MT está em relatório americano de trabalho escravo

 08/03/2007

O Estado é um dos citados no estudo americano por manter situações de desrespeito, sobretudo de trabalho escravo

Estudo relata situação que é corriqueira em Mato Grosso: a chegada de trabalhadores rurais nordestinos que acabam submetidos à escravidão por força armada

NATACHA WOGEL

Mato Grosso está entre os estados brasileiros citados no relatório do Departamento de Estado norte-americano – órgão semelhante ao Ministério da Justiça do país – de 2006 sobre a situação dos direitos humanos no mundo, divulgado anteontem. O Estado é mencionado por abrigar trabalhadores braçais em situação análoga à escravidão, trazidos principalmente da região Nordeste. Mato Grosso teve parte dos 25 mil homens submetidos ao trabalho escravo ao longo de 2006 no Brasil, conforme dados da Organização Internacional do Trabalho.

O levantamento descreve a situação de homens recrutados pelos chamados "gatos" – nome popular dado aos agenciadores – em cidades pequenas do sertão nordestino e da região Norte para atuar em fazendas remotas, geralmente da porção central do país. Os Estados de origem desses trabalhadores, conforme o relatório, geralmente são Maranhão e Piauí, e seguem para o Pará e Mato Grosso. Os dois últimos são apontados como os maiores receptores de trabalhadores escravos do país.

"O tráfico interno de pessoas a serem submetidas a trabalho escravo acontece de áreas urbanas para rurais, para trabalho agrícola ou exploração sexual. Isso ocorreu com trabalhadores recrutados de áreas pobres e levados para regiões remotas, de onde escapar seria difícil. Eles eram submetidos a trabalhos pesados, em brutais condições, até que fossem capaz de pagar os débitos (feitos junto a mercearias pertencentes aos proprietários das fazendas", descreve o relatório.

Ainda sobre a região, o documento traz, sem mencionar diretamente Mato Grosso, mas o Pantanal – cujos 33% de área estão dentro do Estado -, as regiões onde o turismo sexual é praticado, sobretudo áreas de pesca esportiva. Cáceres, conhecida como a "princesinha do Pantanal", tem o maior festival de pesca de água doce do mundo. O fato ainda é constatado com relação à Amazônia, que também conta com a porção norte do território mato-grossense.

Outros problemas quanto à manutenção dos direitos humanos que acontecem no Estado também são citados no relatório, apesar de não registrarem fatos especialmente em Mato Groso. Um deles é quanto às quadrilhas especializadas em enviar mulheres ao mercado de prostituição europeu. Recentemente, uma cuiabana foi vítima da "armadilha" de um grupo local, já investigado pela Polícia Federal, responsável por encaminhar pelo menos mais três moças à Espanha para atuar em uma casa de sexo na cidade litorânea Vigo.

"Em junho, o Escritório de Drogas e Crimes das Nações Unidas relatou que as mulheres brasileiras estão entre as principais vítimas de tráfico humano para a indústria sexual da Europa", traz o relatório.

A questão indígena apontada no estudo, em que Mato Grosso do Sul é intensamente mencionado, também revela situações corriqueiras vividas pelos povos do Estado, como a violência na disputa por terras e a desestrutura de povos, que hoje perdem população em virtude da desnutrição, como é o caso dos xavantes em Mato Grosso.

"Disputas entre índios e não-índios geralmente acaba em violência. A maioria dos conflitos diz respeito a domínio de terra ou direito de exploração de recursos em que índios vivem ocupações forçosas, em arriscadas tomadas de espaço e matanças", aponta o documento.

A região leste de Mato Grosso, onde concentra-se a maioria dos povos indígenas do Estado – inclusive o Parque Nacional do Xingu -, coleciona disputas por terras entre grileiros e posseiros e índios: a terra indígena Marãwatséde, mais conhecida como Suiá-Missu (entre Alto da Boa Vista e São Félix do Araguaia) é disputada entre xavantes e posseiros; a área indígena Jarudóri (em Poxoréu), cuja propriedade é de um grupo de bororos, que voltam a ocupar a terra disputando o espaço também com posseiros. Esses, entre vários outros exemplos.

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