Número de escravos resgatados diminuiu

 29/01/2010

O número de trabalhadores resgatados em condições análogas ao trabalho escravo no ano passado foi menor do que nos dois anos anteriores. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mostram que, em 2009, 3.571 trabalhadores foram retirados da escravidão. No ano anterior, o grupo móvel de combate ao trabalho escravo resgatou 5.016 trabalhadores, enquanto em 2007, foram retiradas das fazendas 5.999 trabalhadores em condições degradantes.

O número menor de trabalhadores resgatados no ano passado, no entanto, não representa a diminuição do trabalho escravo no Brasil. O coordenador da ONG Repórter Brasil, que desde 2001 acompanha o trabalho de erradicação da escravidão no país, Leonardo Sakamoto, afirma que a análise comparativa sobre a redução do trabalho escravo depende de outros fatores.

"É complicado comparar, porque há outras variáveis. Às vezes, de um ano para o outro, a fiscalização ocorreu, por exemplo, em locais mais difíceis, ou os produtores estão maquiando melhor o trabalho escravo, ou o foco de trabalho escravo está migrando. É necessário ter mais dados. Não dá para falar se aumentou ou diminuiu o trabalho escravo no Brasil", explica Sakamoto. O grupo móvel de combate ao trabalho começou a atuar no Brasil em 1995. Naquele ano, foram resgatados 84 trabalhadores.

Estados

O Sudeste lidera o ranking de estados com trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão, segundo balanço divulgado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) nesta semana. Essa é a primeira vez que a região fica à frente do Norte e Nordeste, que ao longo dos anos configuram em primeiro lugar na escravidão.

O peso maior é do estado do Rio de Janeiro, onde foram resgatados 521 trabalhadores em apenas cinco fazendas. Segundo o coordenador nacional de erradicação do trabalho escravo do MPT, Sebastião Caixeta, a maior parte dos casos identificados foi encontrada na empresa Agrisul, que pertence ao grupo J.Pessoa. Somente em uma usina do grupo, no município de Campos dos Goytacazes (RJ), foram resgatados 280 trabalhadores.

O estado de Pernambuco foi o segundo no ranking com 419 trabalhadores resgatados em 10 fazendas, seguida de Minas Gerais, com 364 resgatados em 12 propriedades rurais. Em Minas, apenas na Destilaria Vale do Paracatu (MG) foram resgatados 170 trabalhadores.

"A ideia de que o trabalho escravo só ocorre em regiões distantes não é mais verdadeira. Acho que os casos de trabalho escravo têm crescido na região Sudeste porque causa da expansão de culturas agrícolas como a cana-de-açúcar, que usa mão-de-obra intensiva", disse ao site o procurador do Trabalho Aloísio Alves, coordenador regional do combate ao trabalho escravo em Minas.

O ranking do trabalho escravo nos estados

Cana-de-açúcar

Segundo o MPT, a maioria dos trabalhadores resgatados foi retirada do setor sucroalcooleiro, que produz derivados da cana-de-açúcar, como o açúcar e o etanol. A pecuária, no entanto, continua a ser a campeã em número de propriedades com incidência de trabalho escravo.

De acordo com dados preliminares da Comissão Pastoral da Terra, no ano passado, o setor sucroalcooleiro respondeu por quase metade (45%) do número de trabalhadores libertados, enquanto a pecuária respondeu por 16%. Do total de propriedades com incidência de trabalho escravo, no entanto, 46% eram do setor pecuário e apenas 8% dos casos eram em áreas de cultivo de cana-de-açúcar.

"A cana é bastante relevante nessa configuração, mas em número de propriedades com trabalho escravo a pecuária ainda é a campeã. A questão é que o cultivo de cana-de-açúcar precisa geralmente de mais mão-de-obra do que a pecuária", explica Sakamoto. "Na pecuária, tende a ser mais violento o trabalho. Mas, na cana, o gritante é que o combustível produzido, o álcool, é dito como verde", alertou.

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