Nos EUA

Blairo Maggi ataca Incra e defende motosserra movida a etanol

De passagem pela capital norte-americana, governador do Mato Grosso diz, em tom irônico, que se esforçará para que "assim como nossos tratores e aviões agrícolas, as motosserras também passem a ser movidas a etanol"
Andréa Leal
 03/12/2008

Washington DC (EUA) – O que é chamado de trabalho escravo, na maioria das vezes, não passa de "irregularidades trabalhistas". Uma prova de que a questão indígena está sendo bem conduzida é o aumento da população de índios. E a demora da regularização fundiária é um problema causado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que "está ocupado pelo Partido dos Trabalhadores [PT]". Esse foi o retrato do Brasil apresentado pelo governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, em evento realizado na capital norte-americana, nesta terça-feira (2).

A palestra do governador sobre desenvolvimento e conservação ambiental foi organizada pelo Instituto Cato – organização não-governamental (ONG) destinada a promover a "liberdade individual, os mercados livres e a paz". Ele esteve em Washington depois de participar de um encontro sobre aquecimento global convocado pelo governador da Califórnia e ex-astro de filmes de ação de Hollywood, Arnold Schwarzenegger.

Diante de uma platéia com cerca de 15 ouvintes mais interessados nos recordes de produtividade mato-grossenses e nos benefícios do livre comércio, Blairo Maggi classificou como "uma honoraria" o troféu "Motosserra de Ouro" que recebeu dos ambientalistas do Greenpeace. "Digo, no bom humor, que vou me esforçar para que, assim como nossos tratores e aviões agrícolas, as motosserras também passem a ser movidas a etanol".

O governador, que já foi chamado de "Rei da Soja", mostrou estar à vontade para expor sua interpretação particular de preservação ambiental. Para ele, o governo deu "um grande passo" na contenção do desmatamento ao aceitar discutir metas, como parte de medidas mais flexíveis, com projeção para o futuro. Blairo é um dos principais opositores de ações mais duras como a Resolução 3.545 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que exige documentação relativa à titularidade da terra e à regularidade ambiental para o desembolso de financiamentos de instituições bancárias a produtores rurais com propriedades situadas no bioma amazônico.

O ministro chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Roberto Mangabeira Unger, mereceu elogios do político. Trata-se de "um grande entendedor da Amazônia", definiu o governador do Mato Grosso. O único setor do governo federal criticado foi o Incra. Segundo ele, o processo de legalização das terras na Amazônia tem sido lento porque o órgão responsável pela tarefa foi ocupado por membros do PT. O Incra, acusa Blairo, resiste em aceitar decisões de administrações passadas e em reconhecer os títulos de pequenos proprietários concedidos na época da colonização da Amazônia.

Blairo Maggi também aproveitou a sua apresentação de 18min para cobrar a participação dos países ricos na preservação ambiental. "Uma das principais propostas construídas em Los Angeles é a compensação financeira para que os proprietários não desmatem a floresta. Os quarto governadores brasileiros e os governadores da Indonésia que participaram do encontro concordaram em lutar para levar essa proposta a diante", disse. Também participaram do evento na Califórnia a governadora Ana Júlia Careppa, do Pará, Eduardo Braga, do Amazonas e Antônio Waldez Goes, do Amapá, e representantes do México, China, Indonésia, Canadá, Inglaterra e Índia.

Ao falar sobre o papel do seu governo em outras questões ligadas à sustentabilidade como a exploração do crime de trabalho escravo, o entusiasmo do político não foi o mesmo. "Que esse tipo de exploração existe no Brasil, existe. Quanto ao fato de o Estado do Mato Grosso estar entre os que mais fazem uso desse tipo de mão-de-obra no país, estamos trabalhando em parceria com o governo federal e com a OIT para mudar isso."

O governador fez questão de dizer que tanto o Estado do Mato Grosso quanto o Grupo Amaggi – grande grupo que produz e comercializa soja de propriedade de sua família – são signatários do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, iniciativa que reúne empresas comprometidas em cortar relações econômicas com agentes flagrados explorando mão-de-obra escrava. Na verdade, a empresa da família do governador é signatária, mas o Pacto Nacional não se destina à incorporação de governos.

Na hora de explicar o trabalho escravo no Brasil, contudo, ele disse o que realmente pensa. "O trabalho na agricultura é sazonal. Se o proprietário de uma fazenda tiver funcionários sem carteira assinada, nem que seja no cumprimento de uma tarefa de um dia, e um fiscal do Ministério do Trabalho passar, pode enquadrar o fazendeiro como explorador de mão-de-obra escrava por isso. Na verdade, é isso que existe no Brasil, mão-de-obra análoga à escravidão, que é isso, irregularidade trabalhista".

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