Lula minimiza trabalho degradante no país

 05/03/2008

Ao defender o crescimento econômico do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu ontem, em Campinas (95 km de SP), países europeus que criticam o desmatamento na Amazônia. Lula ainda minimizou ocorrências de trabalho análogo à escravidão no país.

"Vira e mexe, agora virou moda ir para um debate na Europa e alguém ficar dizendo que nós estamos desmatando a Amazônia, não tem nem noção do crescimento da produtividade brasileira nos últimos 15 anos", disse na sede da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Logo em seguida, Lula se referiu à Revolução Industrial, ocorrida na Europa no século 18, para minimizar casos atuais de trabalho análogo à escravidão em usinas de cana.

"Vira e mexe, nós estamos vendo eles falarem do trabalho escravo no Brasil, sem lembrar que o desenvolvimento deles, à base do carvão, o trabalho era muito mais penoso do que o trabalho na cana-de-açúcar."

O trabalho degradante ou análogo à escravidão é combatido desde 1995 pelos grupos móveis do Ministério do Trabalho e Emprego. Só em 2007, período de atuação mais intensa, foram 5.877 libertações ou resgates. Conforme a Folha revelou em fevereiro, 53% das libertações ocorreram em usinas de cana (3.117 pessoas).

No ano passado, Lula tornou o álcool combustível uma de suas principais bandeiras, classificando os usineiros de "heróis mundiais". Mas, apesar dos esforços do presidente em promover o etanol, as exportações caíram 14% em 2007, para 3,2 bilhões de litros.

Mesmo assim, com apoio do governo, o setor sucroalcooleiro continua crescendo. Segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar), a área plantada com cana saltou de 7 milhões de hectares em 2006 para 7,8 milhões hectares no fim do ano passado. A estimativa para a produção de cana na safra 2007/08 é de 487 milhões de toneladas. Serão 22 bilhões de litros de etanol.
O setor também é um importante doador do PT. Em 2006, foram mais de R$ 2 milhões vindos de produtores de álcool.

Desmatamento
Em janeiro, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgou dados sobre o aumento do desmatamento na Amazônia. A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) apontou como provável causa a pressão por aumento da produção de soja e carne. A Secretaria de Meio Ambiente do governo de Mato Grosso contestou.

Na ocasião, Lula anunciou medidas emergenciais contra o desmatamento, mas criticou o "alarde" na divulgação do estudo. No fim de fevereiro, o governo lançou a Operação Arco de Fogo, que mobilizou forças federais no combate ao desmatamento e comércio ilegal de madeira na Amazônia Legal.

Ontem, ao citar o desmatamento e o trabalho degradante, Lula pediu "responsabilidade e maturidade" aos brasileiros no momento em que forem falar do país. "Cada vez que nós abrirmos a boca para dizer alguma coisa, isso não vai ter repercussão apenas internamente, vai ter repercussão lá fora."

Ele disse ainda que o Brasil deixou de ser "aquele país bonito de samba, Carnaval e jogador de futebol" e passou a competir "com aqueles que detinham o domínio do mercado mundial".

Mais tarde, Lula inaugurou o Centro de Nanociência e Nanotecnologia Cesar Lattes, também em Campinas. Ainda na cidade, visitou a Samsung, onde ganhou o novo celular com TV digital lançado pela empresa.

MAURÍCIO SIMIONATO

5/3/2008

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