Álcool brasileiro aposta alto nos EUA

 07/02/2009

Único país exportador de etanol, Brasil quer suprir a queda de 5% na capacidade de produção dos Estados Unidos. Em João pinheiro, noroeste de minas, construção de usina vai abrir 3,2 mil empregos. Empresários esperam que Barack Obama flexibilize entrada do combustível.
 
Crise abre espaço para etanol brasileiro
Queda da produção de álcool nos EUA e discurso de Obama trabalham a
favor do Brasil

A turbulência econômica nos Estados Unidos abre oportunidades para o Brasil. A capacidade de produção de etanol (álcool combustível) americana já foi reduzida em 5% (2,1 bilhões de litros), com o  fechamento de seis empresas do setor, desde o agravamento da crise, em outubro do ano passado. Outras sete vão a leilão até março, segundo informações da Renewable Fuels Association (RFA), entidade que representa as indústrias de combustíveis renováveis do país. A recessão ocorre justamente quando o presidente recém-empossado Barack
Obama anuncia que quer abrir o mercado para a energia limpa. Uma solução que contribuiria para amenizar os efeitos climáticos, mas que, principalmente, reduziria a dependência do petróleo estrangeiro, independentemente do preço, já que o país consome 40% do combustível produzido no mundo.
 
Bush privilegiava o petróleo, enquanto Barack Obama opta pelos
recursos renováveis
 
O Brasil, como único país exportador de etanol, encabeça a lista dos países que poderiam suprir essa demanda. Em 2008, o Brasil exportou 5,1 bilhões de litros , a maior parte ? 2,8 bilhões de litros somente para o país de Obama, atingindo US$ 2,366 bilhões. O montante destinado ao mercado externo foi recorde, segundo a Secretaria de  Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia. De acordo com o órgão, a quantidade de etanol vendida é  mais que o dobro das exportações de gasolina pela Petrobras no mesmo  período. "A oportunidade é exportação do etanol para mistura na  gasolina", afirma o presidente da Associação de Produtores de Açúcar, Álcool e Energia (Biocana), Luciano Sanches de Fernandes. Ele acredita que o etanol pode se tornar uma commodity em dois anos.

"Bush privilegiava o petróleo. Obama optou por recursos renováveis. Além disso, o novo secretário de Agricultura é da região do milho e contra a instalação de uma monocultura na região", observa o  presidente do Sindicato da Indústria do Álcool em Minas Gerais  (Siamig), Luiz Custódio Cotta Martins. Para alavancar os negócios, o usineiro aposta na construção do alcoolduto, de 1,15 mil quilômetros, entre Paulínia (SP) e Senador Canedo (GO), passando pelo Triângulo Mineiro. A obra vai consumir parte dos R$ 4,1 bilhões previstos no
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o setor de escoamento
de álcool. O projeto permitirá a exportação de mais 3,5 bilhões de litros a partir de 2011.

As estimativas, até então, são de que os Estados Unidos atinjam produção de 43 bilhões de litros e consumo de 47 bilhões de litros em  2010, ou seja, teriam de importar 4 bilhões de litros para atender a demanda interna. O avanço é exponencial. Em 2015, a projeção salta para produção de 54 bilhões de litros, consumo de 60 bilhões e compra  de 6 bilhões. Mas o potencial não se restringe aos EUA apenas. Mais de 30 países usam o etanol como aditivo à gasolina.
 
O potencial brasileiro para atender toda essa demanda coloca o país no centro das atenções mundiais. No Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), elatório apontou que pelo menos US$ 515 bilhões devem ser  investidos anualmente em infraestrutura no mundo para geração de energia limpa até 2030. O etanol de cana-de-açúcar, produzido pelo Brasil, aparece entre os oito itens identificados pelo documento como alvo de investimentos. "O desafio de curto prazo para os formuladores de políticas públicas é manter, nesses tempos difíceis extraordinário momento da indústria de energia limpa", destaca o documento.
 
Para o presidente da Biocana, o cenário para as vendas brasileiras de etanol para os Estados Unidos é promissor, mas resta saber, entretanto, se Obama flexibilizaria a entrada do produto no país. Para  consolidar as exportações do Brasil de forma estruturada nesse mercado, seria necessário reduzir as taxas cobradas, hoje em torno de US$ 0,45 por galão. "Não dá para ficar aproveitando janelas de  oportunidades apenas. É preciso segurança no negócio para planejar,
investir e ter condições plenas de atender o aumento da demanda", diz.

Luiz Custódio Cotta Martins, presidente do Sindicato da Indústria do Álcool em Minas Gerais

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