Trabalho Escravo II

Libertados da Pagrisa relatam vida na “prisão”

“Nós estávamos em uma prisão”, conta Arias Roma Pereira, um dos trabalhadores que deixou o trabalho de corte de cana-de-açúcar na fazenda da empresa Pará Pastoril Agrícola, em Ulianópolis
Isabela Vieira
 04/07/2007

Um ônibus com 45 trabalhadores rurais partiu esta noite (4) de uma fazenda da empresa Pará Pastoril Agrícola (Pagrisa) com destino ao município de Ulianópolis, distante 450 quilômetros de Belém. Foram os primeiros funcionários a deixar a fazenda após o Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo encontrar, na última semana, 1.108 trabalhadores em situação análoga à escravidão no local.

De acordo com o auditor e coordenador do grupo Móvel, Humberto Célio, os empregados deixaram a fazenda após receber durante esta tarde, cerca de R$ 1 mil. O pagamento é referente à rescisão do contrato de trabalho temporário com a Pagrisa. No local, os trabalhadores também foram inscritos no Seguro Desemprego.

Arias Roma Pereira foi um dos trabalhadores que optou por deixar a fazenda. Assim como os colegas, ele contou que quer voltar para a sua cidade. Pereira disse que em abril deixou a esposa e os quatro filhos na cidade de Codó (MA), localizada a 120 quilômetros de Teresina (PI), para trabalhar no corte de cana-de-açúcar em Ulianópolis (PA). Mas se arrependeu.

"Nós estávamos em uma prisão", afirmou. "Agradeço a Deus que os homem da lei chegaram e resolveram nossos problemas". De acordo com o trabalhador, "a lida" era muito difícil e os empregados "muito maltratados". "A comida era ruim, às vezes, azeda. E nós comíamos debaixo das carretas", comentou.

Para beber, a água também não agradava e para tomar banho, "de vez em quando, faltava". "Vários dias dormíamos sujos". Descansar também era um problema. Após a jornada de trabalho que ia das 4 horas às 18 horas, "o barraco, muito seboso, estava sempre com muita gente".

O coordenador do Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo afirmou que o pagamento das indenizações ao restante dos trabalhadores deve terminar no próximo domingo. O cálculo das rescisões alcança R$ 1,8 milhão. O auditor informou, ainda, que a multa a empresa pela infração à legislação trabalhista não foi calculada, mas deve superar R$ 600 mil. "Não será pouca coisa não", garantiu.

Por meio de nota divulgada hoje (4), a Pagrisa defende que não utiliza trabalhadores em situação análoga à escravidão. E que essas informações "são uma violência contra a empresa". Também segundo o texto, cerca de 80 cortadores de cana estão arrependidos de terem optado deixar a empresa. Os demais, "foram convencidos pelos fiscais do governo", que prometeram aos trabalhadores rurais "compensações financeiras como três salários do seguro desemprego".

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