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Cosan e mais 11 empregadores entram para a "lista suja"

Inclusão da gigante sucroalcooleira e de outros 11 empregadores envolvidos em casos de escravidão foi confirmada nesta quarta-feira (31) pela atualização semestral do cadastro mantido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)

A Cosan, uma das maiores processadores de cana-de-açúcar do mundo, entrou para a "lista suja" do trabalho escravo. A inclusão da gigante sucroalcooleira e de outros 11 empregadores envolvidos em flagrantes de escravidão foi confirmada nesta quarta-feira (31) pela atualização semestral do cadastro mantido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

A fiscalização que resultou na inclusão da Cosan na "lista suja" ocorreu em junho de 2007, na Usina Junqueira, em Igarapava (SP). Na ocasião, 42 trabalhadores foram libertados da unidade da Cosan. Dona da rede de postos Esso e detentora das conhecidas marcas de açúcar União e Da Barra, a companhia faturou, com todos os seus negócios, cerca de R$ 14 bilhões em 2008 e emprega 43 mil pessoas no período da safra. Ao todo, a Cosan possui 23 unidades produtoras – 21 em São Paulo e duas em construção, uma em Jataí (GO) e outra em Caarapó (MS) -, quatro refinarias e dois terminais portuários.

A Usina Junqueira foi incorporada pela Cosan em 2002 e tem capacidade para a moagem de 16 mil t por dia e produção de 24 mil sacas de açúcar e 900 m³ de etanol diários, segundo o site da própria empresa. A unidade de Igarapava (SP) faz parte de pelo menos dois pactos de responsabilidade empresarial: o Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-Açúcar, articulado pelo governo federal e lançado em junho de 2009, e o Protocolo Ambiental que faz parte do Programa Etanol Verde, do governo paulista, que concede certificados de boas práticas socioambientais a usinas e estabelece metas de redução de impactos.

Um quarto dos empregadores incluídos na atualização semestral da "lista suja" é do Oeste da Bahia, pólo de expansão do agronegócio nacional. Do total de 12, três são desta mesma região: José Alípio Fernandes da Silveira, que cultiva soja em São Desidério (BA); Nelson Luiz Roso e Ricardo Ferrigno Teixeira, que plantam algodão em Barreiras (BA). Quando da libertação das 82 pessoas (submetidas, segundo auditores, a condições degradantes e servidão por dívida na área de mais de 6 mil hectares) da Fazenda Campo Aberto, em março de 2007, Ricardo tinha como um de seus sócios Milton da Silva, pai do falecido piloto de Fórmula 1, Ayrton Senna.

As 67 libertações ocorridas em março de 2005, na Fazenda Roso, não impediram que o agricultor Nelson aparecesse com destaque na publicação promocional de uma empresa de máquinas agrícolas. Assim como José Alípio, dono da Fazenda Bananal, onde houve cinco libertações em maio de 2007, que foi citado como exemplo de produtividade em divulgação de fertilizantes.

Outro produtor de região de avanço do agronegócio adicionado ao rol dos infratores foi Cornélio Adriano Sanders, da Fazenda Progresso, em Uruçuí (PI). Em dezembro de 2005, ação fiscal encontrou vasilhames de produtos químicos sendo utilizados para armazenar a água consumida pelos arregimentados para limpar o terreno antes do plantio da monocultura de soja.

Outros nomes
Inclusão ímpar na "lista suja" foi a do engenheiro Francisco Antelius Sérvulo Vaz, que inclusive está anunciando a Fazenda CEAP/Márcia Carla, que mantém em Codó (MA). Com extensão de 3 mil hectares, milhares de cabeças de gado, cavalos de raça e até pista de pouso particular, a propriedade foi flagrada com dois trabalhadores escravizados em dezembro de 2007.

Vinculado ao Partido da República (PR) do vice-presidente José Alencar, Francisco Antelius foi superintendente da Administração das Hidrovias do Tocantins e Araguaia (Ahitar), ligada à Companhia Docas do Estado do Pará (CDP), e comandou o Departamento Nacional de Infra-Estrutura em Transportes (Dnit) no Estado de Tocantins de 2008 até o início de 2009.

Entre os novos nomes da "lista suja", há ainda dois produtores rurais da Região Sul – Dirceu Bottega, de General Carneiro (PR) e José Agnelo Crozetta, de Rio Branco do Sul (PR). A inspeção na Fazenda Santa Rosa, de Dirceu, só foi possível graças a um adolescente que trabalhava por longas jornadas sem descansos regulamentares na colheita da erva-mate que fugiu para fazer a denúncia. Já a denúncia de exploração de trabalho escravo contra José Agnelo inclui até relatos de humilhação de empregados.

Dois responsáveis por carvoarias paraenses também foram incluídos no cadastro do MTE. Carlos Luiz dos Santos, da Carvoaria do Carlinhos, em Ipixuna do Pará (PA), e Osvaldino dos Anjos de Souza, da Carvoaria do Osvaldino, em Goianésia do Pará (PA). Outro empregador do Pará que agora faz parte da "lista suja" é a empresa Laticínio Vitoria do Xingu S/A, da Fazenda Rio Xingu, em Altamira (PA), da qual 33 foram libertados em agosto de 2007.

José Pereira Miranda, produtor de café na Fazenda Córrego Caratinga, em São João do Manhuaçu (MG), completa a lista dos que foram inseridos. Operação da pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE/MG) libertou 22 pessoas da propriedade em outubro de 2007.

Dez empregadores saíram da "lista suja" após o cumprimento de dois anos no cadastro, o pagamento de todas as multas relativas aos autos de infração e a não reincidência no crime. São eles: Antenor Duarte do Valle, Calsete – Empreendimentos Ltda, Ernesto Dias Filho, Eustáquio Barbosa Silveira, Eustáquio da Silveira Vargas, Fazenda Paloma S/A – (Edmar Sanches Cordeiro), João Batista de Sousa Lima, Laminados e Compensados Santa Catarina Ltda, Leandro Volter Laurindo de Castilhos, Walderez Fernando Resende Barbosa.

Os infratores da "lista suja" não têm acesso a financiamentos públicos e são submetidos a restrições comerciais por parte das empresas signatárias do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. O nome de uma pessoa física ou jurídica só é incluído na relação depois de concluído o processo administrativo referente à fiscalização dos auditores do governo federal.

Inclusões e Exclusões da "Lista Suja" do Trabalho Escravo
Entraram em 31/12/2009

Carlos Luiz dos Santos
Cosan S/A – Indústria e Comércio
Dirceu Bottega
Francisco Antelius Servulo Vaz
Cornélio Adriano Sanders
José Agnelo Crozetta ME
José Alípio Fernandes da Silveira
José Pereira Miranda
Laticínio Vitória do Xingu S/A
Nelson Luiz Roso
Osvaldino dos Anjos de Souza
Ricardo Ferrigno Teixeira

Saíram em 31/12/2009

Antenor Duarte do Valle
CALSETE – Empreendimentos Ltda
Ernesto Dias Filho
Eustáquio Barbosa Silveira
Eustáquio da Silveira Vargas
Fazenda Paloma S/A – (Edmar Sanches Cordeiro)
João Batista de Sousa Lima
Laminados e Compensados Santa Catarina Ltda
Leandro Volter Laurindo de Castilhos
Walderez Fernando Resende Barbosa

*Colaborou Bianca Pyl

**Paulo Kenji Shimohira, que havia sido reinserido em 31/12/2009, foi suspenso novamente da "lista suja" em 04/01/2010


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10 Comentários

  1. Ricardo borendegui

    A Cosan nunca faria uma coisa dessas. Mentira. Mentira. Mentira.

  2. Juarez Guilhon Lucas

    Senhor Deus dos desgraçados!
    Dizei-me vós, Senhor Deus!
    Se é loucura… se é verdade
    Tanto horror perante os céus?!

    Castro Alves – Navio Negreiro

  3. Thirzá

    Interessante que qualquer dia desses estas mesmas estarão recebendo benesses dos governos…

  4. Zaqueu Aguiar

    Sou testemunha ocular de coisas desse grupo, mas prefiro nem comentar aqui.

  5. Lima

    Parabéns à agência por denunciar essa verdadeira vergonha nacional. Sugiro o envio para todos os sindicatos e centrais sindicais, para que este cumpram o seu papel e incluam na plataforma de lutas o combate a esse crime; Da mesma forma, para os bancos, principalmente os públicos, para que financie esses criminosos com o dinheiros do povo. O Presidente Lula não pode permitir que escravizadores figurem no elenco do seu governo. É uma obrigação o pronunciamento sobre o assunto, haja vista haver registro de vínculos ao vice-presidente. Cadeia nessa bandidagem…

  6. Claudia

    Gostaria de saber por que imprensa não divulga mais isso. E nosso país bancando o desenvolvido para o resto do mundo

  7. Antonio José

    Trabalho Escravo – Se o Governo é de todo o povo brasileiro e com tantos Ministérios Corporativistas sem produtividade (Ministérios Políticos) por que não inclui a obrigação de a Imprensa tornar público essas informações para que o povo faça boicote aos produtos dessas empresas que muitas vezes sequer são brasileiras e ainda usufruem de favoritismo de financiamentos do BNDES a juros quase gratuitos e estranhamente enxovalham o povo brasileiro. Nesse caso, diga-se, o Governo é conivente. Não basta punir, é preciso tornar público esses crimes. As multas não resolvem. O que resolve é o boicote!

  8. Lucas Rafael Chianello

    Trabalho Escravo – Se o Governo é de todo o povo brasileiro e com tantos Ministérios Corporativistas sem produtividade (Ministérios Políticos) por que não inclui a obrigação de a Imprensa tornar público essas informações para que o povo faça boicote aos produtos dessas empresas que muitas vezes sequer são brasileiras e ainda usufruem de favoritismo de financiamentos do BNDES a juros quase gratuito…

    A finalidade da lista suja é justamente essa, pois a imprensa jamais noticiaria que seus anunciantes encontram-se naquela. Porém, tal proposta poderia ser pensada no âmbito da TV pública.

  9. GISSELE SOARES

    Bom dia, Maurício
    Acho que tem que fazer uma matéria listando exatamente quais são os produtos e as marcas dos mesmos, para que possamos deixar de comprá-los. Se o açúcar branco já só traz males à saúde, então agora pior: vem banhado de sofrimento humano, envolto em humilhações, servidão, … Maurício, te amo!

  10. confidencial

    Sou funcionario do ernesto dias filho,quero denuciar as irregularidades da fazenda, eles não faz o pagamento dos funcionarios de acordo com a lei a refeicão da fazenda é pessima eles colocam os malmitex espostos ao ar livre, poem os trabalhado para lavar os marmitex,puveriza a lavoura com os trabalhadores trabalhando lá, em minha cidade,já morreu algums pessoas com problemas de coração que era trabalhador daquela fazenda,acho que o Ernesto dias filho não tem culpa, mas sim os administradores da fazenda.

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