Nordestinos trabalham em condições precárias na Arena Grêmio; obra é parcialmente interditada

 01/03/2011

Os 350 operários que vieram do nordeste do Brasil para construir a nova Arena do Grêmio, em Porto Alegre, estão vivendo em péssimas condições de trabalho e higiene. Em greve desde a última quinta-feira, supostamente por ganharem menos do que o prometido e não poderem visitar seus familiares no período estipulado, os trabalhadores enfrentam problemas bem maiores. Até agora, poucos tiveram a carteira assinada. No canteiro de obras, onde, segundo a legislação vigente, deveria haver um banheiro para cada 20 homens, existem apenas 3 sanitários. E no alojamento mais próximo, a insalubridade é total.

Devido às condições em que se encontravam os trabalhadores, parte do canteiro de obras foi interditado no fim da tarde desta terça-feira (1º), segundo informou a este blog Gelson Santana, secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Porto Alegre (STICC/POA). Segundo o sindicalista, a área de vivência, que inclui os banheiros, refeitório, chuveiros e alojamentos foi o algo da interdição. Ainda segundo Santana, devido à greve dos trabalhadores, os fiscais do trabalho não puderam verificar as condições efetivas de trabalho dos operários.

Na manhã de terça-feira (1º), enquanto os operários e representantes do STICC/POA aguardavam alguma informação da construtora OAS, o blog visitou, na companhia de fiscais do Ministério do Trabalho, o alojamento onde vivem 45 homens. E o que encontramos lembra, em muito, as piores prisões brasileiras. Na casa de dois andares, há quartos sem janelas, fios de eletricidade expostos e banheiros sem água quente. Ao meio-dia, a refeição chegou fria. E, na falta de mesa e cadeiras, os trabalhadores comeram em seus beliches – ou em pé.

Até o fechamento o meio da tarde, os auditores do Ministério do Trabalho continuavam reunidos no escritório da construtora OAS, dentro do canteiro de obras. Por volta do meio-dia, o sindicato solicitou à segurança da empresa que atendesse três homens que passavam mal em frente ao portão, apresentando febre e dor de cabeça – um deles procurou a Santa Casa de Porto Alegre no dia anterior, mas não teve dinheiro para comprar os remédios.

Somente cinquenta minutos depois, assim que chegaram os fiscais do Trabalho, a OAS enviou uma caminhonete para levar os trabalhadores doentes ao ambulatório. Abordado pelo fiscal, o funcionário da OAS não quis se identificar e pediu ao motorista que arrancasse o carro. Atentos à conversa, os operários conseguiram sair rapidamente da frente do veículo e não se feriram.

"Os trabalhadores estão passando por maus tratos", declarou Dercírio Cardoso Silva Jr., do STICC/POA. Às 16h, chegou ao local Vicente Martins, da direção da Grêmio Empreendimentos. Depois de ver as condições precárias dos trabalhadores, o executivo entrou na reunião entre OAS e Ministério do Trabalho.

Procurados por este blog nesta terça-feira, a empresa OAS, responsável pela obra, e o SITICEPOT / RS (Sindicato Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada do Rio Grande do Sul), que vem tratando da greve junto à construtora, não atenderam aos telefonemas da reportagem.

Clique aqui e veja o vídeo com o depoimento do operário Genário de Jesus 

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