A casa era um chiqueiro

 14/05/2010

As baias de um chiqueiro desativado funcionavam como divisórias para a moradia de 12 pessoas que trabalhavam em regime similar ao de escravidão no corte de erva-mate em Ipumirim, no Oeste do Estado. Um cavalo e seus excrementos estavam sob o mesmo teto. Panelas e roupas repousavam sobre a sujeira. A situação foi denunciada ao Ministério do Trabalho, que pediu o apoio das polícias Federal, Militar e Civil que desde quarta-feira está na região para resolver o caso.

Os trabalhadores, entre eles uma mulher e três adolescentes, com idades entre 15 e 17 anos, foram encaminhados para uma casa da família dona do chiqueiro. Todos são de União da Vitória, no Paraná, que faz divisa com Porto União.

– Este era o meu apartamento – brincou o menor de 16 anos, apontando uma das baias do chiqueiro onde morava havia uma semana.

Na baia ao lado, ele montou uma cozinha improvisada, onde ainda havia uma panela com restos de arroz. A louça era lavada em um rio. Depois ele enxaguava numa torneira. O adolescente contou que ganhava, em média, R$ 30 por dia cortando 300 quilos de erva-mate.

– No final do mês, tinha que descontar o valor da comida. Sobrava entre R$ 300 e R$ 400 – explicou.

Há um ano ele trabalha cortando erva-mate para ajudar a mãe, que é viúva, e os seis irmãos, todos menores. Por isso, ele argumentou que se submeteu a um regime de trabalho tão degradante.

Leandro José Rigotti, 18 anos, que também estava no chiqueiro desativado, tomava banho no rio, já que não há banheiro no local:

– Era só a cada dois ou três dias porque a água era muito gelada.

Para se esquentar, ele fazia fogo com restos de madeira que encontrava no local. O fogo também servia para secar o suor da roupa que usava num dia e reutilizava no dia seguinte, sem lavar.

– A gente usava até rasgar – afirmou Rigotti.

Ele reconhece que a situação que viviam era precária.

– Aqui era complicado por causa da sujeira – disse, mostrando o chão com pó, restos de madeira e até dejetos secos de porcos.

Leandro começou a trabalhar no corte de erva-mate há cerca de um mês, pois não conseguia trabalho em sua cidade e precisava ajudar nas despesas da casa. Ele ganhava R$ 25 por dia. Ganhava menos do que os outros, mas não precisava pagar pela comida.

Claudemir da Rocha, 26 anos, conta que o banheiro era o mato.

Os trabalhadores paranaenses foram contratados por Ademir de Oliveira, 42 anos, preso em flagrante. O homem comprava os pés de erva-mate de propriedades rurais do Oeste, fazia o corte e revendia o produto para ervateiras.

Segundo o delegado Rogério Taques, Oliveira foi preso por crime de redução das pessoas à condição análoga à de escravo, previsto no artigo 149 do Código Penal. Se condenado, a pena é de multa e detenção, que varia de dois a oito anos. A presença de menores é um agravante que aumenta a pena em 50%.

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