O Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros, publicado na terça-feira (29) passada pelo Ministério da Justiça, reafirmou a tendência de interiorização da violência registrada no mesmo estudo publicado em 2007. A lista das localidades com taxas mais altas de homicídios por habitante é encabeçada principalmente por municípios da fronteira agrícola, onde a mata cede espaço a pastagens e à agricultura e os casos de trabalho escravo são mais freqüentes.
A pesquisa constatou altos índices de violência nos estados do Amapá, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Pará e Mato Grosso do Sul. Entre os cem municípios que lideram o ranking, pelo menos quinze tiveram casos de trabalho escravo. Os números vão ao encontro de estudo promovido pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) em fevereiro de 2007.
O levantamento considera a média de homicídios ocorridos entre 2004 e 2006 para municípios com mais de 3 mil habitantes, a média de homicídios entre 2002 e 2006 para municípios com menos de 3 mil habitantes, e o número total de residentes no ano de 2006.
Municípios que estão entre os 100 mais violentos do Brasil nos quais já foi encontrado trabalho escravo |
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Colocação | Município |
Taxa de homicídios
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6º | Tailândia (PA) |
96,2
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9º | Recife (PE) * |
90,5
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10º | Tunas do Paraná (PR) |
90,1
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11º | Marabá (PA) |
87,9
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12º | Itupiranga (PA) |
87,5
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14º | Chupinguaia (RO) |
85,9
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18º | Novo Repartimento (PA) |
83,9
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19º | Nova Ubiratã (MT) |
82,4
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28º | Cumaru do Norte (PA) |
76,7
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31º | Goianésia do Pará (PA) |
75,8
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64º | Campina Grande do Sul (PR) |
63,2
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68º | São José do Xingu (MT) |
61,6
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76º | Eldorado dos Carajás (PA) |
59,8
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82º | Pedro Canário (ES) |
58,6
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91º | Querência (MT) |
57,2
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94º | Nova Bandeirantes (MT) |
57,1
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205º | Rio de Janeiro (RJ) * |
44,8
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492º | São Paulo (SP) * |
31,1
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* Recife, Rio de Janeiro e São Paulo estão na lista para efeitos de comparação. Fonte: Ministério da Justiça, Ministéiro da Saúde, Instituto Sangari e RITLA (índice de homicídios) e Ministério do Trabalho e Emprego (municípios onde houve libertações) |
Pará e Mato Grosso também são, historicamente, os estados onde mais pessoas foram libertadas de condições análogas à escravidão. De acordo com estatísticas da Comissão Pastoral da Terra (CPT), no estado paraense foram resgatados 10.242 trabalhadores desde 1995, quando o grupo móvel começou a funcionar. No Mato Grosso, 4.684 pessoas ganharam a liberdade no mesmo período.
Desmatamento
A mancha da violência e do trabalho escravo também coincide com a do desmatamento. Entre os 36 municípios da Amazônia escolhidos pelo governo federal como prioritários para ações de prevenção e controle do desmatamento, 26 estão presentes na lista que reúne localidades onde já foi constatada a exploração de trabalho escravo.
Levantamento realizado pela Repórter Brasil com base nas fiscalizações dos últimos cinco anos revelou que o avanço da derrubada das matas coincidiu com a prática da escravidão contemporânea em 72% dos municípios.
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