Cerca de 400 trabalhadores rurais da zona da Mata de Alagoas realizaram uma série de protestos violentos na terça-feira (31) no município de Matriz do Camaragibe, no Norte do Estado, e causaram pânico aos cerca de 25 mil moradores da cidade.
O motivo da revolta foi a libertação de dois supostos estelionatários que teriam dado um golpe em quase mil boias-frias da região norte de Alagoas. José Ferreira Lins Filho e Cícero Gomes dos Santos foram presos no dia 27 de março por aliciamento ilegal de trabalhadores. Na segunda-feira (30), eles foram soltos para que respondam ao processo em liberdade. Os acusados teriam que devolver o dinheiro e as carteiras de trabalho aos boias-frias – o que ainda não teria acontecido.
Em depoimento à Procuradoria Regional do Trabalho (PRT) na última sexta-feira (27), os agenciadores confessaram a contratação irregular dos trabalhadores. Eles ainda disseram ter recebido mais de R$ 100 mil dos boias-frias. Todos pagaram quantias de R$ 120 para garantirem passagem de ônibus e emprego em usinas de Mato Grosso do Sul e Bahia. A viagem – que deveria ser realizada em fevereiro – nunca aconteceu.
Logo no início da manhã de ontem, os trabalhadores rurais fecharam a rodovia AL-101, que corta o litoral alagoano. À tarde, eles seguiram em direção a vários prédios públicos. Ao chegarem ao centro da cidade, as cenas vistas foram de selvageria, segundo servidores que estavam em horário de trabalho. O grupo de trabalhadores depredou os prédios da Prefeitura de Matriz do Camaragibe, da Secretaria Municipal de Saúde e da biblioteca pública, todos na área central da cidade. Janelas, móveis e papéis foram destruídos. Devido ao grande número de manifestantes, todos os locais tiveram que ser desocupados às pressas.
Sem conseguir falar com o juiz da comarca de Matriz, Igor Vieira, que determinou a soltura dos acusados de estelionato, os manifestantes resolveram invadir o Fórum de Justiça Desembargador Paulo de Albuquerque e atear fogo em várias salas. Processos judiciais, documentos e material de escritório foram destruídos. Dezesseis pessoas foram presas pela polícia e levadas para a Casa de Custódia, em Maceió. Doze seguem detidas. Nesta quarta-feira (1º), os servidores do cartório realizam um levantamento dos danos.
A destruição só não foi maior porque o Corpo de Bombeiros conseguiu chegar a tempo, junto com o reforço no policiamento, segundo testemunhas. Por conta das ameaças, o magistrado teve que deixar a cidade com a ajuda policial, pouco antes da chegada dos trabalhadores rurais. Procurado pelo UOL Notícias, o juiz não atendeu às ligações.
Por conta do clima de tensão que toma conta da cidade, a polícia reforçou o efetivo na cidade hoje. Pelo menos 20 homens do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) estão fazendo a segurança de prédios públicos.
O delegado regional de Matriz do Camaragibe, Delmiro Albuquerque, classificou os atos como "terroristas" e disse que ninguém esperava por uma ação tão violenta. "Temos aqui 10 policias por dia fazendo patrulhamento, que nunca dariam conta disso. A cidade hoje está tranquila, mas ontem vimos aqui cenas de selvageria, vandalismo. Vamos investigar tudo, pois nunca vi uma coisa dessas", afirmou.
Para Albuquerque, os recursos que devem ser devolvidos aos trabalhadores pelos supostos golpistas podem ser utilizados para a reforma dos prédios. "Isso quem decide é a Justiça, mas é uma hipótese que será levada em conta, já que os danos foram por toda a cidade", explica o delegado.
Por conta das cenas de violência, dezenas de policiais estão hoje fazendo a segurança da cidade. "O problema é que o juiz confiou na palavra dos presos e acabou soltando-os com a promessa de devolução do dinheiro, o que não aconteceu. Como o ônibus iria sair daqui (Matriz), eles resolveram fazer o vandalismo aqui. A população está com medo", informou o delegado, acrescentando que a maioria dos trabalhadores era de municípios vizinhos à Matriz do Camaragibe.
Carlos Madeiro
Especial para o UOL Notícias
Em Maceió