verdade na segunda-feira (26) em São Paulo (SP), e no dia 28 no Rio de Janeiro (RJ). Histórias de peões, imagens de arquivo, depoimentos de autoridades e pessoas de movimentos sociais que atuam na região costuram a teia de conflitos e desrespeito ao meio-ambiente e aos direitos humanos no estado.
Segundo documentário do diretor Alexandre Rampazzo e da produtora Tatiana Polastri, o filme acompanha alguns trabalhadores desde as suas saídas de casa, em cidades pobres do Nordeste, até a chegada ao Pará, invariavelmente esperançosos com as promessas do "gato" (aliciador de mão-de-obra a serviço do fazendeiro). Outros peões são retratados pelas câmeras de Alexandre no momento em que uma ação dos grupos móveis de fiscalização chega para libertá-los – e então demonstram toda a decepção de quem descobriu que a empreita nas carvoarias ou fazendas não era nada do que lhes foi prometido.
O filme também se preocupa em demonstrar que a situação atual do Pará remonta à ditadura militar, tempo de uma campanha pelo desenvolvimento da Amazônia – "terra sem homens para homens sem-terra" – que promoveu a migração e a concentração fundiária a despeito de uma defesa do meio-ambiente e das populações mais pobres. E sugere o quanto os peões de hoje tendem a cair ciclicamente na rede da escravidão, enquanto uma mudança estrutural na divisão das terras e no modelo excludente de agronegócio não acontece.
O diretor revela um mecanismo comum que desencadeia conflitos de terra: muitos peões, cansados de ter patrão, entram na luta para conquistar seu próprio chão e viver dignamente, ou, outros, posseiros, índios e ribeirinhos que viram suas casas varridas por grileiros virar pasto, começam a brigar para reconquistar a base de seu sustento. Um dos mais famosos desses confrontos, o Massacre de Eldorado dos Carajás, de 1996, é revisitado, em imagens e depoimentos.
"Nas Terras…" chega também a Anapu, no norte do Pará, onde a freira Dorothy Stang foi assassinada em 2004 a mando de fazendeiros locais. "Quando vemos na televisão o caso da Dorothy, de Eldorado dos Carajás ou de uma fiscalização, eles parecem fatos isolados. E nós juntamos tudo para mostrar que estão relacionados", comenta a produtora Tatiana. O filme termina ressaltando a importância dos que dão a vida pelas causas da floresta e de seu povo, indo contra interesses de grandes latifundiários e poderosos regionais: "mais de 100 pessoas estão ameaçadas de morte hoje no Pará. Dez delas aparecem no filme", diz o letreiro branco em fundo preto ao final da exibição.
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Fiscalizações do trabalho do governo federal já libertaram 8.177 peões da escravidão no Pará |
Pesquisa e intenções
A pesquisa que gerou o filme começou em 2004, depois de um seminário do frei Xavier Plassat – coordenador nacional de trabalho escravo da CPT. Em agosto de 2005, a equipe ficou quase quatro meses no Pará, contabilizando mais de 150 horas de filmagem. Além disso, utilizaram imagens de arquivo, de Eldorado dos Carajás, da irmã Dorothy e até de propagandas da época da ditadura.
A dupla Alexandre e Tatiana leva pela segunda vez uma produção conjunta ao É Tudo Verdade. O documentário produzido anteriormente, Ato de Fé, sobre o envolvimento dos dominicanos na luta armada durante a ditadura militar, foi exibido no festival em 2005. Quanto à Nas terras…, ainda não há previsão de entrada em circuito comercial.
Tatiana defende que o longa-metragem, narrativo e didático, pode atingir trabalhadores da região e contribuir para a erradicação da escravidão de hoje. "Mas o filme é também para as pessoas que estão em São Paulo, no Rio ou na Europa, que nunca pararam para pensar que elas também contribuem para essa situação comprando produtos com mão-de-obra escrava. A gente sempre quer o mais barato, não importando de onde veio a mercadoria", ressalta.
Mais informações sobre futuras exibições e obtenção de cópias pelo e-mail [email protected].
Veja os horários de exibição no É Tudo Verdade
Ficha Técnica
Nas terras do Bem-Virá
Documentário, Brasil, 2007.
Duração: 110 minutos
Direção: Alexandre Rampazzo
Produção: Tatiana Polastri
adorei o assunto, achei o que queria sobre o meu trabalho…
Adorei esta notícia, me serviu para um trabalho de História, tirei nota 10.
Obrigado de coração (ao autor, é claro).
Adorei esta notícia, me serviu para um trabalho de História, tirei nota 10.
Obrigado de coração (ao autor, é claro).
Essa reportagem é um fato historico, mais precisam ser tomadas providencias mais severas, contras esses empresarios que só querem aproveitam da fraquesa dos mais necessitados. cuide disso Ministerio do Trabalho.
reporte Brasil vc poreria colocar algumas fotos de pessoa entrando em conflitos com a policia,e que eu tenho um trabalho de escola pra fazer,e eu confio muito no su trabalho como reporter,obrigado pela sua atençao…
Olá, bom dia, sou professor de qualificação profissional do PROJOVEM URBANO em Magé e adoraria passar este documentário para meus alunos, como faço para conseguir uma cópia? obrigado.
EU ACHEI MUITO INTERESSANTE POR TER IMAGENS MOSTRANDO O ACONTECIDO.