Especial Eco 92 I

Desenvolvimento sustentável: o grande desafio

Ambientalistas alertam para os perigos do aumento na emissão de gases proveniente da queima de combustíveis fósseis. Uso de fontes alternativas de energia esbarra em interesses nacionais de países ricos
Laura Lopes
 07/06/2007

Nos últimos meses, a polêmica sobre aquecimento global ganhou proporções planetárias depois que, em novembro do ano passado, na 12ª Conferência das Partes da Convenção Quadro de Mudanças Climáticas, a Agência Internacional de Energia (AIE) previu aumento de 55% das emissões de dióxido de carbono (CO2) até 2030, se os atuais padrões tecnológicos de produção e de consumo forem mantidos. Outro relatório, produzido pelo governo britânico, calculou que o prejuízo econômico com o aquecimento global chegará a US$ 7 trilhões. Mais recentemente, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicou a primeira parte de seu quarto relatório sobre os impactos deste aquecimento no desenvolvimento social e econômico dos países.

Emissão de gases decorrente da queima de combustíveis fósseis aumentará a temperatura do planeta de 1,8°C até 4°C (Foto: Leonardo Sakamoto)

De acordo com os dados, numa expectativa otimista, a temperatura média do planeta subirá de 1,8ºC a 4ºC até 2100 – o que provocará um aumento no nível dos oceanos de até 59 centímetros, gerando grandes inundações, ondas de calor mais freqüentes e ciclones violentos. Isso implicará reduções drásticas na produção agrícola, crises no abastecimento de água, migrações forçadas das populações do litoral para o interior, mudanças nos hábitos diários da sociedade e impacto na biodiversidade do planeta. O mundo ficou apavorado, já que os resultados alarmantes são, segundo os cientistas, 90% decorrentes da ação humana.

Esta não é uma discussão isolada, que tem por base apenas os aspectos climáticos: ela se aprofunda nos padrões de produção e consumo da sociedade. Durante quanto tempo a biosfera conseguirá se regenerar para sustentar o atual modelo predatório de desenvolvimento econômico, em hegemonia há séculos? Esta é uma pergunta que o homem se faz desde 1972, quando ocorreu a primeira Conferência sobre o Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas, naquela época, e até pouco tempo atrás, a preocupação era tida apenas como neurose de ambientalista. "Diziam que adorávamos o tema do fim do mundo", lembra Mário Mantovani, diretor da SOS Mata Atlântica.

Junho de 2007 marca o 15° aniversário da Eco ou Rio 92, conferência que reuniu mais de 180 nações para discutir o tema do meio ambiente. A partir daquela ocasião, o debate sobre o assunto se aprofundou e as nações se comprometeram a reservar um futuro mais promissor para as próximas gerações. Atualmente, pode-se perceber que a opinião pública compreende melhor as implicações sócio-ambientais geradas por modelos não sustentáveis de desenvolvimento econômico. Mas os dados já apontam para uma catástrofe em escala mundial.

Nova ordem mundial
As discussões internacionais sobre meio ambiente criaram um novo panorama na ordem política mundial. Desde a Rio 92, as decisões a respeito das emissões de gases causadores do efeito estufa e dos direitos de patente sobre a biodiversidade de um país mostraram que a soberania nacional é prioridade em relação a preocupações de ordem mundial, como o aquecimento global. "A conhecida separação Norte desenvolvido versus Sul em desenvolvimento determinada pela economia globalizada deu lugar à dos blocos favoráveis e dos contrários a compromissos realistas, tanto ambientais quanto sociais", relatam os pesquisadores Oswaldo Lucon e Suani Coelho, em artigo publicado na Revista do Departamento de Geografia, da Universidade de São Paulo (USP).

Outro exemplo dessa defesa intransigente dos interesses nacionais foi a ausência do presidente George W. Bush na cúpula realizada uma década após a Eco 92, que ficou conhecida como Rio + 10, para dar continuidade às discussões sobre a preservação do meio-ambiente. Bush mostrou-se menos preocupado com o futuro do planeta do que seu pai, o ex-presidente George Bush, que chegou a participar – ainda que de forma figurada – da Eco 92.

A Inglaterra, por exemplo, que apóia militarmente os Estados Unidos, é favorável a políticas de preservação do planeta. Em outubro do ano passado, o governo britânico publicou um relatório dizendo que o aquecimento global devastará a economia mundial numa escala comparável às duas Guerras Mundiais e a Grande Depressão, se não for controlado. Do lado inglês, estão os principais países da União Européia, que adotaram, em setembro de 2001, uma Diretiva para que as fontes de energia renováveis cheguem a 12% do consumo bruto de energia de cada Estado-membro em 2010, e a 22,1% da geração total de eletricidade.

Do outro lado estão países como Estados Unidos, Japão, Canadá e os árabes produtores de petróleo. Preocupados apenas com a boa saúde de suas economias, seus governantes só promoverão mudanças "limpas" quando o quadro geopolítico exigir. Em fevereiro, George W. Bush propôs aumentar a produção de biocombustível para reduzir em até 20% o consumo de gasolina nos próximos 10 anos, e até visitou o Brasil para propor uma parceria. Para justificar, Bush culpou a dependência norte-americana pelo petróleo estrangeiro, o que deixa os cidadãos de seu país "mais vulneráveis aos regimes hostis e a terroristas, que podem causar sérias interrupções dos envios de petróleo, aumentar o preço do petróleo e prejudicar nossa economia".

Especial Eco 92:
Parte II: O legado das discussões sobre meio ambiente na Rio 92
Parte III: Brasil: um ator de peso nas discussões sobre meio ambiente

Esta reportagem foi publicada em parceria com a revista Problemas Brasileiros (Sesc-SP)

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