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Mais de 250 trabalhadores são resgatados de usina de cana

Entre os 252 cortadores encontrados pelo grupo móvel, havia 27 adolescentes. Eles não tinham carteira assinada, não recebiam regularmente, viajavam em transporte irregular e ainda levavam comida e água às frentes de trabalho

A Usina Cruangi S.A, de Aliança (PE), "terceirizou" parte de sua produção de milhares de toneladas diárias de cana-de-açúcar a três intermediários, que mantinham 252 cortadores em condições degradantes. Entre os explorados, havia 27 jovens com menos de 18 anos – seis deles, por sinal, não têm sequer 16 anos de idade completos.

Os "gatos" (empreiteiros que aliciam trabalhadores) recrutaram mão-de-obra na região próxima à Usina Cruangi. Segundo integrantes do grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que estiveram na área, a empresa se eximiu de providenciar as estruturas necessárias e acordou com os "empreiteiros" apenas o pagamento R$ 8,00 por cada tonelada de cana cortada. Os "gatos", que organizavam o esquema de produção, estavam "livres" para repassar o quanto quisessem aos trabalhadores.

De cada R$ 28,00 recebidos da usina (equivalente a três toneladas e meia de cana-de-açúcar cortada), os intermediários ficavam com pelo menos R$ 13,00 limpos. Os outros R$ 15,00 hipoteticamente seriam destinados aos cortadores, mas o repasse não vinha sendo feito regularmente. A remuneração acordada era semanal, mas os pagamentos estavam atrasados. Os valores pagos também são objetos de contestação, pois os fiscais não encontraram anotações relativas à produção individual. Nenhum dos 252 cortadores tinha a Carteira de Trabalho e da Previdência Social (CPTS) assinada.

"Dois adolescentes estavam recebendo R$ 15 por semana", confidenciou Benedito  de Lima, auditor fiscal que coordenou a ação do grupo móvel de fiscalização. Ao final do mês, os jovens somariam R$ 60,00, cerca de 13% do salário mínimo (R$ 465,00) em vigor a partir de 1º deste mês.

Até o ônibus – que não tinha permissão para transportar trabalhadores e estava em péssimas condições – foi providenciado dos aliciadores. A jornada tinha início às 4h da manhã, quando o ônibus buscava as pessoas em casa, e o corte seguia até às 17h, quando retornavam às suas residências.

Os trabalhadores iniciaram o trabalho para a usina às margens do Rio Cruangi há cerca de 20 dias. Equipamento de Proteção Individual (EPIs) não eram fornecidos e a alimentação era trazida pelos próprios empregados, assim como a água que escasseava durante o dia. Nas frentes de trabalho, não havia abrigos para proteção contra intempéries durante as refeições. "Os trabalhadores também não tinham acesso a banheiros", completa Benedito.

Em decorrência da fiscalização, a Usina Cruangi assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), proposto pelo Ministério Público Estadual (MPE) de Pernambuco – uma vez que o Ministério Público do Trabalho (MPT) não esteve representado nesta operação – juntamente com os representantes do MTE. 

Com o acordo, a usina se comprometeu a pagar meio salário mínimo por mês para que os adolescentes encontrados possam continuar frequentando a escola até a universidade. "O acordo não impede que os adolescentes maiores de 16 anos trabalhem, desde que exerçam atividade permitida pela legislação [como aprendizes] em vigor e continuem estudando", explica Benedito. O TAC também previu o pagamento de R$ 350 mil de verbas da rescisão.

Crimes ambientais
Além das irregularidades na área trabalhista, a Usina Cruangi também foi autuada e multada* por irregularidades ambientais no ano passado. Em junho, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) realizou a Operação Engenho Verde, uma das maiores ações de fiscalização no setor sucroalcooleiro nordestino. A Usina Cruangi foi uma das 24 empresas autuadas e multadas por crimes ambientais.

Entre as ilegalidades apontadas pelo Ibama que constam na ação civil pública decorrente da operação de fiscalização, estão: a falta de licenciamento ambiental, a degradação das Áreas de Preservação Permanente (APPs), ocupação das APPs pela cana, queimadas ilegais, poluição de recursos hídricos, do solo e da atmosfera relacionada ao cultivo da cana.

A Repórter Brasil entrou em contato com um representante da usina, que se comprometeu a enviar uma nota de esclarecimento por e-mail. Até o fechamento desta matéria, porém, a nota não chegou até a redação.

*A versão desta matéria publicada na última segunda-feira (16) informou erroneamente que a Usina Cruangi honrou a multa aplicadas pelo Ibama. Após rechecagem, houve uma atualização nesta quinta-feira (19): a usina de fato não pagou a multa em questão, o que não necessariamente invalida as infrações ambientais encontradas por agentes do poder público.


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4 Comentários

  1. EDVALDO LIMA

    Caros senhores do Reporter Brasil, é lastimável vê-los utilizar os meios de comunicação publicar notícias sem nenhum conhecimento real dos fatos. Primeiro foi a notícia de que a usina do grupo Farias, pertencia ao deputado Augusto Farias irmão de PC Farias, uma desinformação. Agora, divulga esta notícia de forma distorcida e ainda acrescida de uma inverdade, quando fala que a usina pagou uma multa por causa do crime ambiental, quando na verdade nenhuma usina pagou multa até o momento.
    Peço aos senhores que tenham mais responsabilidade quando for divulgar uma notícia. Percebo que pouca gente ler seu noticiário e começo a entender o porque disso.
    EDVALDO LIMA.

  2. Edivelton Tadeu Mendes

    Até quando a Polícia Federal – e os orgãos do Ministério da Justiça. irá permitir a escravatura no Brasil – um país de tolos e bandidos?

  3. Redação - Repórter Brasil

    1. Como esclarecido em observação incluída no rodapé da matéria intitulada “Mais de 250 trabalhadores são resgatados de usina de cana”, a Usina Cruangi não pagou a multa por infrações ambientais aplicada pelo Ibama em meados de 2008;

    2. Não há conteúdo veiculado nesta agência de notícias que sustente a ligação entre usinas do Grupo Farias com o deputado federal Augusto Farias (PTB-AL), irmão de PC Farias, finado ex-tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor de Mello. O parlamentar citado tem envolvimento com um caso de exploração de trabalho escravo na Fazenda Santa Ana, em Santana do Araguaia (PA), em 2003, que gerou processos na Justiça Federal e na Justiça do Trabalho.

  4. LUIZ HENRIQUE PARAHYBA

    PREZADOS (as); Há uma “orquestração” para tentar desmoralizar o trabalho do REPÓRTER BRASIL. Os USINEIROS dominam o Brasil há mais de 300 anos, e por isso eles tem gente em todos os ramos, inclusive os “plantonistas” para tentar descaracterizar o trabalho de vocês….Continuem firmes, acreditamos que com a informação é possível a melhoria das condições de vida dos nosso trabalhadores rurais. Conte conosco, LUIZ HENRIQUE PARAHYBA, jornalista, assessor da FETAEG.