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Em flagrante inédito, cortadores de acácia são resgatados

Trabalhadores eram explorados criminosamente na extração de cascas da árvore para a produção de tanino. Dois dos cinco libertados em área no município de São Jerônimo (RS) são jovens com apenas 17 anos de idade

Pela primeira vez, o grupo móvel de fiscalização flagrou pessoas submetidas à escravidão contemporânea que trabalhavam na extração de cascas de acácia para a fabricação de tanino. O tanino é utilizado em curtumes, na composição de tintas e também na indústria farmacêutica. 

Foram libertados cinco trabalhadores, incluindo dois jovens com 17 anos de idade, que estavam sendo explorados no distrito de Morrinho, no município de São Jerônimo (RS). A operação teve início no dia 13 e terminou em 18 de julho, com o pagamento das verbas rescisórias.

No "alojamento" oferecido, não havia água potável
nem sanitários em funcionamento (Foto: MTE)

Os resgatados, que estavam no local há 15 dias, foram encontrados em condições degradantes. Não havia fornecimento de água potável. A casa na qual as vítimas estavam alojadas não tinha instalações sanitárias em funcionamento. 

O empregador não fornecia camas, colchões e roupas de cama. Os empregados dormiam, portanto, sobre pedaços improvisados de espumas, diretamente no chão. A água e as refeições consumidas eram providenciadas pelos próprios trabalhadores. O pagamento era feito de acordo com a produção.

Para cozinhar, os trabalhadores improvisaram um fogão a lenha, que enchia de fumaça a casa precária onde viviam. Ao lado da comida, a fiscalização se deparou com motosserra usada na derrubada das árvores.

Os trabalhadores eram oriundos de Montenegro (RS) – outro município do interior gaúcho. Junto com outras cinco pessoas que vinham diariamente de Butiá (RS), retiravam a casca de acácia em local de difícil acesso. 

A fiscalização, que contou com as habituais participações de integrantes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e do Ministério Público do Trabalho (MPT), não se encerrou. Agentes públicos pretendem também desvendar a destinação final do tanino extraído a partir do corte e extração da casca de madeira de acácia negra em floresta plantada.

Alimentos eram preparados em fogão a lenha improvisado, do lado de motosserra (Foto: MTE)

"Ainda está sendo investigada a cadeia produtiva nesse setor. É certo que existem empresas de grande porte no Estado que se aproveitam da madeira e da casca da árvore de acácia oriundas de trabalho em condições degradantes", explica Alexandre Lyra, auditor fiscal e sub-coordenador da operação.

O objetivo da investigação é responsabilizar não só os pequenos produtores, mas também quem se benefícia do que foi produzido com trabalho escravo.

Desde 2002, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande do Sul (SRTE/RS) e o MPT monitoram o setor. Contudo, nenhum Termo de Ajustamento de Contuda (TAC) havia sido firmado até hoje com as indústrias que compram a produção ligada à escravidão.

"Anteriormente, foram feitas apenas autuações. Nunca houve flagrante de trabalho escravo e libertação de trabalhadores no setor", conta Alexandre. A partir do flagrante, o grupo móvel conseguiu emplacar de reuniões com algumas das maiores empresas do setor. "O objetivo é conseguir uma mudanças estrutural no setor, partindo das grande empresas". 

O empregador Laurélio Rogemar Kochenborger pagou mais de R$ 14 mil em direitos trabalhistas e mais de R$ 14 mil em danos morais aos resgatados. Foram lavrados, ao todo, 14 autos de infração.

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9 Comentários

  1. tanir lopes

    Eu não entendo porquê a polícia não vai junto para prender em flagrante esses exploradores.

  2. Maria do Carmo lopes Lima

    Parabens pelo trabalho no resgate.Mas acho que o governo federal precisar ser mais energico com as puniçõrs. POr favor divulguem quais são empresas que usam tanino. Se as pessoas não comprarem seus produtos, elas mudaram de atitude.

  3. Luciana

    Enquanto o governo não decidir que o país que é 7a economia do mundo, deve acabar com a exploração de pobres por ganância de alguns, estes fatos continuarão ocorrendo.Parece que há uma anestesia com relação a este fato gravíssimo de violação de direitos humanos.É o confronto do capitalismo com a democracia e com o Estado Democratico de Direito. Quem lucra e porque lucra com o trabalho escravo.É desumanidade.Em, quem acreditar?

  4. Sthéphani

    Os responsáveis nunca estão no local do flagrante.

  5. Claudemir Lopes Bozzi

    A CF/88 prima pela dignidade da pessoa humana e pela valorização do trabalhi digno e decente! Pergunta-se: até quando conviveremos com esta violação da Carta Magna?

  6. Clovis

    O ministério do Trabalhoque tem por obrigação constitucional fiscalizar as condições ambientais de trabalho. Mas tornou-se um ministério eminentemente propagandistico do governo atual, nas mãos do PDT e o Lupi, é o garoto propaganda.

  7. jordoni

    Acho que mão humana não deve . existe maquinas para isso

  8. william kochenborger

    isso e mentira era meu pai o LAURELIO KOCHENBORGER , e foi isso q levou a morte dele e esses cara da pilicia nao vao tirar o nome dele. mesmo depois de morto ele continua sendo visto como um mentiroso……..

  9. william kochenborger

    so pra vcs saberem o LAURELIO ROGEMAR KOCHENBORGER e meu pai e ele ja faleceu e voces nao tirarao o nome dele dai e ele nao e CRIMINOSO.. ENTENDERAO….