Sindicalista critica falta de critérios na importação de produtos da indústria do vestuário

 30/10/2008

São Paulo – A falta de regulamentação para a importação de produtos da indústria do vestuário é considerada uma das causas que impedem o seu crescimento no Brasil, segundo Alvaro Egea, primeiro-secretário da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e um dos organizadores do I Encontro Nacional dos Trabalhadores no Vestuário.

"Sofremos com a concorrência desleal dos produtos chineses", reclamou.

De acordo com Egea, as roupas produzidas na China entram no Brasil pagando poucos impostos e com preços mais atrativos. Ele deu como exemplo o caso de uma empresa que atendia a uma grande cadeia de lojas e foi obrigada a reduzir sua produção pela metade depois que a rede passou a importar peças chinesas.

"Nós não temos fiscalização para filtrar estas importações. Nossa indústria é voltada para o mercado interno, que, por sua vez, passa a consumir roupas importadas. A nossa balança comercial está totalmente desequilibrada", disse.

O sindicalista disse que a indústria do vestuário ainda não sentiu grandes reflexos da crise financeira internacional. Mas ressaltou que a indústria está na UTI. "Nossa indústria é uma das poucas que retrai ano após ano", disse Egea, acrescentando que um dos fatores que contribuem para a redução da produção de roupas é a falta de crédito generalizada.

"No Brasil não existem grandes confecções. Aqui as peças são feitas em fábricas pequenas ou de médio porte, são negócios familiares que não conseguem crédito", disse.

Um dos objetivos do encontro é abrir um diálogo com o governo federal para buscar incentivos para o setor. "É preciso investir em inovação tecnológica, criar linhas de financiamento nos bancos e programas de incentivo à exportação", defendeu Egea.

Para ele, essas medidas gerariam empregos e acabaria com o problema dos funcionários que trabalham em condições análogas à de escravo no Brasil, comuns em confecções pequenas.

"Nossa economia convive perfeitamente com um grau de informalidade que estimula o trabalho escravo", denunciou.

O encontro discutiu ainda a qualificação da mão-de-obra para o setor.

Carlos Simões, representante do Instituto Ricardo Almeida, voltado para a formação de profissionais para o mercado da moda, afirmou que com a criação de centros de capacitação e treinamento, a moda brasileira crescerá.

"A produção de peças fica limitada pela falta de bons trabalhadores. Faltam costureiras, alfaiates, modelistas, supervisores e todo tipo de cargos voltados para o setor do vestuário", disse.

De acordo com Simões, existem 60 faculdades de moda no Brasil e 58 eventos durante o ano, sendo 19 com a participação da mídia e com conhecimento internacional.

"Mas não é disso que precisamos. Precisamos mudar a cultura de que hoje o bom é ser estilista formado. É preciso criar nas pessoas o interesse em profissões que hoje estão desvalorizadas, como as de alfaiates, costureiras e todas as outras que fazem parte da indústria", defendeu.

Ivy Farias
30/10/2008

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