”13 de Maio sempre pareceu uma bofetada”

 13/05/2008

Para a historiadora Maria Aparecida de Aquino, professora da USP, a idéia de festejar o dia 13 de maio sempre pareceu uma "bofetada na cara" do movimento negro. A data, afirma, celebra a libertação dos escravos como uma "concessão governamental" e não como o resultado da luta de negros para sair da condição de escravos. Ela avalia que o debate racial evoluiu nos últimos anos, mas aponta que grande parte da população ainda passa longe dessa discussão.

O 13 de maio foi esvaziado com o Dia da Consciência Negra?
Nunca senti que a data fosse representativa para essa comunidade. É um ato que aparece como uma concessão governamental, como se a princesa, num gesto de boa vontade, libertasse os escravos. Para o movimento negro, isso sempre pareceu mais uma bofetada na cara.

Há aí um sinal do amadurecimento do movimento negro?
Quando se faz essa transferência de uma data para outra você dá força ao que representa alguém que morreu lutando. Mostra sim que o movimento negro no Brasil tem evoluído muito. A passos largos. Há coisas que parecem concessões governamentais, mas, absolutamente, não são. Como cotas nas universidades.

Esse debate está mais aceito?
Acho que sim. E eu diria que os focos de resistência são localizados nas camadas mais aquinhoadas da população.

Como a sra. vê o diálogo entre movimento negro e governo?
Vejo uma organização dos grupos negros cada vez maior e uma vontade dos governos nas duas últimas décadas de reconhecer a existência de um Brasil multirracial. Mesmo pessoas de classe alta que, não por maldade, não refletiam sobre isso, agora não podem se furtar. A questão das cotas bate diretamente no fígado das pessoas. Rompe o mito da democracia racial, a idéia de que o Brasil é um país onde todo mundo se dá bem democraticamente. Há diferenças sim.

O Brasil estava em negação sobre a questão racial?
Não só estava como uma parcela significativa da população ainda passa ao largo dessa questão. Temos não só a negação da população branca, a negação ferrenha de dizer que vivemos numa democracia racial, como vemos o próprio negro que não assume sua condição. A aceitação e defesa dessa condição é o passo avante para conquistar um lugar na sociedade.

13/05/2008
Clarissa Oliveira

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