Para ruralistas, crimes ambientais e trabalho escravo não são crimes

 15/05/2010

É de se estarrecer, mas é exatamente assim – e sem nenhum exagero – que pensam os políticos da bancada ruralista, a chamada "bancada da motoserra". Para eles, cortar árvores, fazer queimadas, agredir o meio ambiente e praticar o trabalho escravo, são atividades comuns na agricultura, pecuária e agronegócio e essas práticas não deveriam ser encaradas como "crimes".

Volta à votação hoje [05/05], o esperado "Projeto Ficha Limpa", ontem [04/05] aprovado por 388 votos a um, na Câmara, mas já bastante descaracterizado. E só foi aprovado porque estamos em ano eleitoral, há pressão popular sobre o projeto e porque os políticos sabiam que a votação de nada valeria, pois foram apresentados vários "destaques" que obrigariam, como de fato obrigaram, a uma nova votação, prevista para hoje [05/05] (será?).

Agora pasmem senhores, pasmem! Dentre s destaques apresentados figura o da bancada ruralista, que pretende retirar do projeto o impedimento de candidaturas por condenação por "crimes ambientais" e "prática de trabalho escravo", coisas que eles e/ou os que eles representam mais fazem em suas atividades rotineiras. Na visão deles, políticos processados ou mesmo condenados por tais crimes poderiam, sim, ser candidatos, por não serem os crimes graves (na visão deles) e nem ligados à corrupção. Acham tais práticas tão naturais e necessárias, que já querem que a sociedade as aceite como "normais", feitas em nome do "desenvolvimento". Pode?

Mas esse não é o perigo maior, pois ficou claro que o projeto "ficha limpa" não vai dar em nada mesmo. E se surgir alguma coisa de aproveitável, mínima que seja, será para vigorar somente nas próximas eleições. Tudo o que os políticos desejam, neste momento, é dar uma satisfação à sociedade, calar a pressão popular e darem a impressão de que "moralizaram o processo eleitoral", livrando-se de um abacaxi. O perigo maior é que esses mesmos ilustres representantes do povo terão já, já, uma missão bem maior: votar o texto definitivo do projeto de lei do "Novo Código Florestal Brasileiro". Com essa mentalidade, como irão se comportar? Trabalharão a favor de quem, se defendem os interesses dos ruralistas e são eles próprios, em sua maioria, ruralistas?

por Ivo S. G. Reis

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