A 11ª Romaria da Terra e da Água do Piauí reuniu nos dias 1º e 2 de agosto mais de cinco mil romeiros vindo de todo o Estado para uma a discussão do tema "Migração Forçada e Trabalho Escravo", na cidade de Corrente. A romaria foi realizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Regional Nordeste IV), com apoio das Pastorais Sociais.
As caravanas foram recepcionadas em Corrente durante todo o dia 1º, quando os moradores em um gesto de partilha acomodaram os romeiros em suas casas. Durante a tarde e a noite os romeiros se dirigiram para a igreja matriz Nossa Senhora da Conceição para visitar o memorial com a história de todas as romarias, a tenda onde estava exposto o santíssimo sacramento enfatizando o momento espiritual do evento.
Em um palco montado em frente à igreja aconteceu a Tribuna Livre, onde foi feita a apresentação de testemunhos, além de apresentações musicais e teatrais que animaram os fiéis. Durante a noite também foram colhidas assinaturas para engrossar a luta pela aprovação da PEC do Trabalho Escravo e a Campanha Ficha Limpa.
No segundo dia, os romeiros madrugaram em frente à Igreja Matriz para iniciar a tradicional caminhada passando pelo rio Corrente, simbologia em defesa da água. Uma missa campal presidida por Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo de Teresina, encerrou a programação.
Segundo Dom Ramon, bispo da diocese de Bom Jesus, toda a comunidade se organizou para a realização do evento que acontece na diocese pela segunda vez. A primeira aconteceu em 1995 com o tema "Conquistar a Terra é Construir Cidadania". "Nossas romarias são momentos de fé, porque nós renovamos nossas energias na luta e na esperança de um mundo melhor e mais fraterno. E de partilha quando as pessoas, por mais simples que sejam, incorporam o sentimento de partilha, de cuidar do outro".
Segundo dados das pastorais sociais, 5.244 pessoas foram resgatadas em trabalho escravo ou em condições análogas a ele no ano de 2008. Esses dados colocam o Piauí como o Estado que mais exporta mão de obra para o agronegócio. Os principais destinos dos agricultores é o corte de cana, a colheita de frutas e o trabalho manual em fazendas de criação de gado.
A cidade de Corrente, que fica no extremo sul do Estado, não foi escolhida à toda. A cidade é cortada pela BR-135, principal porta de entrada e saída para os estados do Centro-Oeste, Sudeste e Sul. "Os nossos amigos saem daqui para trabalhar em outros lugares e chegando lá é tudo totalmente diferente. Vão com propostas de ganharem um salário digno e quando chegam lá ficam decepcionados com salários de 200 reais", conta Anatália Pereira da Silva, 25 anos, moradora de Corrente.
Segundo Carlos Humberto Campos, sociólogo e secretário regional da Cáritas Brasileira, muitos trabalhadores migram por falta de oportunidades e pela ilusão de ganhar grandes volumes de dinheiro, e, quando não conseguem voltar para suas casas causa um desequilíbrio familiar, deixando as mulheres "viúvas de marido vivo", as quais acabam se tornando – a duras penas – chefes de família.