Em apenas seis dias, de 26 de fevereiro a 3 de março, 88 trabalhadores da usina Santa Clotilde, localizada em Rio Largo (AL), foram afastados por acidentes de trabalho. Diante dessa situação, a força-tarefa do Ministério Público do Trabalho entrou com novo pedido de reconsideração da decisão do juiz Alan Esteves, da 7ª Vara do Trabalho de Maceió, que suspendeu a interdição do corte da cana naquela empresa.
De acordo com o procurador do Trabalho Alessandro Santos de Miranda, integrante da força-tarefa e coordenador nacional de defesa do meio ambiente do trabalho, o juiz Alan Esteves, por duas vezes, determinou a continuidade do corte da cana, mesmo reconhecendo a existência de risco à saúde e à segurança do trabalhador.
"Infelizmente, esses acidentes aconteceram sob a guarida do Poder Judiciário. Foi o mesmo período em que houve a ordem do magistrado para que o corte continuasse. O temor é que outros acidentes poderão ocorrer porque todos estão submetidos às mesmas situações de risco", declarou.
Os atestados médicos confirmam que a usina obrigou os cortadores a trabalharem, mesmo sem as condições necessárias. Só no último final de semana, ocorreram nove acidentes. "Isso é resultado da falta de tratamento digno aos trabalhadores, que não recebem equipamentos de proteção individual adequados; são submetidos a jornadas excessivas e não recebem boa alimentação. São inúmeras falhas que precisam ser corrigidas urgentemente, antes que aconteçam acidentes fatais", disse Miranda.
Em 26 de fevereiro, dia que o juiz autorizou a retomada do corte da cana-de-açucar, ocorreram 25 acidentes no campo. Na quarta-feira (27) foram 14, e na quinta (28), quatro. Na sexta-feira (29) os médicos da usina atestaram 36 ocorrências nas frentes de trabalho.
Primeira interdição
A usina Santa Clotilde teve o corte da cana interditado, no último dia 23, pelo grupo especial móvel do Ministério do Trabalho e Emprego após a constatação de diversas irregularidades que punham em risco a vida dos trabalhadores. O grupo acompanhou a força-tarefa do MPT, na Operação Zumbi dos Palmares, deflagrada há mais de dez dias, cujo objetivo é combater o trabalho degradante e as péssimas condições a que os cortadores de cana estão submetidos.
No dia 26, o juiz Alan Esteves concedeu liminar autorizando a retomada do corte. Dia 28, o magistrado fez inspeção judicial no campo e nos alojamentos da usina e viu de perto a situação dos trabalhadores. No dia 29, fez audiência com o MPT e representantes da empresa e manteve as atividades no campo, dando prazo de sete dias para a usina se adequar.