Frigoríficos deixam de comprar gado de terras indígenas e unidades de conservação

 20/07/2010

No aniversário de um ano do lançamento do relatório A Farra do Boi, do Greenpeace, que denunciou que a pecuária ilegal estava destruindo a floresta amazônica, os três maiores frigoríficos do Brasil – JBS/Bertin, Marfrig e Minerva – anunciaram na última semana que deixaram de comprar gado de 221 fazendas localizadas dentro de terras indígenas, unidades de conservação ou em áreas recém-desmatadas na Amazônia.

Além disso, outras 1.787 propriedades, num raio de até 10 quilômetros de novos desmatamentos, unidades de conservação e terras indígenas, passam por averiguação. As empresas declararam ter o ponto georreferenciado de mais de 12.500 fazendas, número que, segundo elas, representa 100% da cadeia de fornecedores diretos da região.

Os resultados entregues, nove meses após a assinatura de acordo entre os frigoríficos e o Greenpeace (assinado em outubro do ano passado), correspondem à primeira etapa do compromisso assumido pelas empresas-líderes do setor da pecuária com desmatamento zero na Amazônia: cadastrar e mapear todas as fazendas de seus fornecedores diretos, para não comprarem mais gado proveniente de áreas recém-desmatadas na região, de terras indígenas e áreas protegidas.

De acordo com diretor da organização Amigos da Terra – Amazônia Brasileira Roberto Smeraldi, "os avanços em conhecer as respectivas cadeias e excluir alguns fornecedores representam investimentos em competitividade por parte dessas empresas, de baixo custo e alto retorno. Mas para isso funcionar no médio e longo prazo, elas terão de avançar na qualificação da política de compra perante suas cadeias, um desafio mais complexo, igualmente rentável, que porém requer mais investimento."

Segundo Smeraldi, autor de dois relatórios sobre a pecuária na Amazônia, A Hora da Conta e Reino do Gado , "mais uma vez, Greenpeace se demonstrou catalisador decisivo para dar o start neste processo."

Para Paulo Adário, diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace, "as empresas precisam agora ampliar e consolidar esse trabalho, realizando auditorias nos processos, garantindo transparência e confiabilidade aos dados e convencendo seus fornecedores a disponibilizarem mapas com os limites georreferenciados das propriedades".

Detalhes sobre os dados, como a localização das fazendas excluídas e suspensas e os procedimentos adotados encontram-se à disposição nas empresas.

Cadeia produtiva

O monitoramento da cadeia produtiva é essencial para que clientes e consumidores de produtos bovinos não contribuam indiretamente para a destruição da maior floresta tropical do mundo. No entanto, para que esse processo ocorra de forma eficaz e transparente, é indispensável a realização do Cadastro Ambiental Rural (CAR) das propriedades, ferramenta que possibilita monitorar por satélite e identificar com segurança todos os fornecedores – tanto os que produzem sem desmatar quanto os que desmataram a floresta após outubro de 2009.

No Mato Grosso, detentor do maior rebanho do País, menos de 5% das fazendas estão cadastradas no sistema de licenciamento ambiental do governo do Estado. A exigência do cadastro é lei e tem prazo para ser cumprida: novembro deste ano.

No Pará, o número de fazendas registradas junto ao CAR saltou, em menos de um ano, de cerca de 300 para 19 mil propriedades inscritas, devido às pressões exercidas por consumidores e pela atuação do Ministério Público Federal, que moveu ações obrigando parte da cadeia a realizar o cadastramento. Porém, esse número ainda representa apenas 9% do total de propriedades do Estado.

Os frigoríficos JBS/Bertin, Marfrig e Minerva responderam, em 2009, por 36% do abate feito na Amazônia Legal. O restante vem de pequenos, médios e grandes frigoríficos que até agora não assumiram compromisso com o desmatamento zero e vendem seus produtos para os consumidores, por meio de supermercados que ainda não limparam suas prateleiras de passivos ambientais e sociais.

 

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