José Dionísio de Souza, 33 anos, morreu durante seu horário de trabalho na Usina Agreste, em Espírito Santo do Turvo, região de Ribeirão Preto, noroeste paulista. Ele foi o terceiro bóia-fria a morrer este ano, em seu local de trabalho, segundo levantamento feito pela Pastoral do Migrante de Guariba. Foi o 18º desde 2004, quando a pastoral iniciou o levantamento.
"Temos ainda duas denúncias deste ano que estão sendo apuradas e uma morte, de uma trabalhadora que faleceu durante sua licença médica", conta Irmã Inês Facioli, da Pastoral do Migrante. A causa da morte de José Dionísio não foi registrada em seu óbito, segundo a pastoral. O falecimento ocorreu no dia 20 de junho e foi sepultado em sua cidade natal, Salinas, interior mineiro.
A Usina Agreste garante ter oferecido assistência médica a José Dionísio e afirma que ele não estava na lavoura quando morreu e, sim, hospitalizado.
Os casos de morte de bóias-frias na região de Ribeirão Preto – na época, 15 – foram investigados pelo Relatório Nacional de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais. "Os trabalhadores não têm água potável, equipamentos de primeiros socorros, ambulância. Eles freqüentemente desmaiam e têm desidratação. Moram em alojamentos precários sem nenhum tipo de condições habitáveis", avaliou Candida da Costa, relatora de direito ao trabalho, à época da publicação.
Na época, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, prometeu endurecer a fiscalização sobre o trabalho dos bóias-frias. "É como um trabalho escravo: sem regulamentação, não é regido pelo salário mínimo, não tem condições mínimas para a pessoa trabalhar", disse o ministro. "Nós vamos intensificar o trabalho de fiscalização e fazer uma operação especial nesta área denunciada [Ribeirão Preto]".
O representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para América Latina, José Graziano, afirma que apesar de ser uma "tremenda oportunidade" para o país, a produção de biocombustíveis deve ser acompanhada de precauções.
"Precisamos saber quanto ganha o bóia-fria e como ele é pago para não estar toda a semana nos deparando com a morte de um trabalhador por exaustão ou com uma denúncia de trabalho infantil na nossa agricultura", afirma Graziano.