Trabalho escravo sob o olhar dos estudantes do Maranhão

 11/08/2008

Será divulgado hoje, 11, Dia do Estudante, o resultado do Prêmio 1º de Maio de Redação, promovido pela Setres e Fapema

A escravidão no Brasil foi abolida há 120 anos, mas o número de trabalhadores em condições análogas ao trabalho escravo ainda é alarmante. Estima-se que aproximadamente 40 mil brasileiros vivem nesse regime. Desse total, 38% são oriundos do Maranhão, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Sem perspectivas de emprego, muitos deles saem de seus municípios e partem até para outros estados, servindo de mão-de-obra escrava. Os "gatos", como são conhecidos os aliciadores, oferecem a ilusão de trabalho e bons salários. Quando chegam ao destino, encontram uma realidade bem diferente: exploração, maus-tratos, além de péssimas condições de habitação e trabalho.

Sobre essa realidade que estudantes de escolas públicas e particulares do Maranhão foram incentivados a refletir e a escrever, concorrendo ao II Prêmio de Redação 1º de Maio. A premiação foi lançada no II Simpósio Internacional "O Trabalho e a Mundialização da Economia", promovido pela Secretaria de Estado do Trabalho e da Economia Solidária (Setres) em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), em maio deste ano.

O foco do prêmio são os estudantes do ensino-médio, por estarem próximos de escolher uma profissão. A finalidade é despertar o interesse dos jovens pela reflexão em torno do mundo do trabalho. "Com o tema deste ano, que é o Trabalho e os 120 anos de abolição, queremos provocar a juventude a pensar como é o trabalho escravo na contemporaneidade, relacionando isso com o mundo do trabalho que eles estão perto de entrar", destacou o coordenador do prêmio, Franklin Douglas.

Para realizar a tarefa, os alunos tiveram que pesquisar. Eles se depararam com estatísticas que apontam o Maranhão como um dos maiores exportadores de mão-de-obra escrava. De 2001 a 2007, foram denunciados 142 casos envolvendo mais de 3 mil trabalhadores. Não por acaso, dos 37 municípios do Brasil onde a prática ainda é encontrada, 24 são maranhenses. Essas regiões entraram para a Lista Suja do Trabalho Escravo, organizada e atualizada semestralmente pelo Ministério do Trabalho. 30 fazendas estão nessa lista, ficando impedidas de comercializar com o Governo do Estado até que regularizem a situação.

Outra medida para inibir o trabalho escravo é a qualificação profissional nos municípios com maior incidência. A Setres promove cursos na área de agricultura familiar, artesanato e cooperativismo. Com o mesmo objetivo, será inaugurada a Agência Sine Rural, que intermediará mão-de-obra no interior, acabando com a figura do gato.

Premiação – O resultado da edição deste ano do Prêmio de Redação 1º de maio será divulgado hoje, 11, Dia do Estudante, às 16 horas, no Salão de Atos do Palácio dos Leões. A premiação foi dividida em três categorias: Escolas Públicas de São Luís, Escolas Particulares de São Luís e Escolas Públicas e Particulares dos municípios do interior.

A equipe organizadora antecipou as escolas de origem dos vencedores. Na capital, o destaque foi o colégio Educator, entre as escolas privadas, e a Unidade Escolar Cidade Operária I e a Unidade Escolar Maria Helena Duarte, entre as públicas. No interior, os vencedores são dos municípios de Bacabal e Caxias. "Esse é um momento importante para a produção de conhecimento no estado. A Fapema incentiva o Prêmio de Redação por acreditar que o apetite e a ânsia pela investigação precisam ser despertados desde cedo nos estudantes", enfatizou o diretor-presidente da Fapema, Prof. Dr. Sofiane Labidi.

A estudante do 2º ano do ensino-médio, Leonildes Nazar Chaves, já vivenciou esse momento. Vencedora do Prêmio em 2007, ela ficou sabendo da oportunidade pelo coordenador da escola. "Aprendi muita coisa pesquisando para escrever sobre o trabalho no mundo globalizado. Foi legal ganhar a premiação, porque senti que na minha escola os colegas se interessaram mais pela aula de redação", contou a estudante e amante da escrita. Leonildes, que é aluna do Reino Infantil, já pensa até em publicar um livro com seus textos.

A cerimônia deste ano contará com a presença do Governador do Maranhão, Jackson Lago, a Secretária do Trabalho Terezinha Fernandes, o Diretor-Presidente da Fapema, Sofiane Labidi, diretores de escolas e estudantes.

Perfil da mão-de-obra escrava

• 95% são homens

• 75% analfabetos

• 60% têm entre 18 e 34 anos

• 85% têm cor não declarada (supõe-se sejam negros)

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