Direitos humanos

O mapa da exploração sexual de crianças e adolescentes

Polícia Rodoviária Federal divulga pesquisa inédita com 1.790 pontos vulneráveis nas rodovias brasileiras
Marques Casara

Trabalhadores do setor de transportes, ONGs, OIT (Organização Internacional do Trabalho), Secretaria Especial de Direitos Humanos e diversos ministérios estão reunidos em Santarém (PA) para debater a exploração sexual de crianças e adolescentes.

Nas margens das estradas brasileiras existem 1.790 pontos vulneráveis a esse tipo de exploração. O número é resultado de uma pesquisa realizada pela Polícia Rodoviária Federal em todo o país e que será oficialmente divulgado nesta sexta-feira (17.5).

A exploração sexual se diferencia do abuso sexual pelo envolvimento de um "cliente", adulto que paga para fazer sexo com a criança ou adolescente. Em muitos locais, a exploração é administrada por redes criminosas que sobrevivem às custas do tráfico de seres humanos.

O mapeamento foi realizado por 1.400 policiais rodoviários, distribuídos ao longo das delegacias e superintendências do órgão. O objetivo do estudo é oferecer subsídios ao poder público, aos sindicatos e ao movimento social para enfrentar o problema de forma integrada, abordando todos os seus aspectos.

"Estamos cansados de enxugar gelo", resume o superintendente da PRF em Belém, Isnard Ferreira, que exemplifica: "Você faz uma operação, prende os exploradores e muitas vezes sequer tem para onde encaminhar a criança. Uma semana depois, tudo está lá como se nada tivesse acontecido."

O objetivo, segundo o superintendente, é deixar de ver o problema como um caso de polícia e tratá-lo como uma questão de políticas públicas. "Estamos organizando uma união de esforços cujo objetivo é acabar com a exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras", explica a coordenadora do Programa Na Mão Certa, Carolina Padilha. Este programa lançou, em 2006, o Pacto Empresarial Contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Brasileiras.

Monitoramento
Atualmente, mais de 100 empresas são signatárias e se comprometem a realizar ações de monitoramento de suas cadeias produtivas, de maneira a não permitir que ocorra a exploração por parte de um funcionário ou funcionário de empresa fornecedora.

O Pacto foca especialmente os cerca de 2 milhões de caminhoneiros que trafegam pelas rodovias. O objetivo é transformá-los em agentes de proteção dos direitos da criança e do adolescente, pois este profissional é visto como peça chave para a solução do problema, já que conhece as estradas e os pontos de exploração.

Desta união de esforços também fazem parte OIT, Ministério Público, Conselhos Tutelares, Secretaria Especial de Direitos Humanos e diversos ministérios, como Turismo, Educação e Saúde. "Precisamos deixar de ser apenas policiais e nos transformar em agentes da cidadania, em parceria com ONGs e governos", define o superitendente Isnar Ferreira, um ex-interno da Febem que está à frente das ações no estado do Pará.

A divulgação da pesquisa coincide com o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Também coincide com a realização deste seminário em Santarém, cujo objetivo é focar o problema da exploração do âmbito da rodovia BR 163, que começa a ser pavimentada e terá um aumento significativo no fluxo de caminhões e veículos.

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