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Ação liberta 25 trabalhadores de fazenda de juiz no Maranhão

Empregados não recebiam salário regular desde junho, quando chegaram ao local. A fazenda Pôr-do Sol, em Açailândia (MA), pertence ao juiz de direito da Comarca de Imperatriz, que fica a 60 km da propriedade fiscalizada

Em ação iniciada nesta quarta-feira (12) e ainda em curso, o grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 25 pessoas de condições análogas à escravidão da fazenda Pôr-do-Sol, no município de Açailândia. Entre elas, havia um adolescente de 15 anos. Os trabalhadores faziam a derrubada da mata e o roço do pasto para o gado, com exceção de duas mulheres, que cozinhavam para o grupo. O dono da propriedade é Marcelo Testa Baldochi, juiz de direito da Comarca de Imperatriz, município vizinho, que tem cerca de 230 mil habitantes.

De acordo com a equipe de fiscalização, o juiz foi pessoalmente ao local e concordou em pagar as dívidas trabalhistas. Segundo estimativas do coordenador da ação, o auditor fiscal do trabalho Humberto Célio Pereira, o valor das rescisões contratuais, que está sendo calculado nesta sexta-feira (14), deve ficar em torno de R$ 32 mil.

O grupo móvel chegou ao local depois de denúncia feita no dia 3 de julho, por um trabalhador que havia conseguido fugir. Para o coordenador Humberto, o isolamento geográfico, a retenção de salários e a existência de dívida ilegal caracterizam a situação encontrada como trabalho escravo.

A Pôr-do-Sol fica a 170 km do centro de Açailândia e não há transporte regular entre os dois locais. As pessoas haviam chegado em junho e não estavam sendo pagas regularmente. "Tem gente que recebeu ao todo R$ 10,00, desde que chegou", exemplifica o auditor fiscal. Na cantina, os trabalhadores contraíam dívidas com artigos alimentícios e Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como botas e luvas.

Até o momento do fechamento desta matéria, a Repórter Brasil não conseguiu localizar o juiz.

Tapera
A equipe descreveu as condições de alojamento como degradantes e insalubres. As 25 pessoas dormiam numa mesma tapera abandonada, sem água, energia elétrica ou banheiro. "Eles tinham que tomar banho e fazer as necessidades do lado de fora, sem privacidade nenhuma, inclusive as duas mulheres", lembra Humberto. Ele completa que a água não tinha condições de uso: para beber, lavar roupa, cozinhar e tomar banho, era preciso trazer água de um poço a 400 metros da casa, e transportá-la em um tambor de armazenar combustível.

A fazenda era administrada por dois gatos, conhecidos como Naldo e José "Bem-bem". O grupo móvel apreendeu duas motosserras e duas espingardas, mas não há indícios de que elas fossem usadas contra os trabalhadores.

De acordo com a procuradora Paula Silva Porto, representante do Ministério Público do Trabalho (MPT) na ação, também houve o compromisso do proprietário Marcelo Baldochi com o pagamento de uma indenização por danos morais coletivos. "Ele vai pagar o material para a construção de um alojamento para secagem do carvão em cubo, projeto de inclusão laboral do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH) e mais 40 cestas básicas", explica.

Além disso, também houve a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre o MPT e Marcelo, que se compromete no documento a regularizar as condições de alojamento, trabalho e alimentação da fazenda em 90 dias. No sábado (15), após o pagamento das rescisões, os trabalhadores voltarão para suas cidades de origem, todas no próprio estado do Maranhão.


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23 Comentários

  1. luciana

    o quê dizer se a o homem da Lei é a primeira a ser injusta! Isso é uma injustiça!

  2. Pablo

    O mínimo que se esperaria em um país com o mínimo de compromisso com seu povo é a reclusão (prisão) do proprietário e a desapropriação da fazenda para fins de reforma agrária.

  3. Ribeiro

    O problema não é a Justiça neste país, mas as pesoas que a integram, que se utilizam dos cargos e do corporativismo, por que não se comenta se o Juiz responderar ou não processo judicial, é só pagar as indenizações e fica por isso mesmo, a reporter devia ter informado isto.

  4. LUCIANA RAMOS

    como pode um juiz fazer isso com pessoas indefesas? Ele devia ser exonerado do cargo, imagine um absurdo desses, devia estar preso!

  5. stefaninbleckr.@hotmail.com

    o nome dele deve ser MALDOCH! Vai ser mau assim no inferno!

  6. JUSTICEIRA!

    Cadê as ONGS internacionais que não vê isso!

  7. jose alexandre

    louvavel a ação das autoridades que libertaram essas pessoas ações deste tipo tem que ser feita com rapides sempre que houver denuncia
    as pessoas deveriam sabewr que a epoca dos escravos já passou a muito tempo.

  8. batista

    ISSO É UMA VERGONHA!

  9. alex venancio

    Muito me impresiona que atualmente mesmo com todo o avanço tecnologico que possuimos, ainda coexistem no país formas de trabalho arcaicas, dos séculos XVII e XVIII, que subtraem o que o ser humano tem de mais precioso, a sua dignidade. Nos envergonha mais ainda, em saber que tais práticas, que ambicionam o lucro fácil, são, na maioria das vezes, cometidas por aqueles que deveriam combatê-las. Muito mais deploravel, que as condições às quais esses trabalhadores são submetidos é o grau de “consciencia ” dessas pessoas, que são incapazes de reconhecer no outro um semelhante vendo o trabalhador, apenas, como objeto de lucro fácil.
    que péssimo exemplo esse juiz deu ao povo brasileiro.

  10. DARIO L P AZEVEDO

    Infelizmente a degradação moral que estamos vivenciando em todas as instâncias, se repete dia após dia, o aparelho regulador da sociedade que são os poderes constituidos estão apodrecendo cada vez mais. Levar vantagem a qualquer custo é o objetivo dos ambiciosos detentores do poder, escândalos se acumulam no executivo, legislativo e judiciário. Um juiz de “direito” que faz uso de mão de obra escrava, nos leva a refletir sobre o momento e tudo oque está acontecendo a nossa volta. Parabéns pela coragem da matéria.

  11. Armando Varella

    Em casa de ferreiro o espeto é de pau.Além de vergonhoso, e ilegal é desumano.

  12. lúcia santos

    Cadê o Tribunal de Justiça do Maranhão quê não vê isso? Tem que afastar esse juiz imediatamente, ele é um perigo para a sociedade.

  13. MARCELA ALENCAR

    Quem tem que pagar essa indenização por 9 anos para esse adolescente, é esse juiz injusto, é muito fácil, eu escravizar alguém e o estado pagar! Engraçado né?

  14. sebastião santos

    Isso não pode acontecer com quêm julga? Ou será que esse juiz que tanto estuda as leis não sabe que isso é um crime contra os direitos humanos? Além disso um adolescente escravizado. Quem tem que pagar a bolsa de estudo desse menino é o juiz, não o estado! Cadê a Desembargadora MADALENA SEREJO Presidenta do Tribunal de Justiça do Maranhão que não faz nada com esse juiz?

  15. VICENTE DA SILVA

    CADÊ A DESEMBARGADORA MADALENA SEREJO QUE NÃO VÊ ISSO? Faça algo pelos pobres e humildes, assim você será vista!

  16. SILVANO

    Por isso eu tenho vergonha de ser Maranhense! Porque quem está no poder se aproveita dos inocentes, aqui nunca vai para frente.

  17. JOÃO CARNEIRO

    Gostei do quê o MPT fez, e a OIT, assim mostra que temos justiça! Parabéns!

  18. leoranes

    é uma reconha o nosso maranhão, essa fazenda deve ser imediatamente p/ fins de reforma agraria e colocar pessoas que realmente coida do ser humano.

  19. jJoaquim Porangaba

    Quando um cidadão não cumpri alei é punido de acordo com ela, porem ,o mesmo pode não ter a ciencia de ter descumprido a lei; já um juiz tem a ciencia do ato e do fato da inlegalidade; poque não afastalo de.

  20. kessia

    eu moro em pastos bons e ele trabalha aki eu nunka pensei ke o doutor marcelo poudesse fazer uma coisa dessa .ele deveria ser punido rigorozamente.

  21. iVAN SANTOS

    Esse juiz é um bandido que “trabalha” com o amparo “ilegal” da justiça. Porque não banir esse meliante dos quadros julgadores da nossa justiça? Qual a imparcialidade que tem um bandido para julgar outro? Seus julgamentos devem ser feitos de acordo com sua personalidade “ladra”. È uma pena que em um estado sofrido como o maranhão ainda tenha esse tipo de gente (seria gente, um bandido que escraviza crianças?).

  22. Prof. Claudemir Lopes Bozzi

    Alguém ainda acha que a elite brasileira (entre ela a do Judiciário) tem interesse em combater o trabalho escravo???

  23. alessandro gomes do nascimento

    ele deveria está atrais das grades, pq ele eu não comparo nem com um pior animal….só acho……mais país sem lei é assim msm, o descontrole começa das autoridades msm….

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